Lula deve anunciar a sindicalistas aumento real no salário mínimo e revogação de reforma trabalhista

O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve se reunir na manhã desta quinta (01/12), em Brasília, com dirigentes de centrais sindicais, com o intuito de definir o enterro de duas propostas nefastas do governo Jair Bolsonaro (PL), que retiram direitos e arrocham o rendimento de trabalhadores e trabalhadoras da iniciativa privada e dos servidores públicos, além de debaterem pontos a serem revogados da reforma trabalhista.

No mês passado, o Grupo Técnico de Trabalho para a transição do governo Lula nomeou os seguintes líderes sindicais:

• Adilson Ara újo;
• André Calistre;
• Clemente Lúcio;
• Fausto Augusto Junior;
• Laís Abramo;
• Miguel Torres;
• Patrícia Vieira Trópia;
• Ricardo Patah;
• Sandra Brandão;
• Sergio Nobre.

Os sindicalistas ainda devem formar subgrupos de trabalho nos estados para acompanhar os diagnósticos da transição, bem como implementar sua agenda explicitada em recente nota divulgada [abaixo, leia a íntegra].

Na reunião com Lula, os sindicalistas irão debater as formas pelas quais esses projetos do governo Bolsonaro devem ser enterrados pela equipe de transição de Lula juntamente com o relator do Orçamento da União de 2023, proposto pelo atual governo, senador Marcelo Castro (PI).

A Carteira Verde e Amarela, proposta que caducou no Congresso Nacional, mas que o ministro da Economia, Paulo Guedes, tenta ainda reeditar, precariza ainda mais as relações de trabalho, retira direitos e renda do trabalhador.

Economia

De acordo com o coordenador-geral da Confederação Nacional dos Servidores Públicos (Condsef) Sérgio Ronaldo da Silva, o futuro governo Lula deve enviar um expediente ao Congresso Nacional pedindo a paralisação das votações dos temas em que não há consenso entre deputados e senadores, que são os casos da reforma Administrativa e da Carteira Verde e Amarela.

O dirigente esteve reunido na terça-feira (29), em Brasília com o deputado Rogério Correa (PT-MG), o assessor do Fórum das Centrais, Clemente Ganz Lúcio (integrantes da equipe de transição), e o relator do Orçamento, senador Marcelo Castro (MDB-PI) debatendo a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 32, da reforma Administrativa.

“Lula já se posicionou contra a reforma que está adormecida, mas temos de discutir o que vai ser feito com ela, já que a PEC foi aprovada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e na Comissão Especial da Câmara Federal e ela não pode ser simplesmente arquivada por um ato monocrático do presidente da Casa, Arhur Lira [PP-AL]. Ainda vamos discutir que instrumento jurídico será feito para retirar a PEC da pauta e enterrar de vez a proposta que acaba com o funcionalismo público”, conta Sérgio Ronaldo.

Ainda de acordo com dirigente, logo após o segundo turno das eleições presidenciais, que deu vitória a Lula, ficou definido entre os líderes dos partidos no Congresso que até o final da atual legislatura, em janeiro de 2023, só entrarão na pauta de votação as matérias que tenham consenso dos parlamentares.

A retirada da PEC 32 da pauta de votação no Congresso Nacional só poderá ocorrer após Lula assumir a presidência e até lá os servidores públicos planejam como conseguir a aprovação de sua pauta de reivindicação.

“Queremos resgatar a força de trabalho do servidor público, formas que garantam a reestruturação e valorização do funcionalismo para que nós possamos atender a população da forma que ela merece, com qualidade e presteza”, diz Sérgio Ronaldo.

Na manhã de hoje, Lula mostrou como está seu ânimo acerca dos interesses dos trabalhadores e da população brasileira:

“O desmonte promovido pelo atual governo deixou como herança uma fila de 5 milhões de pessoas esperando análise do INSS. Teremos muito trabalho pela frente e temos um compromisso com o povo brasileiro. Vamos juntos atuar para garantir direitos e dignidade para a população”, disse o presidente eleito.

Correção dos salários do funcionalismo

A categoria perdeu nos quatro anos de governo Bolsonaro mais de 27% do poder de compra, maior do que a dos trabalhadores da iniciativa privada. Desde o golpe 2017 que os servidores não recebem um centavo de reajuste em seus contracheques.

“A ideia é abrirmos uma mesa de negociação e diálogo com as entidades do serviço público e o novo governo para acabar com as canetadas e PECs que destroem a categoria”, afirma o secretário-geral da Condsef.

O reajuste salarial da categoria para 2023 depende da forma que for aprovada a PEC da Transição, que deve deixar de fora do teto de gastos públicos, as verbas para a recriação do Bolsa Família de R$ 600 e mais R$ 150 para crianças de até seis anos de idade e o aumento do salário mínimo acima da inflação.

A proposta no total de R$ 198 bilhões, permite R$ 175 bilhões para o Bolsa Família e outros R$ 23 bilhões restantes, obtidos por meio do excesso de arrecadação em tributos, devem ser usados exclusivamente em investimentos. De acordo com o texto, a receita extra do ano pode ser usada para incrementar investimentos fora do teto.

Para que as regras possam valer a partir de janeiro, a PEC da Transição precisaria ser aprovada no Senado e na Câmara dos Deputados antes do projeto de lei orçamentária anual (PLN 32/2022), que deve ser votado pelo Congresso Nacional até 16 de dezembro.

