Tarifaço Trump: brasil em xeque final para evitar taxação de 50%

O Brasil vive uma semana dramática e decisiva para evitar o temido tarifaço de Donald Trump, que pode impor taxas de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto de 2025. Enquanto Estados Unidos e União Europeia fecharam um acordo para uma tarifa de 15%, o governo brasileiro ainda luta para estabelecer um canal direto de negociação com a Casa Branca, com o tempo se esgotando rapidamente.

A semana começou com um misto de alívio e pressão. O acordo entre EUA e UE, anunciado após reunião entre Trump e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, prevê uma tarifa-base de 15% sobre a maioria dos produtos, incluindo automóveis. Aço e alumínio, contudo, manterão a taxa de 50%. Este entendimento, que inclui investimentos de US$ 600 bilhões nos EUA e compra de US$ 750 bilhões em produtos energéticos europeus nos próximos três anos, sinaliza a estratégia de negociação de Trump: tarifas menores em troca de volumosos investimentos e abertura de mercados. Para o Brasil, contudo, a situação é mais complexa, já que os EUA já possuem superávit comercial com o país, dificultando uma barganha nos mesmos moldes.

Bastidores da resistência brasileira

O governo Lula, por meio do chanceler Mauro Vieira e do vice-presidente Geraldo Alckmin, tem tentado abrir diálogo. No entanto, os canais de negociação com os EUA parecem deliberadamente obstruídos. As autoridades americanas, segundo fontes do governo brasileiro, têm condicionado o debate a questões não comerciais, incluindo o processo judicial envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), uma linha vermelha para o Palácio do Planalto. O governo Lula não abre mão de restringir a conversa a temas puramente comerciais, rechaçando qualquer contaminação política ou ideológica.

A estratégia de Trump, conforme revelado em sua carta a Lula em 9 de julho de 2025, cita a “caça às bruxas” contra Bolsonaro e “centenas de ordens judiciais” que censurariam a liberdade de expressão como justificativa para o aumento da tarifação. O Brasil, no entanto, argumenta que o comércio internacional está sujeito a regras claras, e que a agressão ao sistema judicial brasileiro é incomparável com a situação da UE. O assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, afirmou em entrevista recente que “o comércio internacional está sujeito a regras, e elas têm que ser seguidas”.

Radar do poder: a missão dos senadores e o risco de “sangrar”

O chanceler Mauro Vieira está em Nova York nesta semana para uma reunião da ONU e, apesar dos esforços, ainda não há previsão de que seja recebido pela gestão Trump em Washington para discutir o tarifaço. Interlocutores de Vieira dizem que ele está disposto a ir à capital americana se houver um sinal positivo para conversas com algum representante autorizado a tratar de tarifas. Até o momento, as sinalizações de Washington são negativas. A participação de Vieira na conferência da ONU está programada para terminar na terça-feira, 29 de julho.

Paralelamente, uma comitiva de senadores brasileiros, presidida por Nelsinho Trad (PSD-MS) e incluindo nomes como Jaques Wagner (PT-BA), Tereza Cristina (PP-MS) e Marcos Pontes (PL-SP), está em Washington. A agenda, porém, não inclui encontros com o Executivo americano, focando-se em sensibilizar líderes empresariais e senadores americanos sobre a importância de negociar. Embora a iniciativa seja vista como uma forma de tentar pressionar Trump por meio do setor privado, integrantes do Executivo reconhecem que os encontros devem ter pouco efeito prático a curto prazo.

José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil, alerta para a urgência: “Não temos muita coisa a fazer neste momento. Agora é torcer para que os EUA resolvam negociar. Quanto mais rápido isso acontecer, menores os prejuízos para o Brasil.” Castro prevê que Trump pode usar o tempo para “deixar o Brasil sangrar muito”, e que o país não tem margem para propor acordos nos moldes dos firmados com Japão e outros parceiros.

O que está pegando?

  • Prazo final: 1º de agosto de 2025, data para a possível implementação da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros.
  • Acordo EUA-UE: Trump e Ursula von der Leyen fecharam um acordo para tarifas de 15%, aliviando a ameaça de 30% para a Europa.
  • Negociação do Brasil: O Brasil busca um canal direto com a Casa Branca, mas esbarra na resistência americana em dialogar sobre questões puramente comerciais.
  • Ponto de discórdia: EUA querem incluir questões políticas, como o julgamento de Jair Bolsonaro, nas negociações, o que o governo Lula rechaça.
  • Viagem do chanceler: Mauro Vieira está em Nova York, mas sem previsão de ir a Washington para negociar as tarifas devido à falta de sinalização positiva da Casa Branca.
  • Missão de senadores: Comitiva brasileira tenta sensibilizar empresários e parlamentares americanos, mas sem agenda confirmada com o Executivo.

A Casa Branca, consciente de que o déficit comercial não se aplica ao Brasil (os EUA têm superávit com o país), prepara uma nova base legal para justificar a imposição das tarifas. O governo americano deve incluir uma nova declaração de emergência econômica no decreto, para tornar a medida mais robusta. Essa movimentação é vista por analistas como uma forma de contornar a falta de um argumento comercial claro e, assim, aplicar a sobretaxa sob outra justificativa.

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