Os Estados Unidos se tornaram viciados em comida industrializada, os ultraprocessados, e esse modelo se espalhou pelo mundo.
O que começou como inovação militar para alimentar soldados virou um império de produtos baratos e viciantes, que hoje domina 70% da mesa dos americanos e ameaça a saúde pública mundial.
Desde o fim do século XIX, empresas como Coca-Cola, Kraft e Kellogg’s transformaram o hábito alimentar dos Estados Unidos. O marketing agressivo e o avanço tecnológico criaram uma geração dependente de alimentos prontos, doces, salgadinhos e refrigerantes.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o desenvolvimento de rações de fácil transporte, queijos em pó, batatas desidratadas, carnes enlatadas, mudou a forma de produzir e conservar alimentos. Terminada a guerra, a indústria percebeu o potencial de transformar a comida de trincheira em produto de massa.
Nos anos 1950, a ascensão das mulheres no mercado de trabalho e a vida nos subúrbios impulsionaram a cultura do “jantar rápido”. Geladeiras modernas, TV dinners e comerciais coloridos venderam a ideia de que conveniência era sinônimo de progresso.
A partir da década de 1970, a expansão agrícola e os subsídios federais geraram excesso de milho e trigo. Desses grãos, nasceram ingredientes como xarope de milho e óleos vegetais, base da comida ultraprocessada que inundou o mercado.
Enquanto a televisão virava o centro das casas, personagens como Tony, o Tigre e Fred Flintstone ajudavam a transformar o café da manhã em ritual de açúcar. Tentativas de limitar a publicidade infantil foram barradas pelo lobby das grandes corporações.
Nos anos 1980 e 1990, conglomerados como Philip Morris e R.J. Reynolds aplicaram no setor alimentício as mesmas táticas de manipulação usadas para vender cigarros. O resultado: uma geração condicionada a consumir snacks [lanches], refrigerantes e produtos “fat-free” [sem gordura] que agravaram a crise de obesidade.
No século XXI, o quadro se agravou. Mesmo com campanhas como as de Michael Bloomberg e Michelle Obama, 36% dos adultos e 17% das crianças americanas já estavam obesos em 2010. Pesquisas apontam que os ultraprocessados não apenas engordam, mas alteram o sistema nervoso e o comportamento alimentar.
Em 2025, o secretário de Saúde Robert F. Kennedy Jr. classificou esses produtos como “veneno”. Estudos da USP e da FDA mostram que o consumo está ligado a diabetes, doenças cardíacas e declínio cognitivo.
Especialistas alertam: o vício em ultraprocessados levou décadas para se formar e levará outras tantas para ser revertido.
Portanto, a história dos ultraprocessados é também a história de como a conveniência virou armadilha. Se o século XX foi o da comida rápida, o XXI precisa ser o da recuperação da comida real.
A chef Tania Cordeiro, de Curitiba, mantém perfis no YouTube, TikTok e Instagram, onde ensina receitas de gostosuras e valoriza a comida de verdade. Professora por formação e cozinheira por paixão, Tania resume sua trajetória culinária com simplicidade: “Eu amo cozinhar!”
Aqui está uma das receitas da chef Tania:
Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.