A esquecida doação de 10 bilhões de reais pela Petrobras aos abutres

Assim o senador Roberto Requião (MDB-PR) começa seu artigo sobre os fundos abutres: “A defesa da soberania brasileira foi entregue à Rede Globo, e a Rede Globo, tempos atrás, se apressou a defender a infame e quase esquecida doação de 10 bilhões de reais a fundos abutres americanos detentores indiretos de ações da Petrobrás, em ação arbitrada por juiz norte-americano.” Abaixo, leia a íntegra.

Requião recorda que a desnacionalização da Petrobrás começou no governo do tucano Fernando Henrique. “Poderia ter sido revertida nos governos do PT se tivessem prestado maior atenção no que havia acontecido”, pontua.

“Ou recompramos as ações, e esse deve ser o objetivo de um governo brasileiro progressista, ou seremos um risco permanente a ser explorado por abutres do mercado financeiro norte-americano”, propõe Requião.

Para o senador, vigaristas de toda espécie resolveram aproveitar a lava jato do juiz [Sérgio Moro] e dos procuradores de Curitiba para se locupletarem às custas de nosso povo.

A esquecida doação de 10 bilhões de reais pela Petrobras aos abutres

Roberto Requião*

Economia

A moral brasileira está no lodaçal. A defesa da soberania brasileira foi entregue à Rede Globo, e a Rede Globo, tempos atrás, se apressou a defender a infame e quase esquecida doação de 10 bilhões de reais a fundos abutres americanos detentores indiretos de ações da Petrobrás, em ação arbitrada por juiz norte-americano. O pretexto tinha sido pagar prejuízos com a Lava Jato. Trata-se do mais extraordinário caso que conheço de total capitulação de uma nação supostamente soberana às imposições despropositadas de outra nação, sem guerra.

Muita gente está ganhando dinheiro com isso. Advogados, procuradores, oportunistas, vigaristas de toda espécie resolveram aproveitar a Lava Jato do juiz e dos procuradores de Curitiba para se locupletarem às custas de nosso povo. O argumento infame da Globo de que é melhor pagar os 10 bilhões a enfrentar uma ação judicial é desprezível. Afinal, até as pedras sabem que a Petrobrás não foi culpada do escândalo, mas sua vítima. Os culpados foram condenados, fizeram delação e estão soltos com seus milhões de dólares provavelmente escondidos em algum paraíso fiscal, protegidos pela Lava Jato. Quem tem que ser indenizada é a Petrobrás por parte dos bandidos que a dilapidaram. Não investidores americanos. Sua doação aos abutres já foi registrada em balanço por Pedro Parente.

Para investidores na bolsa de Nova Iorque não há prejuízo algum. Apenas ganhos fantásticos. As ações voltaram e superaram seu valor antes do roubo. De qualquer modo, se tivessem desabado e ficado por aí, não é este o jogo no capitalismo? Ou a Justiça norte-americana pretende ter um sistema de bolsa onde os investidores não perdem, e sempre ganham? Em qualquer hipótese, se defendermos a riqueza do Pré-Sal – o que não é certo com esse governo -, temos a petrolífera de maior patrimônio e potencialmente mais lucrativa do mundo para suportar qualquer prejuízo.

Infelizmente, a empresa está sendo dilapida por Pedro Parente, com seu esquema de retalhamento para privatização. É um demolidor. Seguimos a trilha aberta por Fernando Henrique Cardoso ao lançar ações da Petrobrás na bolsa de Nova Iorque, submetendo a empresa à soberania norte-americana. Para quê? Para figurar bem na fita do capitalismo globalizado. Ações que valiam 100 bilhões de dólares foram vendidas por 5 bilhões. A Petrobrás passou a ser vigiada e espionada pelo Governo americano. A associação entre o juiz Moro e os promotores de Curitiba, em frequentes cursos de treinamento nos Estados Unidos, gerou a Lava Jato, indiferente a empresas e empregos, e promotora de concorrentes internacionais das empresas de engenharia brasileiras. Até onde vamos tolerar essa agressão à soberania nacional?

A desnacionalização da Petrobrás começou no Governo Fernando Henrique. Poderia ter sido revertida nos governos do PT se tivessem prestado maior atenção no que havia acontecido. A colocação de 30% das ações da empresa na Bolsa de Nova Iorque submeteu a Petrobrás automaticamente à soberania, e particularmente à Justiça norte-americana, sendo que os acionistas podem alegar, a qualquer tempo, perdas devidas a iniciativas da estatal definidas pelo Governo brasileiro, como a própria política de preços. Disso não temos escapatória. Ou recompramos as ações, e esse deve ser o objetivo de um governo brasileiro progressista, ou seremos um risco permanente a ser explorado por abutres do mercado financeiro norte-americano.

*Roberto Requião é senador da República pelo MDB do Paraná.