Concentração de riqueza nas big techs: impactos e necessidade de regulação da mídia
A discussão em torno da concentração de riqueza nas big techs – as gigantes empresas de tecnologia que dominam o mercado digital – ganha destaque nos debates sobre a regulação do conteúdo nas redes sociais e plataformas digitais.
No entanto, é fundamental que a propriedade cruzada dos veículos de comunicação da velha mídia corporativa também entre nessa discussão, haja vista o potencial de disseminação de desiformação pelos jornalões que atuam como procuradores de bancos e fundos de investimentos.
O Projeto de Lei 2630/2020, conhecido como PL das Fake News, em votação no Congresso Nacional, traz à tona a importância de repensar a estrutura econômica que permite essa concentração preocupante.
Repensando a estrutura econômica
Um grupo formado por pesquisadores, comunicadores populares e sindicais tem se dedicado a uma análise mais profunda do problema, defendendo que é necessário ir além da regulação do conteúdo e repensar a própria construção do mercado digital.
A concentração de riqueza nas mãos das big techs e na velha mídia corporativa tem gerado preocupações sobre a centralização do controle e exploração dos dados gerados pelos usuários em suas atividades virtuais.
Os dados são considerados o “novo ouro” da era atual, e a luta contra a concentração de capital nesse contexto é crucial.
Grandes monopólios lucram significativamente com a atenção e o tempo dos usuários, o que acaba perpetuando ainda mais a desigualdade econômica.
Viviane Rosa, jornalista e coordenadora do Intervozes, destaca essa questão como um dos principais desafios a serem enfrentados.
A transformação de dados em riqueza
Ao refletir sobre a importância dos dados, percebe-se que praticamente tudo pode ser transformado em riqueza nesse novo paradigma digital.
A concentração desigual dessa riqueza, mais acentuada do que na mídia tradicional, requer medidas que visem à sua diminuição.
Para isso, é fundamental repensar os espaços virtuais como ambientes efetivamente livres e responsáveis, onde a transparência nas relações entre os diversos atores é essencial.
O objetivo é evitar que as pessoas fiquem à mercê da construção de uma riqueza da qual não participam.
Importância da regulação e políticas públicas
O 4º Festival da Comunicação Sindical e Popular, realizado na Cinelândia, Rio de Janeiro, abordou o tema com destaque, enfatizando a necessidade de regulação e construção de políticas públicas no âmbito da economia digital.
A descentralização do controle dos dados e a promoção da transparência são pilares fundamentais nesse processo.
Ainda que a regulação seja uma medida importante, é fundamental não negligenciar a criação de políticas públicas que abordem de maneira mais abrangente o desafio da concentração de riqueza nas big techs.
Somente dessa forma será possível alcançar uma distribuição mais justa dos benefícios econômicos gerados pela tecnologia.
Comunicação nas periferias: valorizando as iniciativas locais
Além da questão central da concentração de riqueza, o festival também debateu sobre a produção de conteúdo e informação nas favelas e periferias.
Nessas áreas, muitas vezes marginalizadas e com pouca atenção da mídia tradicional, surgem comunidades que criam seus próprios meios de informar e engajar na luta por melhores condições de vida.
Um exemplo é o Jornal Maré de Notícias, fundado em 2009 no Complexo de favelas da Maré, Rio de Janeiro, que conta com uma versão impressa e online.
Esse tipo de iniciativa local é fundamental para desmistificar estereótipos e retratar a realidade das comunidades de maneira mais justa.
Potencial transformador da comunicação
O trabalho de comunicadores nas periferias vai além da informação, buscando discutir políticas públicas e sociais por meio de entrevistas e dando espaço para divulgação de iniciativas culturais e artísticas. Ana Maria Leone, assistente social e comunicadora da Rádio Ativa, em Duque de Caxias, Baixada Fluminense, ilustra como a comunicação tem um papel transformador nessas comunidades.
Ana ressalta a importância de superar as barreiras impostas pela falta de autoconfiança e pela crença de que suas vozes são inferiores.
Ao contrário, cada indivíduo tem potencial para contribuir positivamente para a sociedade.
Pela regulação da propriedade cruzada
O debate sobre a concentração de riqueza nas big techs é de suma importância para o futuro da economia digital e da sociedade como um todo.
Além da regulação do conteúdo, é fundamental repensar a própria estrutura econômica, buscando a descentralização do controle dos dados e a promoção de políticas públicas que valorizem iniciativas locais e combatam a desigualdade econômica.
Comunicadores, pesquisadores e a sociedade em geral têm um papel essencial nesse processo, trabalhando juntos para construir um ambiente digital mais justo, transparente e responsável.
Somente com ações concretas e um compromisso coletivo poderemos alcançar uma internet verdadeiramente inclusiva e democrática, onde todos tenham a oportunidade de participar da construção da riqueza e do conhecimento.
No entanto, essa regulação só será efetiva se houver a regulação da propriedade cruzada dos veículos de comunicação da velha mídia corporativa proibindo, por exemplo, que bancos e fundos de investimentos sejam sócios ou proprietários de empresas de mídia.
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