O “Efeito Luizão” virou pesadelo de quem vai enfrentar as urnas em 2026. Deputados federais e estaduais, sejam novatos ou veteranos, estão refazendo contas e traçando estratégias desesperadas para escapar da degola do quociente eleitoral, aquele número mínimo de votos que um partido precisa para garantir uma cadeira no Parlamento.
A expressão surgiu no Paraná, nos bastidores da política, quando o então deputado federal Luizão Goulart, mesmo recebendo expressivos 96.543 votos em 2022, ficou de fora da Câmara dos Deputados. O motivo? Seu partido na época, o Solidariedade, não alcançou o quociente eleitoral. Ou seja: voto pessoal não bastou. Faltaram votos de legenda.
Esse fantasma volta a assombrar a política brasileira na reta para as eleições gerais de 2026. E promete ser mais cruel do que nunca.
A matemática cruel do sistema proporcional
O sistema eleitoral vigente exige que os partidos atinjam o chamado quociente eleitoral para ter direito a vagas no Legislativo. Com base nos votos válidos de 2022, o Blog do Esmael recalculou essa linha de corte. Veja alguns números:
- São Paulo: 332.736 votos
- Minas Gerais: 211.340 votos
- Rio de Janeiro: 188.413 votos
- Paraná: 204.315 votos
- Distrito Federal: 200.940 votos
Ou seja, partidos que não atingirem esses patamares simplesmente não elegerão ninguém. Nem que o candidato seja um campeão de votos. O sistema não perdoa.
Luizão virou símbolo do alerta vermelho
Hoje, Luizão Goulart ocupa o cargo de secretário estadual da Administração do Paraná, no governo
Ao que tudo indica, o PSD não enfrentará problemas com quociente. Pelo contrário: deverá eleger uma bancada robusta nos maiores estados. Caso Luizão mantenha (ou amplie) a votação que teve em 2022, pode até encomendar o terno da posse. Mas, como diria o próprio Blog do Esmael, a conferir.
Janela partidária será momento decisivo
O temor do “Efeito Luizão” já provoca um efeito cascata em Brasília e nas assembleias. Partidos pequenos admitem, nos bastidores, que não alcançarão o quociente eleitoral em 2026, e isso tem motivado negociações intensas para fusões, federações e migrações.
A janela de infidelidade partidária, em abril de 2026, pode ser a maior da história recente da Nova República. Deputados ameaçados pelo sistema correm contra o relógio para encontrar siglas com musculatura eleitoral. E não se trata apenas de sobrevivência política, mas de acesso a recursos públicos e tempo de TV, garantidos apenas a quem escapa da cláusula de barreira.
Federações, superpartidos e o jogo de soma zero
Neste cenário, partidos médios e grandes têm investido na formação de federações e alianças robustas. União Brasil e PP já anunciaram uma super federação com 109 deputados. Outros movimentos incluem:
- Solidariedade e PRD;
- PSB, PDT e Cidadania;
- MDB e Republicanos;
- PT, PV, PCdoB e possível entrada do PSB ou PDT.
Essas composições são mais que coligações. Funcionam como partidos únicos durante quatro anos. E quem não se adaptar a essa nova lógica corre sério risco de ser varrido do mapa eleitoral, e do mapa orçamentário.
Quem vale ouro: candidatos de 30 mil votos
Outro fenômeno que preocupa os dirigentes partidários é a escassez de candidatos “intermediários”, aqueles que somam entre 15 mil e 30 mil votos. Eles não se elegem sozinhos, mas ajudam o partido a atingir o quociente e garantem vagas pelas sobras.
Por isso, nomes sem grande projeção, mas com bom potencial de voto, tornaram-se valiosos nas negociações. É o novo xadrez da política proporcional.
Quociente virou arma de exclusão institucional
O Blog do Esmael já alertava, em matérias anteriores, que a combinação entre cláusula de barreira, fim das coligações proporcionais e exigência do quociente eleitoral formou um tripé de exclusão estrutural.
Na prática, o sistema criou uma espécie de “linha da morte” para partidos pequenos e candidatos isolados. Quem não tiver base, estrutura e votos suficientes, está fora. O veto do presidente Lula à ampliação do número de deputados apenas consolidou esse cenário restritivo.
Darwinismo político-eleitoral
O “Efeito Luizão” não é apenas uma história mal resolvida de 2022. É o símbolo do novo darwinismo político-eleitoral em curso no Brasil. Em 2026, a sobrevivência partidária dependerá menos do carisma e mais da matemática.
Fica o recado: não basta ser bem votado. Tem que somar. E tem que somar com quem tem musculatura para aguentar o tranco.
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Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.
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