De caçador à caça, Moro depõe ao Senado

O ministro da Justiça, Sérgio Moro, de caçador –na época de juiz na Lava Jato– passou à caça em cinco meses de política. Ele irá depor na quarta-feira (19) na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado.

Jornalões e o governo Jair Bolsonaro (PSL) apostam num “passeio” do ministro durante o depoimento. Eles avaliam [mal] que o ex-juiz será poupado nas inquirições porque os senadores temeriam parecer contra a força-tarefa e o suposto combate à corrupção.

Moro foi acusado pela série de reportagens do site Intercept de liderar um corrupto esquema na Lava Jato que visava punir adversários políticos e ideológicos. Segundo conversas secretas divulgadas pelo jornalista Glenn Greenwald, o então juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba combinava com o procurador Deltan Dellagnol, coordenador da força-tarefa, estratégias para agravar a situação dos acusados.

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Além de auxiliar a acusação (Ministério Público Federal), o ex-juiz também coordenava as ações de mídia da Lava Jato contra a defesa de réus –a exemplo do que ocorreu no dia do depoimento do ex-presidente Lula, 10 de maio de 2017. Moro pediu para que o MPF contestasse o ‘showzinho da defesa’ por meio de nota à imprensa.

O sistema penal acusatório previsto na Constituição Federal proíbe veementemente que o julgador atue para enfraquecer a defesa reforçando a acusação. A falta de imparcialidade do julgador causa nulidade absoluta da sentença.

Economia

Portanto, o ambiente para o depoimento de Moro no Senado não será nada tranquilo. Pelo contrário. O veterano senador Renan Calheiros (MDB-AL), ex-presidente da Casa, por exemplo, disse neste domingo (16) que ‘o caso é tão óbvio que nem precisa do VAR’ –o vídeo assistente do árbitro nas partidas de futebol.

Some-se a isso tudo ao desarranjo na base bolsonarista no Congresso. A disputa de poder causa frituras diárias em ministros e figuras de proa no governo. Tal quadro gera inseguranças nos parlamentares e, consequentemente, no depoente que se viu transformar de caçador em caça em alguns meses.

A situação de Sérgio Moro é insustentável no governo. Ele está na marca do pênalti. Frita em fogo brando, mas frita.