Lula inocentado, Moro julgado e Bolsonaro usando máscara

  • Lula, o pesadelo da direita e de Bolsonaro

por Arilson Chiorato*

Há exato um mês, escrevi nesta coluna semanal que, “para Moro, a pompa de herói nacional anticorrupção caiu por terra”. Acontece que esta figura grandiosa criada midiaticamente virou farelo, mas não só ela, a carreira do ex-juiz também está a um passo de ser enterrada e com direito a desmérito.

Há uma semana, o Ministro do STF Edson Fachin anulou todos os processos do ex-presidente Lula que corriam na 13ª Vara Federal de Curitiba, sob a justificativa de que estes processos não eram de competência da Operação Lava Jato. Ora, se esta é a justificativa, o processo deveria ter sido anulado há anos. Por que esperar tanto tempo para tomar uma decisão baseada em uma justificativa tão simples e óbvia?

Mas não ficou por aí, após especulações de que o Ministro Fachin estaria atuando para salvar a Operação Lava Jato da mácula de Sergio Moro, que a cada dia está se afundando mais, o Ministro Gilmar Mendes, no dia seguinte, pautou na sessão do STF o processo de suspeição do ex-juiz Sergio Moro. Este processo estava fora do plenário desde 2018 e vai definir se Moro atuou ou não de forma parcial na condução dos processos do ex-presidente.

Ainda em 2018, dois Ministros já haviam declarado voto contrário à parcialidade do ex-juiz, Edson Fachin e Carmem Lucia. Com o processo novamente em pauta, os Ministros Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski votaram indicando a parcialidade do ex-juiz na condução dos processos. A sessão acabou com pedido de vista do Ministro Kassio Nunes Marques.

O resumo da ópera é que Lula passa a ser elegível e tem anulados os processos carregados de vícios e perseguições, enquanto Moro responde por seus atos que não condizem com as obrigações e ética de um juiz. É como aquele ditado popular, “matar dois coelhos com uma cajadada só”.

Economia

Como não podia ser diferente, o desdobramento para estes fatos foi um discurso histórico de Lula, com cobertura das mídias convencionais e que abalou a estrutura e o cenário político nacional. Lula mais uma vez mostrou o líder grandioso e fenomenal que é. Denunciou a farsa da Lava Jato, as perseguições do ex-juiz e aproveitou para chamar a atenção da população para a necropolítica do Governo Bolsonaro.

Lula falou sobre a desigualdade social, fome, miséria, crise econômica e sanitária e sobre o descaso desse governo que nega a Ciência e ignora a vida e o sofrimento de milhões de brasileiros e brasileiras. Denunciou o descaso de Bolsonaro e cravou seus questionamentos, fazendo com que seu discurso repercutisse e rendesse inclusive a mudança de comportamento do presidente negacionista.

Horas após o discurso de Lula, o presidente Bolsonaro já passou a usar máscara e defender a vacina. Constrangido pela repercussão positiva e a comoção que o pronunciamento do ex-presidente causou, Bolsonaro não teve outra saída a não ser se preocupar com o centrão e com as eleições de 2022.

Se confirmada, a demissão do Ministro da Saúde, o General Pazuello, noticiada no dia de ontem, é mais um resultado do discurso de Lula. Essa possível demissão tem a evidente tentativa de livrar Bolsonaro da política negacionista irresponsável que levou o Brasil a essa situação de caos social e colapso na saúde, Pazuello não passaria de um bode expiatório. O “ex-ministro” Pazuello vai assumir e “matar no peito” todo o desgaste e a opção política do Governo em ignorar a pandemia e negar a Ciência.

O que não podemos perder de vista é que Pazuello não atuou sozinho, apenas cumpriu a cartilha de seu chefe. Agora, Bolsonaro vai procurar um nome para o Ministério da Saúde que contrarie tudo aquilo que ele próprio acredita, mas que vai no caminho de tudo o aquilo que Lula defendeu. Visa obviamente atenuar as críticas sobre a atuação desastrosa de seu governo frente a pandemia e de impedir solo fértil para que Lula polarize com ele.

A semana que passou foi um pesadelo para a direita, provou mais uma vez que toda essa perseguição, agora desmontada, tinha como objetivo central a retirada de Lula do cenário político e principalmente eleitoral. Pois, o que este homem falou em um discurso de pouco mais de uma hora foi o suficiente para reverter o comportamento do atual governo e movimentar as peças para a disputa de 2022. O carisma de Lula, sua trajetória e oratória impecável deixam qualquer adversário apavorado e é evidente que eles sabem disso, Lula é o pesadelo da direita e de Bolsonaro.

*Arilson Chiorato é Deputado Estadual, Presidente do PT – Paraná e Mestre em Gestão Urbana pela PUC-PR. Coordenador da Frente Parlamentar sobre o Pedágio.