Michelle Bolsonaro, a garota problema dos Bolsonaro – Caixa 2 e rachadinha sob investigação do STF

A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro é suspeita de se beneficar de “rachadinha”, um esquema de desvio de salários de funcionários, durante sua passagem pelo Palácio da Alvorada, residência oficial da presidência da República do Brasil. Além disso, ela é ligada ao “caixa 2” da presidência. A atual investigação está sendo realizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

O período em que a residência oficial foi ocupada pelos Bolsonaro foi marcado por confusões barulhentas, assédio moral a funcionários e transações financeiras pouco usuais. Reportagemdo site Metrópoles teve acesso a depoimentos, documentos e outros registros inéditos, como gravações e mensagens de WhatsApp.

Michelle protagonizou frequentes brigas com seus filhos Carlos e Jair Renan. Em uma dessas confusões, na frente dos empregados, Jair Renan precisou ser contido pelo pescoço por um segurança. Em outro momento, Jair Bolsonaro arrombou a adega do palácio.

Funcionários próximos aos Bolsonaro levaram caixas de comida, incluindo picanha, camarão e bacalhau, no fim do governo. Essas histórias ilustram o comportamento da família longe dos holofotes, em contraste com seu discurso público.

Longe do público, comportamento diabólico

Michelle, a ex-primeira-dama, apresentava-se como uma pessoa afável e sorridente para o público externo, mas a realidade era bem diferente para aqueles que conviviam com ela de perto no Alvorada. Relatos indicam que Michelle era uma pessoa temperamental, com mudanças súbitas de humor, e que costumava tratar mal a equipe de funcionários que a auxiliava. Algumas assessoras chegaram a pedir demissão devido ao mau trato. Pelo menos uma delas cogitou processá-la por assédio, mas acabou desistindo por entender que não teria força para levar adiante a querela judicial.

O Alvorada é uma megaestrutura palaciana com cerca de 200 funcionários, incluindo civis e militares, que cuidam do atendimento direto aos inquilinos e dos serviços de manutenção. Em fevereiro de 2021, Michelle confiou o comando do Alvorada ao pastor Francisco de Assis Castelo Branco, conhecido como Chico. O pastor era próximo da família Bolsonaro desde os tempos em que eles moravam no Rio de Janeiro e foi empregado no governo após a vitória de Bolsonaro nas eleições de 2018.

Economia

No cargo de coordenador do Alvorada, o pastor ganhou o apelido de “pastor-capeta” pelo rigor com que tratava os subordinados. A fama de mau chefe se espalhou rapidamente devido a sua maneira de lidar com os empregados e as sucessivas demissões que promoveu. Alguns funcionários foram demitidos por levarem para casa algumas mangas do pomar do palácio, algo que era corriqueiro antes da chegada dele. Segundo um funcionário, o pastor ameaçava com demissão o tempo todo e dizia que Michelle tinha conhecimento e autorizava tal postura.

Em um incidente do ano passado, o pastor convocou uma reunião com os funcionários da empreiteira contratada para cuidar da jardinagem do Alvorada. Ele queria chamar a atenção de funcionários que se queixaram por falta de equipamentos de proteção individual, mas acabou agredindo verbalmente alguns deles. O episódio foi filmado e divulgado nas redes sociais, gerando críticas e protestos contra a postura do pastor.

Bolsonaro, o arrombador de adega

Imagine um presidente da República, em um ataque de raiva, chutando e derrubando uma porta dentro do palácio presidencial. Foi o que aconteceu.

Jair Bolsonaro recebia um visitante no Alvorada quando teve a ideia de presenteá-lo com uma garrafa de vinho. Os dois dirigiram-se então para a garrafeira, instalada num dos quartos da cave do palácio, junto à cozinha.

Ao chegar, o então presidente encontrou a porta trancada e pediu aos funcionários de plantão que lhe trouxessem a chave. Ele foi informado de que havia uma ordem expressa de Michelle de que a adega não deveria ser aberta para ninguém – nem mesmo para ele.

