Datafolha revela empate sobre prisão de Bolsonaro: 48% querem vê-lo preso, 46% defendem liberdade; julgamento no STF será decisivo.
A nova pesquisa do Instituto Datafolha escancarou o que já se pressentia nas ruas, nas redes e nos palanques: o Brasil está rachado sobre o destino judicial de Jair Bolsonaro (PL). Exatamente 48% dos brasileiros querem ver o ex-presidente preso por tentativa de golpe em 2022, enquanto 46% defendem sua liberdade. Um autêntico Fla-Flu político que expõe, mais uma vez, a ferida aberta da democracia brasileira.
Apesar da divisão na opinião, a maioria, 51%, acredita que Bolsonaro vai escapar da cadeia. Apenas 40% creem que ele será, de fato, condenado no julgamento marcado para setembro no Supremo Tribunal Federal (STF). A percepção de impunidade prevalece, mesmo com o avanço das investigações e o acúmulo de provas relatadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
O levantamento ouviu 2.044 pessoas nos dias 29 e 30 de julho, com margem de erro de dois pontos percentuais. Em relação à rodada anterior, de abril, houve uma inversão sutil, mas significativa: antes, 52% defendiam a prisão de Bolsonaro, contra 42% que o queriam livre. Agora, o país está tecnicamente empatado.
Recortes revelam mapa da polarização
Quando se observa o perfil dos entrevistados, o retrato da divisão política se torna ainda mais nítido. Os que mais defendem Bolsonaro são evangélicos, moradores do Sul, eleitores de classe média mais baixa e, claro, seus apoiadores fiéis. Do outro lado, os que mais desejam vê-lo preso são os mais pobres, especialmente nordestinos e eleitores petistas.
Esse embate reflete a disputa não apenas de narrativas, mas de projetos de país. Para uns, Bolsonaro encarna uma resistência ao sistema político e à esquerda; para outros, representa a ameaça mais concreta à ordem democrática desde o fim da ditadura.
Trump, Moraes e o pano de fundo internacional
O julgamento de Bolsonaro no STF ganhou contornos internacionais após Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, defender publicamente o aliado brasileiro de extrema direita. Trump acusou o Brasil de “perseguir um patriota” e usou essa narrativa para justificar o tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros.
A ofensiva americana foi impulsionada por Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, que se mudou para os EUA para liderar a campanha pela anistia do pai. Em contrapartida, o ministro Alexandre de Moraes virou alvo do governo Trump, que o incluiu na controversa Lei Magnitsky, mecanismo jurídico dos EUA para punir supostos violadores de direitos humanos.
Moraes teve seu visto cancelado e bens congelados nos Estados Unidos, mesmo sendo um magistrado de Suprema Corte. A legalidade dessa ação é questionada por juristas, inclusive nos próprios EUA, já que a lei foi desenhada para ditadores e não para juízes atuando dentro do Estado democrático de direito.
Além disso, como explicou o Blog do Esmael, a Lei Magnitsky não vale no Brasil.
Risco de 43 anos de prisão
Bolsonaro será julgado por arquitetar uma trama golpista para se manter no poder mesmo após a derrota eleitoral para Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A acusação envolve a cúpula militar, aliados políticos e integrantes do governo que, segundo a PGR, atuaram para minar a confiança nas urnas e preparar um golpe de Estado. A culminância foi a invasão dos Três Poderes, em Brasília, em 8 de janeiro de 2023.
Se condenado, Bolsonaro pode pegar até 43 anos de prisão. Ele nega todas as acusações, repete que é vítima de perseguição política e busca apoio internacional para se livrar das garras do STF.
Eleições de 2026 terá jeito de plebiscito
A pesquisa do Datafolha não é apenas um termômetro de opinião: é um espelho do Brasil conflagrado, onde passado e futuro se chocam em tempo real. A eventual prisão de Bolsonaro não resolverá o impasse, apenas inaugura uma nova etapa da disputa política que se encaminha para 2026 com ares de plebiscito sobre a própria democracia.
O julgamento no STF, previsto para setembro, será decisivo. Mas, antes disso, o país seguirá dividido entre os que veem um criminoso e os que enxergam um mártir.
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Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.
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