O ministro da Saúde, Alexandre Padilha (PT-SP), recebeu visto para participar da Assembleia-Geral da ONU, mas terá a circulação limitada em Nova York a cinco quarteirões do hotel e ao trajeto para reuniões oficiais.
A decisão do governo Donald Trump agrava o atrito diplomático entre Brasil e Estados Unidos.
As restrições atingem também familiares que o acompanharem.
O Itamaraty foi comunicado de que Padilha só poderá se deslocar entre o hotel, a sede da ONU, a missão diplomática brasileira e a residência do embaixador.
A justificativa americana remete ao programa Mais Médicos, criado no governo Dilma Rousseff, apontado por Trump como motivo para restringir a concessão de vistos.
Em agosto, o governo Lula havia solicitado autorização para que Padilha participasse de eventos internacionais, como a reunião da Organização Pan-Americana de Saúde, marcada para 29 de setembro em Washington, e a cúpula da ONU, que começa no dia 23 em Nova York.
Apesar do tratado de 1947 obrigar os EUA a permitirem o trânsito de autoridades da ONU, Trump aplica sanções semelhantes às impostas contra representantes de países como Irã, Venezuela e Coreia do Norte.
As medidas refletem a tensão provocada pelo julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Aliado de Bolsonaro, Trump chamou o processo de “caça às bruxas” e retaliou o Brasil com tarifaço de 50%, suspensão de vistos e punições contra ministros do STF, como Alexandre de Moraes, enquadrado pela Lei Magnitsky.
Enquanto Fernando Haddad (Fazenda) e Ricardo Lewandowski (Justiça) conseguiram vistos especiais para agendas oficiais, Padilha terá de atuar no “cercadinho diplomático” imposto pelos EUA.
Até Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina, teve sua entrada barrada pela administração Trump neste ano, sinalizando o uso político do credenciamento para a ONU.
Ao restringir a circulação de Padilha, Trump fere o espírito do tratado da ONU e transforma a Assembleia-Geral num campo de batalha ideológico.
O gesto, em plena tensão sobre Bolsonaro, mostra que a diplomacia americana virou extensão da política interna trumpista.
Resta ao Brasil denunciar o abuso e defender a soberania de sua representação internacional.
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Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.
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