O presidente da Argentina, Javier Milei, em uma recente entrevista no rádio, reiterou sua decisão de não assinar um decreto para a atualização do salário mínimo, vital e móvel. De maneira enfática, Milei destacou que essa é uma questão a ser abordada entre trabalhadores e empregadores, rejeitando a ideia de que o Estado possa determinar o valor do salário mínimo.
O salário mínimo, vital e móvel na Argentina é um pagamento que serve de referência para cerca de 300 mil trabalhadores informais ou que não estão abrangidos por um acordo coletivo de trabalho. O valor também é uma referência importante para os auxílios sociais.
Ao ser questionado sobre a possibilidade de fixar por decreto um novo salário mínimo, Milei foi categórico: “Eu vou emitir um decreto fixando um preço? Não me ocorre”. Essa postura levanta questionamentos sobre a abordagem do presidente em relação às políticas salariais e ao papel do governo na regulação econômica.
Milei reforçou a visão de que a paritária docente é um tema que depende de cada província, desconsiderando a convocação para uma negociação nacional. Além disso, anunciou a entrega de vouchers para materiais escolares e apoio financeiro para o pagamento das mensalidades em escolas privadas. Essa abordagem descentralizada pode impactar o setor educacional e levanta questões sobre a igualdade de condições em todo o país.
Em 2019, a Argentina instalou uma estrutura com a forma de uma escola pública em frente ao Congresso da Nação. O objetivo era exigir do governo a abertura urgente da Paritária Nacional Docente e uma nova lei de financiamento educativo.
Sobre a economia, Milei afirmou que a inflação está em queda, prevendo um índice de cerca de 10% nas duas primeiras semanas de fevereiro. Citando projeções do FMI, ele aponta que o período mais difícil será entre março e abril, com a expectativa de uma recuperação posterior. Contudo, essas previsões levantam dúvidas sobre a sustentabilidade e as medidas necessárias para manter essa trajetória.
Milei ratificou a intenção de eliminar os fundos fiduciários e combater as chamadas “cajas de la política”. Essa postura confrontadora, segundo ele, visa governar de frente para a população, mas levanta a questão de como tais medidas podem impactar setores específicos e se são realmente eficazes no combate à corrupção.
Sobre sua relação com Mauricio Macri, Milei destacou um diálogo genuíno e expressou a intenção de convergência entre La Libertad Avanza e o PRO. Quanto ao uso intensivo do Twitter, Milei defendeu sua postura, questionando quem é afetado pelo exercício de seu direito à livre expressão nas redes sociais.
Milei retomou sua proposta de permitir a entrada de capitais privados nos clubes de futebol, destacando a liberdade de escolha. Essa medida, segundo ele, poderia resultar em uma liga mais profissionalizada e competitiva, mas levanta dúvidas sobre os impactos no caráter tradicional e cooperativista dos clubes.
Por fim, Milei compartilhou sua tentativa de convidar o Papa para uma visita, revelando que, apesar de uma conversa positiva, não obteve uma resposta clara. Essa situação levanta questões sobre as relações diplomáticas e as expectativas em torno de encontros entre líderes políticos e religiosos.
Esse posicionamento de Javier Milei, de negar aumento salarial e se recusar a tender os professores, mostra a disposição de seu governo de aprofundar o arrocho no poder de compra dos argentinos e precarizar o setor educacional, outra orgulho nacional. O mandatário parecer estar embecido pelo fetiche neoliberal, a exemplo de seu parceiro Jair Bolsonaro enquanto esteve à frente do governo brasileiro.
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Jornalista e Advogado. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.