Putin e Kim Jong-un: encontro estratégico causa urticária em países ocidentais

Dois líderes globais, Vladimir Putin, o presidente russo, e Kim Jong-un, o dirigente da Coreia do Norte, protagonizaram um encontro marcante no Cosmódromo de Vostochny, no leste da Rússia, em 13 de setembro.

Este encontro sinaliza uma possível nova era nas relações entre Moscou e Pyongyang, à medida que dois líderes, que por muito tempo estiveram isolados em um cenário de conflito, buscam uma parceria em busca de apoio mútuo.

A Rússia, que se encontra em meio a uma guerra brutal na Ucrânia há quase 19 meses, chegou a esse encontro em busca de mais recursos bélicos e equipamentos para fortalecer seu esforço de guerra.

Nesse sentido, a Coreia do Norte se apresenta como uma fonte potencialmente abundante desses recursos.

Por outro lado, a Coreia do Norte estava ávida por alimentos, combustível, recursos financeiros e assistência tecnológica para seus programas de mísseis e satélites, bem como peças para sua frota de aeronaves militares e civis, de origem soviética.

Ao término das discussões, não ficou evidente se algum acordo concreto havia sido firmado.

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No entanto, Putin demonstrou otimismo em suas declarações à imprensa estatal.

Ele destacou a possível colaboração em infraestrutura, abrangendo rodovias, ferrovias, portos e iniciativas agrícolas, além de mencionar a perspectiva de cooperação no âmbito militar, mesmo diante das sanções impostas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas contra a Coreia do Norte em relação ao seu programa nuclear.

Putin enfatizou que a Rússia respeita tais restrições, mas vê margem para discussão em alguns aspectos.

Embora não se tenha clareza sobre a concretização de acordos, o encontro transmitiu uma mensagem direta para Washington: o apoio do Ocidente à Ucrânia terá implicações.

Neste caso, as implicações se traduzem no estreitamento dos laços entre Moscou e o regime autoritário de Kim Jong-un.

Durante anos, a Rússia se apresentou como um parceiro cooperativo, disposto a unir esforços com os demais membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas em uma empreitada internacional para conter as ambições nucleares de Kim Jong-un.

No entanto, essa postura parece ter sido deixada de lado, com escassa menção pública ao desarmamento nuclear durante o encontro.

A guerra na Ucrânia tornou a Coreia do Norte mais relevante para a Rússia do que em muitos anos.

No entanto, vale ressaltar que a Coreia do Norte, apesar de seu histórico como um parceiro problemático, já havia suscitado a cautela de Moscou devido ao seu programa de armas nucleares.

De acordo com Scott Snyder, especialista em estudos coreanos do Conselho de Relações Exteriores, essa relação historicamente tem sido caracterizada por transações comerciais.

Atualmente, esses dois aspectos da relação parecem estar mais alinhados do que em muitos anos, dadas as necessidades de ambos os lados.

Na Ucrânia, o exército de Putin se encontra na defensiva, com análises indicando que será incapaz de realizar avanços substanciais antes do final do ano, avalia o jornal americano The New York Times.

Tanto a Rússia quanto a Ucrânia enfrentam escassez de munições.

Nesse contexto, as discussões ressaltam como as demandas da guerra e as sanções internacionais resultantes estão moldando a agenda diplomática de Putin, levando-o a buscar o apoio de líderes dispostos a se unirem contra os Estados Unidos ou a fornecerem suporte à Rússia em sua guerra contra a Ucrânia.

Kim Jong-un, que é fortemente dependente da China, encontrou oportunidades na crescente rivalidade entre China e Estados Unidos, bem como na guerra da Rússia na Ucrânia.

Embora a Coreia do Norte e a China tenham afirmado ter relações tão próximas quanto “lábios e dentes”, Kim Jong-un tem buscado reduzir a influência de Pequim em seu país, explorando novas fontes de comércio.

A Rússia, que compartilha uma pequena fronteira com a Coreia do Norte, surge como uma possível alternativa.

No entanto, Putin precisa agir com cautela para não desagradar à China, pois depende do apoio chinês.

A presença de Kim Jong-un na Rússia, viajando em seu trem blindado, simboliza a importância desse encontro para ambas as nações.

O Cosmódromo de Vostochny, erguido por Putin como parte de um esforço mais amplo para restaurar a grandiosidade da Rússia, é um local emblemático para esses dois países, que nutrem ambições notáveis no campo espacial, apesar de contratempos recentes.

No mês passado, uma sonda robótica russa, lançada do Cosmódromo, colidiu acidentalmente com a lua durante sua trajetória rumo à superfície lunar.

Poucos dias depois, a segunda tentativa da Coreia do Norte de lançar um satélite de reconhecimento também resultou em fracasso.

Enquanto Putin e Kim exploravam o local, destacando a importância da colaboração espacial, a Coreia do Norte lançou dois mísseis balísticos de curto alcance em sua costa leste, marcando a primeira vez que o país realizou um teste de mísseis durante uma rara viagem de Kim Jong-un ao exterior.

Após discussões detalhadas, incluindo um banquete de seis pratos, informações públicas sobre resultados concretos do encontro permanecem limitadas.

