Intercept derrete Moro, Bolsonaro quer confronto e a agenda da esquerda

Milton Alves vê o ex-juiz Sérgio Moro derretendo após reportagens do site Intercept. Foto: Lula Marques/AGPT.
A semana foi marcada por eventos políticos que sacudiram o país, com destaque para as graves revelações do site The intercept sobre o modus operandi criminoso da operação Lava Jato e da perseguição política movida contra o ex-presidente Lula. A impressionante volatilidade da situação política comportou ainda uma greve geral na sexta-feira (14) e a demissão de três generais por Bolsonaro no decorrer da semana.

O ex-juiz e ministro da Justiça da Justiça, Sergio Moro, sempre contou com uma imprensa aliada que auxiliava a sua projeção para além das fronteiras do provinciano estado do Paraná. O então juiz foi até guindado à condição de herói nacional no combate à corrupção. A operação Lava Jato seria um modelo de uma “justiça rápida e eficiente para todos, sem distinção de classe” entoava o coro coletivo da mídia lavajatista.

Porém as revelações do site The Intercept abalaram rapidamente a credibilidade do “mito”, que enfrenta uma avalanche de reprovações e críticas por sua conduta criminosa e irresponsável até entre os seus apoiadores, a começar pela mídia corporativa. Moro estampa as capas das principais revistas semanais do país, dessa vez ele é o alvo das críticas.

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Moro conduzia os processos da Lava Jato na época em que os diálogos divulgados pelo site teriam ocorrido e foi o responsável pela condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à prisão, devido ao processo referente à propriedade de um apartamento triplex, localizado no balneário do Guarujá, no Litoral de São Paulo, um imóvel que nunca pertenceu ao líder petista.

Os diálogos mostram que Moro orientava os procuradores nas acusações, nos processos que ele mesmo julgaria posteriormente, o que é uma grave violação do Estado de Direito e das normas da Magistratura. Alguns diálogos divulgados indicam que Moro chegou a orientar como a força-tarefa da Lava Jato, coordenada por Deltan Dallagnol, deveria proceder com a imprensa para rebater as argumentações da defesa do ex-presidente. Moro era titular da 13ª Vara Federal de Curitiba (PR) e teria ajudado a construir a estratégia da imprensa para fazer frente ao que chamou de “showzinho da defesa” do petista.

Economia

O jornalista Glenn Greenwald promete novas e bombásticas revelações para os próximos dias. Uma “bala de prata” no rol de vazamentos pode levá-lo [Moro] diretamente ao cadafalso. Na quarta-feira (19), Sergio Moro fará o seu depoimento no Senado.

Bolsonaro aposta no confronto

Os últimos movimentos do presidente Jair Bolsonaro apontam para uma aposta no confronto, com o avanço das posições de extrema-direita neofascista no interior do governo. A demissão do general Santos Cruz é um indicativo dessa operação em curso. Bolsonaro quer, ao mesmo tempo, enquadrar a Direita tradicional e intimidar as forças populares e de esquerda.

Para pressionar ainda mais as instituições do Estado – Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF) – o núcleo duro bolsonarista usa os generais para mandar recados e lança mão, quando necessário, dos movimentos de apoio com que conta na sociedade, como pretende fazer no próximo dia 30 de junho com a convocação de manifestações em “defesa das reformas”. Além das “tropas de choque” do bolsonarismo, grupos como o MBL e o Vem Prá Rua participarão dos atos em frente unida com a agenda do governo, o que não aconteceu no 26 de maio passado.

Agenda de acumulação e resistência ativa

A Greve Geral de sexta-feira (14) foi mais um momento de acumulação de forças na batalha em curso contra o governo Bolsonaro. As paralisações atingiram categorias importantes de trabalhadores e demonstraram a tendência crescente da vontade de mobilização e de resistência ativa de vastos segmentos da população dos grandes centros urbanos e das cidades médias e pequenas do interior do país.

Segue na ordem do dia a luta para derrotar o conjunto do nefasto projeto de reforma da Previdência. Resistir nas ruas e no parlamento. Qualquer tipo de “acordo mínimo” em torno do projeto de Bolsonaro/Guedes, como ensaiam os governadores do Nordeste (inclusive os do PT e Flávio Dino (PCdoB), será desastroso para os interesses dos trabalhadores e do povo pobre, abrindo espaço para a desmoralização e o enfraquecimento da esquerda.

Ao contrário, devemos apostar na mobilização popular para derrotar a reforma da Previdência, o desmonte da Educação e dos direitos sociais. Incrementar novas ações da Campanha Lula Livre e demandar punição para os crimes da Lava Jato. As centrais sindicais e as frentes de lutas precisam também construir uma grande campanha nacional de combate ao flagelo do desemprego e do desalento.

Portanto, seguir acumulando forças com uma resistência ativa nas ruas para derrotar o projeto autoritário e excludente do governo Bolsonaro e a agenda neocolonial das classes dominantes.