Entre os funcionários, o motivo do pedido era conhecido, embora não tenha sido pronunciado na íntegra devido à delicadeza do assunto: Michelle estava furiosa porque Jair Renan, quarto filho de Bolsonaro, estava visitando o Alvorada fora do expediente – longe dos olhos dela, mas com a aprovação do pai – e levando garrafas de bebida com ele.

Para coibir a farra do menino, a solução foi trancar a adega e fazer cumprir a ordem, que foi cumprida a ferro e fogo.

Os funcionários tinham mais medo da primeira-dama do que do próprio Bolsonaro. Muitas vezes, dentro do palácio, o personagem autoritário e machista que era amplamente conhecido pelos brasileiros assumia outra versão, a de um marido obediente e resignado. Quase sempre foi assim. Mas houve exceções, e o capitão comandante e brutal voltou à cena.

Até chegar à adega, Bolsonaro não sabia do pedido de Michelle. Ele descobriu quando passou pelo constrangimento de ouvir dos funcionários na frente do hóspede que a porta simplesmente não podia ser aberta. Enfurecido, na frente do visitante e dos criados, invadiu a adega e pegou a garrafa de vinho que queria dar de presente. Não sem antes reclamar da situação. A porta ficou quebrada por dias (veja o relato no vídeo abaixo).

Guerra de Michelle com Carluxo e Jair Renan A relação de Michelle Bolsonaro com os filhos de Jair Bolsonaro de casamentos anteriores nunca foi das melhores. As brigas eram comuns. Flávio e Eduardo Bolsonaro, o primeiro e o terceiro, ainda tentaram manter certa proximidade. Com Carlos Bolsonaro e Jair Renan, o segundo e o quarto, porém, foi uma guerra quase permanente. Durante o período em que Bolsonaro e Michelle ocuparam a Alvorada, o palácio foi palco de várias brigas barulhentas entre o casal e a então primeira-dama. Uma delas aconteceu na semana do debate presidencial em que Bolsonaro e Lula se enfrentaram pela última vez antes do segundo turno da eleição.

Os funcionários dizem que Carlos chegou ao palácio acompanhado da sua escolta de segurança e foi impedido de entrar. ordens de Michelle. Seguiu-se uma ruidosa discussão entre ele e o administrador da residência, pastor Francisco Castelo Branco, encarregado pela então primeira-dama de fazer cumprir a interdição. Carluxo ainda tentou insistir, mas não teve jeito. Chorando e gritando no estacionamento do palácio, ele foi forçado a sair.

Bolsonaro, que havia passado as horas anteriores se preparando para o confronto com Lula, foi informado da briga. No fogo cruzado, ele se irritou, mas não…

As investigações do STF

Investigações do Supremo Tribunal Federal estão visando o tenente-coronel Mauro Cid por transações financeiras irregulares no gabinete do presidente Jair Bolsonaro. Segundo documentos e mensagens acessíveis à imprensa, Michelle Bolsonaro, então primeira-dama, costumava mandar seus auxiliares buscarem dinheiro com Cid. Essas operações sempre envolviam dinheiro em espécie.

Um grupo de confiança de Cid, formado por pelo menos três oficiais, estava sempre pronto para atender às solicitações de Michelle. Os recursos em espécie eram usados para pagar boletos, mensalidades de cursos e outras despesas particulares de Michelle e de sua família.

Mensagens de WhatsApp facilitam o trabalho dos investigadores, pois muitas dessas operações eram realizadas por meio de mensagens. Em algumas oportunidades, Michelle pediu transferências de valores maiores para sua conta pessoal. A equipe de Cid também fazia depósitos em espécie na boca do caixa.

Não foi possível entrar em contato com Jair e Michelle Bolsonaro, nem com o ex-administrador do Alvorada, Francisco Castelo Branco. Cid negou qualquer irregularidade e afirmou que as despesas particulares da família eram pagas com recursos retirados da conta pessoal do presidente. Rosimary Cordeiro, amiga de Michelle trabalhando no Senado, negou ter enviado envelopes com dinheiro para Michelle ou ter encontrado funcionários do Palácio para entregar “encomendas”.

O site Metrópoles ainda afirma que ainda há muito o que ser descoberto sobre os segredos do Alvorada na era Bolsonaro.

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