Como exclui do teto de gastos todas as despesas do Poder Executivo com o Bolsa Família, a expectativa é de que a PEC da Transição abra um espaço de até R$ 105 bilhões na proposta orçamentária de 2023. O dinheiro seria usado para recompor as dotações de ações consideradas subfinanciados no PLN 32/2022. É o caso do Farmácia Popular e do reajuste do salário mínimo.

É deste espaço de R$ 105 bilhões que os servidores públicos esperam que saiam os recursos para um reajuste salarial da categoria.  Pelas contas do secretário-geral do Condsef sobram R$ 11,4 bilhões para o funcionalismo, que são insuficientes para repor as perdas salariais, mas podem dar um alívio até a definição do orçamento de 2024.

“Tem muita gente discutindo e precisando desse dinheiro, mas nós queremos uma parte já a partir do ano que vem e preparar uma discussão para 2024 em melhores condições”, afirma Sérgio Ronaldo.

Tramitação da PEC da Transição

A PEC da Transição, que exclui do teto de gastos por quatro alcançou 28 assinaturas na terça-feira (29) e deve seguir para análise da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), segundo a Agência Senado. O Regimento Interno do Senado exige o apoio de 27 parlamentares para a tramitação de PECs.

O presidente da CCJ, senador Davi Alcolumbre (União-AP), deve indicar um relator para a PEC 32/2022. A matéria será inicialmente votada na comissão e, em seguida, irá ao Plenário do Senado, onde precisa ser submetida a dois turnos de votação. Para ser considerado aprovado, o texto depende do aval de três quintos da composição da Casa, um total de 49 votos favoráveis em cada etapa de apreciação.

A PEC de Transição também deixa fora do teto receitas próprias de universidades, obtidas por meio de convênios e doações, por exemplo. De acordo com a proposta, o mesmo acontece com projetos socioambientais ou relativos às mudanças climáticas custeadas por doações.

NOTA DAS CENTRAIS SINDICAIS DE APOIO A PEC DA RESPONSABILIDADE SOCIAL E A VALORIZAÇÃO DO SALÁRIO MÍNIMO

As Centrais Sindicais reunidas no dia 25 de novembro de 2022, em São Paulo, declaram seu apoio a aprovação urgente da PEC (Projeto de Emenda Constitucional) da Responsabilidade Social e à retomada da Política de Valorização do Salário Mínimo. Propomos que o valor do salário mínimo em 2023 seja de R$ 1.342,00, considerando a estimativa da inflação de 2022 somado ao PIB de 2021.

Não concordamos com o falso debate instituído em torno da PEC sobre a responsabilidade fiscal versus a responsabilidade social. A responsabilidade fiscal não pode ser às custas dos trabalhadores e trabalhadoras, da população mais pobre, nem tão pouco dos investimentos necessários para reconstrução do país. Ao contrário, as medidas previstas na PEC contribuem para a retomada do crescimento econômico nacional.

A aprovaçãodaPEC liberarecursos paraprogramas queatualmenteestãopraticamente zerados no orçamento de 2023, como: farmácia popular, merenda escolar, programa Minha Casa, Minha Vida e o aumento real do Salário Mínimo.

A Política de Valorização do Salário Mínimo que vigorou entre 2007 a 2019, instituída a partir de negociação com omovimento sindical brasileiro, tem um enormealcance como política pública, atingindo cerca de 60 milhões de pessoas entre assalariados, servidores, beneficiários da Previdência e de outros beneficiários de políticas sociais.

A elevação do piso nacional contribuiu para reduzir as desigualdades salariais entre homens e mulheres, negros e não negros, entre regiões, com impacto positivo sobre os reajustes dos pisos salariais das diversas categorias de trabalhadores e de aposentados e pensionistas. Junto com o Bolsa Família, é reconhecida como um dos fatores mais importantes para o aumento da renda da população mais pobre e por induzir a ampliação do mercado consumidor interno, fortalecendo a economia brasileira. A política estabeleceu, ao mesmo tempo, uma regra permanente e previsível, promovendo uma recuperação gradativa.

O ano de 2022 foi marcado por forte carestia que resultou em perda do poder de compra da classe trabalhadora, aumento da insegurança alimentar e aumento da inadimplência do orçamento das famílias. A recomposição da renda da classe trabalhadora é condição fundamental para a retomada do crescimento econômico com justiça social.

Por esses motivos, as Centrais Sindicais defendem o reajuste do salário mínimo em 2023, com aumento real e o estabelecimento de uma mesa de negociação para construir uma nova política de valorização permanente do salário para os próximos anos.

As Centrais Sindicais conclamam osparlamentares asesomarem najustalutadaclasse trabalhadora e de todo povo brasileiro, aprovando a PEC da responsabilidade social.

São Paulo, 25 de novembro de 2022.

  • Sergio Nobre, Presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores) Miguel Torres, Presidente da Força Sindical
  • Ricardo Patah, Presidente da UGT (União Geral dos Trabalhadores)
  • Adilson Araújo, Presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil)
  • Moacyr Roberto Tesch Auersvald, Presidente da NCST (Nova Central Sindical de Trabalhadores)
  • Antônio Neto, Presidente da CSB (Central dos Sindicatos Brasileiros) José Gozze, Presidente da Pública Central do Servidor

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