Esquerda brasileira espera convencer Centrão a abandonar Bolsonaro, afirma jornal francês

Dois jornais franceses abordam nesta segunda-feira (31) a crescente impopularidade do presidente Jair Bolsonaro e também a crise sanitária no Brasil. As manifestações do último sábado (29) nas principais capitais brasileiras foram acompanhadas com atenção pela imprensa francesa.

“A esquerda toma as ruas contra Bolsonaro” é manchete no jornal Libération. A correspondente do diário em São Paulo, Chantal Rayes, analisa o saldo dos protestos. Ela explica que, após meses de um luto diário e muita revolta devido à gestão da epidemia de coronavírus no Brasil, a parcela insatisfeita da população resolveu finalmente protestar.

A jornalista explica que a esquerda brasileira surfa na onda da impopularidade de Bolsonaro e se apóia também no retorno do ex-presidente Lula à vida política. A insatisfação desta parcela progressista da população também é impulsionada pela CPI da Covid no Brasil, que colocou em evidência o fracasso do governo em lidar com a epidemia, boicotando o lockdown, defendendo tratamentos duvidosos e hesitando em adquirir vacinas para proteger os brasileiros.

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Segundo Libération, até agora ninguém acreditava na possibilidade de um impeachment de Bolsonaro. Centenas de pedidos de destituição foram encaminhados ao presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, o único que tem o poder de acatar o processo. Mas, o jornal lembra que Lira faz parte do Centrão e é um aliado de Bolsonaro.

Por outro lado, a esquerda espera que a pressão popular possa convencer o Centrão a abandonar o presidente brasileiro, a exemplo do que aconteceu com a ex-presidente Dilma Rousseff, após protestos massivos da direita em 2016. Na iminência de uma terceira onda de Covid-19, “a esquerda colocou então como desafio transformar esse quadro e insistir no tempo que resta” – 17 meses antes das próximas eleições.

Recorde de impopularidade
O jornal La Croix destaca o aumento da insatisfação com o governo Bolsonaro e as manifestações do último sábado, quando “os brasileiros conseguiram que suas vozes fossem ouvidas”, escreve a correspondente do diário no Brasil, Marie Naudascher. A matéria destaca que a popularidade do líder da extrema direita nunca esteve tão baixa, 24%.

Segundo o jornal, a CPI da Covid deixa clara a responsabilidade do presidente brasileiro na crise sanitária que vive o país e que já matou mais de 461 mil pessoas. Como se não bastasse, a variante indiana também está circulando no Brasil e a epidemia está piorando, alerta ao diário o epidemiologista Marcio Bittencourt, da USP. No Estado de São Paulo, a taxa de ocupação de leitos nas UTIs ultrapassa novamente 80%.

La Croix explica que pouco mais de 10% da população brasileira recebeu duas doses da vacina até agora. O jornal lembra que ofertas do imunizante da Pfizer foram “propositalmente ignoradas” em 2020 e Bolsonaro também boicotou a CoronaVac – uma “omissão deliberada” do presidente brasileiro, conclui.

Por RFI