Donald Trump ordenou o bloqueio de petroleiros sancionados que entram e saem da Venezuela, ampliando a pressão militar e econômica contra o governo de Nicolás Maduro. A medida, anunciada nas redes sociais pelo presidente dos Estados Unidos, eleva a tensão no Caribe, mas ainda deixa dúvidas sobre o alcance real, a base legal e o impacto imediato no mercado global de petróleo.
Trump afirmou ter imposto um “bloqueio total” a navios petroleiros sancionados ligados à Venezuela. Na prática, o anúncio indica a intensificação da aplicação de sanções já existentes, com ameaça de apreensão de embarcações suspeitas de transportar petróleo venezuelano, sobretudo aquelas com histórico de comércio com o Irã.
Especialistas em direito internacional observam que um bloqueio, em sentido estrito, pressupõe conflito armado e interdição total de portos. Ao restringir o foco a “petroleiros sancionados”, a Casa Branca sinaliza uma operação seletiva, ainda que suficientemente intimidatória para afastar seguradoras, armadores e tradings do negócio venezuelano.
Nos últimos meses, os Estados Unidos reforçaram sua presença naval no Caribe. Desde setembro, ataques a embarcações na região e no Pacífico oriental deixaram ao menos 95 mortos em 25 operações, segundo dados citados por autoridades americanas. Washington justifica as ações como combate ao narcotráfico.
Juristas e organizações de direitos humanos questionam a legalidade dessas operações e alertam para mortes de civis. A Venezuela não é produtora de cocaína, e grande parte da droga que transita por seu território segue para a Europa, não para os EUA.
A economia venezuelana depende quase integralmente das exportações de petróleo, feitas por via marítima. Mais de 30 navios que operavam no país já estavam sob sanções americanas no início do mês, de acordo com serviços independentes de rastreamento.
Na semana passada, os EUA apreenderam um petroleiro no Caribe que transportava petróleo venezuelano destinado a Cuba e à China. A apreensão foi autorizada por um juiz federal com base no histórico do navio de transporte de petróleo iraniano.
Trump declarou que pretende reter o petróleo apreendido, sem esclarecer o fundamento jurídico da decisão. Desde 2019, ele defende abertamente que os EUA “tomem” o petróleo venezuelano como forma de pressionar Maduro.
Cerca de 80% do petróleo da Venezuela é comprado por empresas privadas chinesas. O restante segue para países como Cuba, que consome parte do volume e revende a maior fatia para a própria China. Qualquer interrupção relevante nesse fluxo tende a afetar diretamente Pequim e pode elevar a tensão geopolítica além da América Latina.
A Chevron, única grande petroleira americana ainda em operação na Venezuela, afirmou que suas atividades continuam normalmente. A empresa opera sob licença especial do governo dos EUA e produz cerca de 240 mil barris por dia, mais de um quinto da produção venezuelana.
Segundo a companhia, o bloqueio não atinge suas operações, que seguem em conformidade com as sanções americanas. Ainda assim, dados internos da estatal PDVSA mostram que mudanças recentes no acordo permitiram que intermediários ligados ao entorno de Maduro lucrassem com a venda do petróleo recebido como pagamento em espécie.
O bloqueio anunciado expõe uma contradição da estratégia de Trump. De um lado, o discurso de estrangulamento financeiro do regime Maduro. De outro, a manutenção da Chevron no país, vista pela Casa Branca como forma de preservar a presença americana em um território com as maiores reservas de petróleo do mundo.
O governo também designou o chamado Cartel de los Soles como organização terrorista, termo usado na Venezuela para se referir a militares acusados de envolvimento com o narcotráfico. Até agora, nenhum petroleiro foi apreendido com base direta nessa classificação.
Mesmo sem configurar um bloqueio total, a simples ameaça de apreensões tende a reduzir drasticamente o transporte do petróleo venezuelano, elevar custos e aprofundar o isolamento econômico do país. O efeito colateral pode ser o agravamento da crise social interna e o aumento da disputa entre Estados Unidos, China e aliados regionais.
Trump aposta na força naval e no petróleo como instrumentos centrais para dobrar Caracas. O movimento aumenta a tensão internacional, levanta questionamentos legais e pode redesenhar o xadrez energético no Caribe. Resta saber até onde Washington está disposto a ir e qual será a reação de Maduro, da China e dos demais atores globais.
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Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.




