Um áudio de uma veterana funcionária de biblioteca de uma escola cívico-militar no Paraná, com 23 anos de trabalho, revela um lado macabro do funcionamento desse tipo de instituição.
[Abaixo, ouça a íntegra da denúncia da funcionária de escola.]
O áudio-denúncia vem à tona no momento que o governador do estado, Ratinho Junior (PSD), planeja militarizar 200 novas escolas.
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A funcionária, que pediu para não ser identificada temendo retaliações, relata que o número de alunos com crises de ansiedade aumentou assustadoramente desde a implantação do regime cívico-militar.
Ela afirma que os militares não têm preparo para lidar com alunos com transtornos mentais e acabam agravando a situação.
“Os militares chegam impondo, olhando o aluno de cima para baixo”, diz a funcionária.
“Eles não conseguem decifrar quem que tem TDAH quem que é autista e eles não têm essa humildade de ir até a pedagoga ou as pedagogas.”
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TDAH é a sigla de Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade.
A funcionária afirma que já viu alunos desmaiarem na hora de cantar o hino nacional, por causa da tensão.
Ela também relata que muitos alunos se mutilam ou pensam em suicídio.
“Levei no CAPS e expliquei, perguntei se alguém está na rede”, diz a funcionária.
CAPS são lugares de referência para o cuidado de usuários do SUS com grave sofrimento psíquico, que necessitam de tratamento por apresentarem transtorno mental severo ou persistente e/ou usuários de álcool e outras drogas.
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“Desses 17, oito estão na rede. O restante não quer, não vai, não faz tratamento. Abandonou, a família também abandonou”, relata.
A funcionária afirma que também teme por sua segurança.
Ela diz que já foi chamada atenção pela diretora da escola por ter feito um comentário na página do APP-Sindicato, que representa os professores do Paraná.
“Eu fui chamada atenção pela diretora porque eu fiz um comentário na página APP-Sindicato”, diz a funcionária.
“Eu já fui ameaçada, porque eu não gosto de bater de frente porque eu tenho medo deles.”
O Blog do Esmael vem publicando uma série de reportagens sobre os efeitos deletérios das escolas cívico-militares para a educação das crianças e adolescentes paranaenses.
Ouça o aúdio
O áudio da bibliotecária é um relato contundente que levanta graves preocupações sobre o funcionamento das escolas cívico-militares no Paraná.
As afirmações da funcionária, se confirmadas, sugerem que esse tipo de instituição pode estar contribuindo para o aumento de crises de ansiedade e suicídios entre os alunos.
O áudio também sugere que os militares que atuam nas escolas cívico-militares não têm o preparo necessário para lidar com alunos com transtornos mentais.
Essa falta de preparo pode estar levando a situações de agravamento da condição dos alunos e até mesmo a casos de violência.
Diante das graves denúncias do áudio, é importante que as autoridades competentes tomem providências para investigar as condições das escolas cívico-militares no Paraná.
Se as afirmações da bibliotecária forem confirmadas, é necessário que sejam tomadas medidas para garantir a segurança e o bem-estar dos alunos.
Além disso, é importante que sejam realizados estudos sobre a eficácia das escolas cívico-militares.
É preciso avaliar se esse tipo de instituição realmente contribui para a melhoria da educação e da disciplina dos alunos.
Também seria fundamental a Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP) estudar a possibilidade de instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar esse modelo de escola cívico-militar.
Jornalista e Advogado. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.