O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), comemora a aprovação do PL Antifacção enquanto o governo Lula acusa a Câmara de entregar um projeto que fragiliza a Polícia Federal, protege o colarinho branco e criminaliza periferias, pobres e pretos.
A votação ocorreu no mesmo dia em que a Polícia Federal prendeu Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, suspeito de golpe bilionário envolvendo o Banco de Brasília e interesses dos governos do Rio de Janeiro e do Distrito Federal.
Parlamentares ligados ao Palácio do Planalto questionaram no Plenário se esses governadores teriam autorizado a operação da PF caso o texto inicial de Guilherme Derrite (PP-SP) já estivesse valendo.
Esses mesmos governos do DF e do Rio reivindicam o poder de autorizar operações federais.
A pergunta ficou sem resposta.
A bancada bolsonarista ignorou o alerta e garantiu o placar para Derrite, aliado de Tarcísio e afagado pelos interesses da Faria Lima, que pressionou por mudanças benéficas ao mercado financeiro ao longo da tramitação.
O relatório de Derrite virou sinônimo de improviso legislativo.
Foram seis versões produzidas às pressas, sempre recuando nos pontos que fortaleciam a PF e endureciam contra o crime financeiro.
A retirada do Funapol como destino do dinheiro apreendido, denunciada pela Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal, descapitaliza o órgão e rompe o ciclo de reinvestimento no combate ao crime organizado.
Na nota pública, os delegados afirmam que o texto representa retrocesso e fragiliza a coerência jurídica, além de favorecer o colarinho branco ao esvaziar instrumentos de estrangulamento financeiro das facções.
A crítica mais incisiva no Plenário veio do deputado Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ), que afirmou que o texto não enfrenta facção nenhuma.
Segundo ele, o PL criminaliza o povo pobre e blinda operadores que movimentam bilhões em lavagem de dinheiro.

O líder do PT, Lindbergh Farias (PT-RJ), reforçou que o relatório virou um Frankenstein que retira recursos da PF, dificulta a descapitalização das facções e blinda o andar de cima.
No Palácio do Planalto, a avaliação é direta: o projeto aprovado prejudica a capacidade do Estado de investigar e punir o crime organizado financeiro.
A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, afirma que a proposta desmonta o projeto original do governo e abandona a técnica.
Ela diz que o texto cria conflitos legais que podem aplicar pena mais branda aos ricos.
Gleisi lembrou que a operação da PF que prendeu Vorcaro não teria ocorrido se estivesse em vigor a versão inicial que submetia a PF à autorização de governadores.
Para ela, o substitutivo destruiu praticamente tudo.
A ministra critica a derrubada do perdimento rápido de bens, a diluição dos fundos federais e as brechas que favorecem facções e criminosos com poder econômico.
“Foi uma lambança legislativa, não houve discussão séria com ninguém”, afirmou.
Mesmo assim, Tarcísio usou as redes para cantar vitória, transformando a aprovação em suposta conquista nacional.
O governador disseminou discurso de guerra e ignorou críticas de delegados, juristas e especialistas em segurança pública.
Foi nesse clima que uma fotografia do painel de votação viralizou na Câmara.
Apelidada de “contagem de garrafas”, a imagem virou troféu simbólico da extrema direita, que interpretou o alinhamento dos votos como a prévia da frente anti-Lula, anti-PT e anti-esquerda para 2026.
Nos corredores, bolsonaristas comentavam que o placar do PL Antifacção seria o embrião da coalizão que pretendem levar ao segundo turno contra o lulismo.

A leitura governista é completamente diferente.
Para ministros e aliados, a fotografia apenas confirma o uso eleitoral da pauta de segurança pública pela direita, mesmo às custas de enfraquecer a Polícia Federal.
Um deputado da base lembrou que a PF prendeu pela manhã um banqueiro ligado a governos conservadores na mesma noite em que a extrema direita comemorava o PL que limita a atuação federal.
Outro resumiu o clima dizendo que a suposta frente anti-PT vista na imagem “é mais espuma digital do que estrutura real”.
A comemoração ocorre no momento em que a PF encurrala operadores do sistema financeiro suspeitos de desviar até R$ 12 bilhões.
Parte desses desvios envolve governos aliados de direita, que colocaram dinheiro público no banco Master mesmo sabendo dos riscos.
O contraste expõe a pergunta central: quem ganha com o enfraquecimento da Polícia Federal?
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Veja como votaram os partidos no PL Antifacção


Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.





