O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, denunciou a matança com 121 mortos no Rio de Janeiro e classificou a operação policial como desastrosa. Ele reforçou que o Estado não recebeu ordem para matar, mas para prender. Ao criticar governos que enxugam a presença pública, o mandatário expôs o colapso do receituário neoliberal adotado por Cláudio Castro, do PL fluminense, e por Tarcísio de Freitas, do Republicanos paulista, que apostam em força bruta e necropolítica como substitutos da ação estatal real.
“O dado concreto é que a operação do ponto de vista da quantidade de mortes as pessoas podem considerar que foi um sucesso, mas do ponto de vista da ação do Estado, eu acho que ela foi desastrosa”, afirmou Lula a jornalistas estrangeiros.
A crítica ressalta o clamor social e de especialistas em segurança, que há anos alertam para o óbvio: a guerra declarada nas periferias esconde o florescimento do crime organizado onde o Estado é ausente e o dinheiro é farto. Nos gabinetes, nos portos, nos condomínios e nos fluxos financeiros. Pesquisas recentes e relatórios de inteligência mostram que os chefes e financiadores do tráfico circulam entre os mais ricos, enquanto as comunidades pobres seguem como alvo preferencial de operações que enxugam gelo e sacrificam vidas.
“Nós inclusive estamos tentando ver se os legistas da Polícia Federal participam da investigação do processo. A decisão do juiz era uma ordem de prisão, não tinha ordem de matança, e houve a matança. É preciso esclarecer em que condições ela se deu”, reforçou o presidente.
A instalação da CPI do Crime Organizado no Senado reacende o debate sobre o modelo de segurança pública no país. A comissão será presidida pelo senador Fábio Contarato, do PT do Espírito Santo, e relatada pelo senador Alessandro Vieira, do MDB de Sergipe. A expectativa entre lideranças progressistas é que o colegiado vá além do discurso bélico, mirando o coração financeiro das facções e das milícias, onde se decide quem vive e quem morre.
A operação no Rio foi apresentada como ofensiva contra o Comando Vermelho. No entanto, o saldo oficial de 121 mortos transformou a ação na mais letal da história do país. Aliados de Lula dizem que a tragédia escancarou a falência de uma política que criminaliza territórios, não fortunas, e confunde pobreza com crime, enquanto protege estruturas econômicas e políticas que movimentam bilhões.
A reação do governador Castro, que acusou o governo federal de negligência e pediu apoio das Forças Armadas, foi rebatida por ministros como Ricardo Lewandowski. O Planalto lembra que houve transferência de presos para o sistema federal e articulação institucional. Nos bastidores, cresce a cobrança por intervenção federal diante do risco de novas chacinas. O debate recoloca o nome do ex-secretário Ricardo Cappelli, que coordenou a resposta aos ataques golpistas de 8 de janeiro, caso se entenda necessária atuação excepcional.
A história mostra que operações espetaculares não reduzem o crime, mas ampliam o luto. O Rio vive sob essa lógica há décadas: corta serviços, desmonta políticas sociais, sabota o Estado e depois usa o Estado apenas para matar. O resultado está à vista. Vidas negras e pobres empilhadas, crianças sem aula, mães em luto, direitos em ruínas e uma elite blindada que sobrevoa a tragédia de helicóptero.
A democracia exige Estado forte, inteligente e presente, capaz de proteger vidas e desmontar o crime onde ele realmente opera. A CPI terá papel decisivo ao seguir o dinheiro, expor vínculos, cortar fluxos ilícitos e devolver dignidade às vítimas invisíveis. O Brasil vive um divisor de águas entre civilização e barbárie. Segurança não se mede em corpos, mas em direitos, futuro e dignidade.
A matança no Rio escancara o fracasso da necropolítica e dos governos que tratam pobres como inimigos internos. Segurança não se faz com contagem de mortos, mas com dignidade, inteligência e Estado forte. Compartilhe e participe do debate por justiça e democracia no Brasil.

Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.






