Trump cobra pedágio de 15% da Nvidia e AMD por vendas à China

O governo dos Estados Unidos exigirá que Nvidia e AMD entreguem 15% da receita obtida com a venda de chips de IA para a China, em troca de licenças de exportação emitidas pelo Departamento de Comércio, segundo confirmaram fontes oficiais e imprensa americana nesta segunda-feira (11).

A decisão, inédita por monetizar uma autorização estatal em vez de se basear apenas em segurança nacional, coloca um preço político e fiscal sobre a tecnologia de ponta. O acordo envolve o chip H20, da Nvidia, e o MI308, da AMD, ambos desenhados para contornar limites anteriores. As licenças começaram a sair após conversas no alto escalão, inclusive uma reunião entre Jensen Huang e Donald Trump, na Casa Branca, na semana passada.

Como funciona o acordo

Pelo acerto, as empresas repassarão 15% da receita obtida na China por esses modelos de IA. Não se trata de uma tarifa padrão, mas de uma condição financeira atrelada às licenças de exportação que destravam embarques ao mercado chinês. A moldura regulatória segue sob a alçada do Bureau of Industry and Security, mas, na prática, o sinal verde vem com um boleto. É um arranjo descrito como altamente incomum por analistas e fontes do governo.

O que mudou desde abril

Após novas restrições em abril, o H20 e o MI308 ficaram temporariamente barrados. Em agosto, a administração Trump recalibrou o rumo, liberando o H20 mediante licenças e, paralelamente, firmando o repasse de 15% como condição. O movimento busca equilibrar pressão estratégica sobre Pequim e o interesse das big techs americanas em manter participação numa das maiores praças de chips do mundo.

Bastidores e reações

A excepcionalidade do acordo provocou ruído em Washington e Pequim. Setores técnicos questionam se a monetização de licenças não enfraquece o argumento de segurança nacional, enquanto autoridades e analistas na China veem o acerto como perda de margem de negociação e encarecimento do acesso a hardware crítico. No mercado, as ações de Nvidia e AMD oscilaram com as manchetes.

Impacto para o Brasil, a IA e a soberania digital

Para o ecossistema brasileiro de datacenters e nuvem, o custo extra tende a aparecer na ponta do cliente, por preço, prazos e disponibilidade de GPU [Unidade de Processamento Gráfico]. Projetos públicos e privados que dependem de capacidade de inferência podem sofrer repasse de custos e alongamento de cronogramas. Há, porém, uma janela de oportunidade, com estímulo à diversificação de fornecedores, ao investimento local em semicondutores e à compra cooperada por universidades e órgãos públicos. Em termos de soberania, o recado é claro, a política industrial de chips virou instrumento geopolítico, e quem não planejar dependências ficará preso a decisões alheias.

O que observar a seguir:

  1. Detalhes contratuais das licenças e do mecanismo de repasse de 15%, inclusive auditoria e fiscalização.
  2. Possíveis contestações no Congresso dos EUA e no Judiciário.
  3. Respostas da China, de aliados europeus e do setor privado, inclusive ajustes em cadeias de fornecimento.
  4. Efeitos em preços de GPUs no atacado e no varejo, com reflexo em nuvem e IA aplicada.

Pedágio tecnológico

O acordo inaugura uma fase em que Washington cobra pedágio sobre tecnologia crítica exportada à China, deslocando o debate de segurança para a arrecadação e para o jogo de poder. É sintoma de uma geopolítica que terceiriza custos às empresas e, por consequência, aos países consumidores, como o Brasil.

Defender soberania digital significa reduzir vulnerabilidades, investir em P&D [Pesquisa e Desenvolvimento] e exigir transparência de contratos que afetam preços, prazos e inovação. É hora de o Estado brasileiro mapear impactos, coordenar compras públicas e articular política industrial, para que a economia real não vire refém da disputa entre gigantes.

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