Lula choca Forças Armadas ao demitir comandante do Exército escolhido há menos de um mês

Mas demissão do general foi bem vista pela frente política, que viu autoridade do presidente da República

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) demitiu o comandante do Exército, general Júlio Cesar de Arruda, devido a uma crise de confiança aberta após os ataques do dia 8 de janeiro, em Brasília. A decisão foi comunicada ao militar neste sábado (21).

A demissão é uma demonstração de pulso firme do presidene da República, embora o gesto tenha chocado as Forças Armadas.

Arruda estava no comando da Força desde o dia 28 de dezembro, antes da posse de Lula como presidente. Ele havia sido escolhido por critério de antiguidade pelo ministro da Defesa, José Múcio Monteiro.

Segundo auxiliares do presidente, a decisão foi tomada porque Arruda não demonstrou disposição de tomar providências imediatas para reduzir as desconfianças de Lula em relação a militares do Exército após a invasão do Palácio do Planalto e das sedes do STF (Supremo Tribunal Federal) e do Congresso.

A demissão dificilmente terá potencial para agravar as tensões entre Lula e o comando das Forças Armadas. Pelo contrário. A demonstração de autoridade do Presidente da República “enquadra” os militares. Essa análise é corroborado pelos governistas.

Economia

O senador Renan Calheiros (MDB-AL), por exemplo, disse que Lula acerta ao exonerar o comandante do Exército. “As razões são as mesmas que deveriam ter impedido a própria nomeação. Não podemos tergiversar ou hesitar no combate aos golpistas. O Brasil precisa se reencontrar com sua história”, declarou o parlamentar.

Depois dos ataques à praça dos Três Poderes, Lula manifestou publicamente sua desconfiança em relação às Forças Armadas, em críticas direcionadas especificamente ao Exército.

No dia 12, após os atos de terrorismo, o presidente afirmou que “muita gente das Forças Armadas” dentro do Palácio do Planalto foi conivente com a invasão. “Estou convencido de que a porta do Palácio do Planalto foi aberta para essa gente entrar porque não vi a porta de entrada quebrada”, disse ele. As declarações de Lula deixaram as Forças apreensiva naquela oportunidade.

O Alto Comando do Exército, formado pelos generais de quatro estrelas, se reuniu neste sábado para discutir a demissão. Lula cumpre agenda neste sábado em Roraima para anunciar ações contra uma crise de saúde em terras yanomamis. Ele deve retornar a Brasília no fim do dia.

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O novo comandante do Exército, general Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva, é visto como um militar com maior traquejo político. Ele tem 62 anos e tem proximidade com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de quem foi ajudante de ordens, e com o atual vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB).

Atual comandante militar do Sudeste, Paiva chegou em 2019 ao posto de general de Exército, o mais alto da carreira, passando a integrar o Alto Comando da Força.

Em 2022, quando havia tentativas de contato com o Exército por parte de petistas, o nome de Tomás era citado nos bastidores como uma das possíveis pontes.

Na semana passada, Tomás fez um discurso incisivo de defesa da institucionalidade, pedindo o respeito ao resultado das eleições e afirmando o Exército como apolítico e apartidário.

Neste sábado, Lula demitiu o comandante do Exército, general Júlio Cesar de Arruda, do posto de comandante do Exército em meio a uma crise de confiança aberta após os ataques do dia 8 de janeiro, em Brasília.