Independentemente do resultado das eleições de meio mandatado, nesta terça-feira (08/11), os Estados Unidos já temem pelo seu futuro próximo. Os americanos apontam Donald Trump e Elon Musk como “perigos” iminentes à democracia.
Musk e Trump são apresentados como “narcisistas” descontroladamente “disruptivos” – personalidade considerada uma praga surgida nas primeiras décadas do século 21 nos EUA. A definição é de Robert Reich, ex-secretário do Trabalho dos EUA, professor de políticas públicas na Universidade da Califórnia.
Em artigo no jornal britânico The Guardian, Reich afirma que Trump é muito mais perigoso para a democracia – até agora. “Mas ambos são representados de uma personalidade controladamente americana nas décadas do século 21.”
Segundo o articulista, Trump e Musk empunham marretas para proteger seus egos perigosos. Ambos são totalmente carentes de empatia. Ambos promovem teorias da conspiração infundadas (como a que foi sobre Paul Pelosi).
[Paul Pelosi foi atacado com uma marreta por um agressor no final do mês passado, disseram as autoridades americanas. O invasor procurava a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, segundo documentos judiciais.]
“Ambos são autopromotores infatigáveis”, observa.
“Ambos são bilionários, mas não são motivadores principalmente pelo dinheiro. Nem são alimentados por qualquer propósito, princípio ou ideologia maior”, analisa o autor do artigo.
O ex-secretário do Trabalho americano mergulha na personalidade da dupla Trump e Musk: “Seu objetivo singular é imprimir seus egos gigantes em todos os outros – exercer poder bruto sobre as pessoas. Para fazer os outros rastejar.”
Para Reich, sua política não é conservadora nem liberal. “Chame isso de autoritário megalomaníaco. (Parece provável que Musk devolva a Trump o megafone gigante do Twitter que Trump perdeu quando incitou o ataque ao Capitólio dos EUA.)”
Grosso modo – e bem grosso modo, mesmo – seria como se fosse um bolsonarismo comandado pelo próprio presidente cessante brasileiro, Jair Bolsonaro, e seu amigo empresário Luciano Hang, o Véio da Havan, quando ainda tinham o poder político.
Aí o articulista se pergunta ‘por que ambos alcançaram tal destaque neste momento da história?’ ‘Por que tantos estão encantados com eles?’
“A resposta, creio, é que um grande segmento do público americano projeta neles suas necessidades e fantasias. Pessoas que estão “loucas como o inferno e não aguentam mais” anseiam por homens fortes que agitem o sistema.”
Esse inquietante artigo de Robert Reich veio a calhar porque o momento político americano, reservadas as diferenças, se assemelham muito com o do Brasil. Aliás, o marqueteiro satanista de Trump é o mesmo que ajudou o ainda inquilino do Palácio do Planalto.
“As pessoas que sofreram bullying a vida inteira querem se identificar com super-valentões que dão o dedo ao establishment, respondendo apenas a seus próprios egos vorazes”, explica o ex-secretário do Trabalho do EUA, sugerindo que é mais um problema psicológico do que político – tanto aqui na “Pátria de Chuteiras” quanto na terra do Tio Sam.
“Sua arrogância e certeza atraem milhões de seguidores, fãs e devotos cultistas, junto com um bom número de capangas e bandidos, que querem se sentir superiores. Mas eles não são líderes. Eles são valentões que rebaixam a América”, escreve Reich sobre o “bolsonarismo” de Trump (ou seria trumpismo de Bolsonaro?).
Reich observa que outros aspiram ao mesmo status:
- O governador da Flórida Ron DeSantis, que leva imigrantes indocumentados para Martha’s Vineyard;
- A congressista Marjorie Taylor Greene, que atribui os incêndios florestais aos lasers espaciais judeus;
- O candidato a governador do Arizona Kari Lake, que se recusa a se comprometer com o resultado da eleição;
- E os outros infames zilionários de alta tecnologia, Jeff Bezos, da Amazon, e Mark Zuckerberg, do Facebook.
No entanto, compara o ex-secretário do Trabalho dos Estados Unidos, nenhum chega perto de Musk e Trump por pura introspecção, bombástico alegre e afirmação descarada de poder para dominar e forçar outros a se submeterem.
“Cuidado. A última vez que o mundo cedeu aos megalomaníacos não acabou bem”, adverte.
Reich recorda que os barões ladrões da Era Dourada – homens como William (“o público que se dane”) Vanderbilt, Andrew Carnegie e John D Rockefeller – desviaram tanto da riqueza da nação que o resto da nação teve que se endividar profundamente para manter seu padrão de vida e a demanda geral pelos bens e serviços que a nação produzia.
“Quando a bolha da dívida estourou em 1929, o mundo entrou em uma Grande Depressão. E essa depressão abriu o caminho para Benito Mussolini, Joseph Stalin e Adolf Hitler, que criaram as piores ameaças à liberdade e à democracia que o mundo moderno já testemunhou e o maior número de mortes”, resgata.
“Estamos muito mais seguros quando o poder econômico e político é amplamente difundido. Estamos em melhor situação quando pessoas como Musk e Trump não podem obter riqueza e influência tão ilimitadas”, avisa.
Robert Reich finaliza dizendo que “todos nós nos saímos melhor quando menos americanos se sentem tão desamparados e inseguros que são atraídos por valentões repreensíveis que desfilam pelo palco público como se possuíssem qualidades admiráveis.”
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