No entanto, Putin e Kim brindaram em um almoço, enfatizando a amizade e a colaboração entre seus países.

Kim Jong-un anunciou ter chegado a um consenso com Putin sobre o fortalecimento da cooperação estratégica e tática.

Ele também elogiou o esforço de guerra da Rússia, chamando-o de “justo”.

Enquanto a Coreia do Norte enfrenta sanções internacionais e desafios econômicos domésticos, ela mantém um dos maiores exércitos permanentes do mundo e uma robusta indústria de defesa.

Em julho, o ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, visitou Pyongyang para celebrar o aniversário do armistício que pôs fim à Guerra da Coreia.

Autoridades dos EUA têm repetidamente alertado sobre o suposto envio de projéteis de artilharia e foguetes da Coreia do Norte para uso russo na Ucrânia.

Há preocupações de que o encontro entre Kim Jong-un e Putin possa resultar em acordos adicionais de armamento, embora seja possível que tais acordos nunca sejam anunciados publicamente.

Recentemente, Kim Jong-un visitou fábricas de munições na Coreia do Norte, exortando-as a acelerar a produção de lançadores de foguetes múltiplos, rifles de precisão, drones e mísseis, de acordo com a mídia estatal do país.

A Coreia do Norte enfrenta desafios técnicos críticos em seus esforços para desenvolver mísseis balísticos intercontinentais, submarinos de mísseis balísticos, satélites de reconhecimento militar e sistemas de defesa antimísseis, áreas em que poderia se beneficiar substancialmente da tecnologia russa.

No ano passado, um comitê de sanções da ONU informou que um diplomata norte-coreano na Rússia havia tentado adquirir materiais proibidos para o programa de mísseis balísticos intercontinentais da Coreia do Norte.

O encontro entre Putin e Kim Jong-un, embora não tenha produzido resultados claros, reflete a complexa dinâmica geopolítica em jogo.

À medida que a Rússia busca apoio e recursos em meio a uma guerra prolongada, a Coreia do Norte procura novas fontes de comércio e assistência técnica em um contexto de crescente rivalidade entre as potências globais.

A relação entre esses dois países pode moldar eventos futuros na cena internacional, e é crucial observar como ela evoluirá nas próximas semanas e meses.

Enquanto isso, o mundo permanece atento às implicações desse encontro nas tensões globais e na situação na Ucrânia.

Como o lado russo reportou o encontro entre Putin e Kim Jong-un

O Blog do Esmael também buscou um ângulo diferente, em nome da pluralidade de ideias, para o encontro havido na Rússia entre Putin e Kim Jong-un.

De acordo com a agência de notícias russas TASS, os dois líderes comprometeram-se a fortalecer os laços bilaterais, causando reações em Washington e destacando a impossibilidade de isolar a Rússia.

O encontro histórico marcou a primeira reunião em quatro anos entre Putin e Kim, reforçando o interesse mútuo em promover a cooperação econômica, política e cultural.

Enquanto a Rússia respeita as sanções do Conselho de Segurança da ONU contra a Coreia do Norte, há potencial para colaboração militar entre os países vizinhos.

Os líderes delinearam os principais assuntos da agenda durante uma fase inicial das conversações abertas à imprensa, que duraram apenas nove minutos, antes de continuar o diálogo à porta fechada.

Kim Jong Un enfatizou a importância de expandir as relações com Moscou, especialmente na esfera política, oferecendo apoio político em um ambiente geopolítico desafiador.

Embora os ministros da defesa dos dois países tenham participado das negociações, não houve discussão aberta sobre cooperação técnico-militar.

A visita de Kim é vista como um passo importante para facilitar a implementação de acordos de cooperação econômica bilateral.

A Coreia do Norte demonstra interesse em parcerias industriais cooperativas, intercâmbios agrícolas e culturais, que podem se fortalecer após a pandemia.

A diretora do Centro de Estudos Coreanos do Instituto da China e da Ásia Moderna da Academia Russa de Ciências, Victoria Samsonova, destacou a prioridade dada à cooperação econômica, científica e tecnológica entre Rússia e Coreia do Norte, ressaltando a necessidade de discutir a expansão do comércio, que enfrenta desafios devido ao regime de sanções.

O Fórum Econômico Oriental (EEF), realizado em Vladivostok, trouxe à tona o pivô de Moscou para o leste e refutou a ideia de isolar a Rússia.

A comunidade empresarial do Sudeste Asiático mostrou grande interesse em projetos russos durante o evento anual.

O foco principal foi estabelecer contatos com parceiros do Leste Asiático, visando projetos individuais.

A diretora geral da agência de comunicações CROS, Ekaterina Movsesyan, destacou a importância de acordos de cooperação, interação tecnológica e criação de joint ventures no Extremo Oriente russo.

A região deve se tornar um local chave para desenvolvimentos futuros.

Os analistas previram que o número de contratos assinados no EEF-2023 seria semelhante ao ano anterior, atingindo cerca de 3,2 bilhões de rublos.

O resultado político mais importante do fórum foi refutar a ideia de que a Rússia poderia ser isolada, segundo Vladimir Dzhabarov, primeiro vice-presidente da Comissão dos Negócios Estrangeiros do Conselho da Federação.

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