Lula e Biden querem trabalho digno em tempos de neoliberalismo econômico

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, reafirmaram o compromisso de seus países com a promoção do trabalho digno e a sustentabilidade ambiental, nesta quarta-feira (20/9), em Nova York, durante em um encontro paralelo à 78ª Assembleia Geral da ONU.

[Abaixo, você lê a íntegra do pronunciamento de Lula no lançamento Declaração Conjunta Brasil-EUA sobre a Parceria pelos Direitos dos Trabalhadores e Trabalhadoras.]

A reunião, a segunda bilateral entre os líderes em 2023, marca um novo capítulo na relação entre Brasil e Estados Unidos, uma parceria soberana e de interesses comuns.

Em seu discurso, o presidente Lula destacou o momento histórico que o Brasil vive em sua transição ecológica e na mudança de matriz energética.

O país está investindo maciçamente em fontes de energia limpa, como solar, eólica, biomassa, biodiesel, etanol e hidrogênio verde.

Esses investimentos não apenas promovem a sustentabilidade, mas também abrem portas para uma colaboração excepcional entre o Brasil e os Estados Unidos.

Economia

A energia solar e eólica estão em ascensão no Brasil, com projetos que impulsionam a geração de empregos e a independência energética.

Além disso, a produção de biocombustíveis e etanol no país é um exemplo de know-how e sustentabilidade.

Esses avanços oferecem oportunidades únicas para cooperação bilateral.

O presidente brasileiro enfatizou a importância da democracia em um mundo em que a política enfrenta desafios significativos.

A negação da política em várias partes do mundo tem permitido o crescimento de setores extremistas que ameaçam a estabilidade das democracias.

Nesse contexto, é vital que líderes democráticos, como Brasil e Estados Unidos, se unam para preservar os valores democráticos.

Por sua vez, o presidente Biden reiterou o compromisso dos Estados Unidos em trabalhar em conjunto com o Brasil para preservar o meio ambiente.

Ambos os líderes concordaram em mobilizar recursos financeiros significativos para a proteção da Amazônia e dos ecossistemas cruciais na América Latina.

Além disso, a cooperação atlântica será uma prioridade, promovendo o crescimento econômico sustentável.

Durante a Cúpula do G20, realizada na Índia no início de setembro, os presidentes Lula e Biden anunciaram o lançamento da Aliança Global pelos Biocombustíveis.

Essa iniciativa reconhece o papel fundamental dos biocombustíveis e dos veículos flex na descarbonização do setor de transportes.

O Brasil, com sua expertise na produção e uso de etanol, é destaque nesse cenário.

A Aliança Global pelos Biocombustíveis busca fomentar a produção sustentável e o consumo desses produtos, colocando o Brasil em uma posição de destaque global devido à sua experiência em produção e manejo sustentável de biocombustíveis.

Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil no mundo, atrás apenas da China. Em 2022, o comércio bilateral movimentou US$ 88,7 bilhões, evidenciando a relevância dessa relação.

As exportações brasileiras totalizaram US$ 37 bilhões, enquanto as importações dos EUA alcançaram US$ 51,3 bilhões.

Na visita do presidente Lula a Washington no início do ano, ambos os líderes enfatizaram a importância da democracia, dos direitos humanos e da ação climática.

Compromissos foram feitos para revitalizar o Grupo de Trabalho de Alto Nível Brasil-EUA sobre Mudança do Clima e fortalecer o Plano de Ação Conjunta Brasil-EUA para a Eliminação da Discriminação Étnico-Racial e Promoção da Igualdade.

Em resumo, o encontro entre os presidentes Lula e Biden marca um momento crucial na parceria entre Brasil e Estados Unidos, com ênfase na sustentabilidade, democracia e cooperação econômica.

O Brasil, em sua jornada de transição ecológica e energética, oferece oportunidades ímpares para uma colaboração significativa que beneficiará ambos os países e o mundo em geral.

Aqui, você lê a íntegra do pronunciamento do presidente Lula no lançamento da Parceria pelos Direitos dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Primeiro, gostaria de cumprimentar o presidente Biden e dizer para o presidente que esse momento é um momento histórico para o Brasil e para os Estados Unidos. Quero cumprimentar a delegação brasileira que está comigo e a delegação americana que está com o presidente Biden. Quero cumprimentar a minha esposa que está aqui. Quero cumprimentar os sindicalistas brasileiros que vieram a convite do meu ministro do Trabalho, Luiz Marinho, e quero cumprimentar os sindicalistas americanos com quem sempre mantivemos uma relação extraordinária.

Primeiro, eu tenho a felicidade de compartilhar com o presidente Biden essa parceria pelo direito dos trabalhadores. E muito me honra a presença do companheiro Gilbert Houngbo, diretor-geral da Organização Internacional do Trabalho, e do companheiro Marinho, ministro do meu Trabalho.

Quero saudar a participação de líderes das principais centrais sindicais dos Estados Unidos, a quem devo muito, muita gratidão, porque, em todos os momentos difíceis que o movimento sindical brasileiro viveu, o sindicalismo americano estava prestando solidariedade aos sindicalistas brasileiros.

Quando eu ingressei na vida sindical, há muito tempo, eu jamais imaginei ser presidente da República do Brasil. E jamais imaginei estar no púlpito ao lado do presidente Biden, ao lado do diretor-geral da OIT discutindo a criação de uma política de trabalho decente, para melhorar a vida do povo trabalhador, sobretudo nesse mundo digitalizado, em que a inteligência artificial fala muito mais poderosamente que qualquer outra coisa. É um momento efetivamente de muita gratidão.

Nós sabemos o que aconteceu com a política neoliberal no mundo. O saldo é que nós temos hoje 2 bilhões de trabalhadores que estão no setor informal, segundo a OIT. O dado concreto é que nós temos 240 milhões de trabalhadores que, mesmo estando trabalhando, vivem com menos de US$ 1,90 por dia. É inaceitável que mulheres, minorias étnicas e pessoas LGBTQIA+ sejam discriminadas no mercado de trabalho.

Desde que voltei à Presidência do Brasil, tenho me empenhado em reconstruir um outro país. Em poucos meses, conseguimos uma coisa extraordinária. Já criamos, nos primeiros oito meses, 1 milhão e 200 mil empregos formais. O salário mínimo começou a aumentar acima da inflação depois de sete anos. Oitenta porcento das negociações coletivas estão sendo feitas com ganhos reais acima da inflação.

E aprovamos, presidente Biden e diretor-geral do OIT, aprovamos no Congresso Nacional, depois de décadas de espera, uma lei que garante à mulher receber o mesmo salário que o homem exercendo a mesma função. Parecia impossível.

Instalamos uma mesa de negociação entre sindicalistas, governo e empresários. E essa mesa de negociação está para construir não apenas uma perspectiva de emprego decente em função das plataformas que oferecem serviço precário. Mas também porque queremos criar, quem sabe, um novo marco de funcionamento na relação capital e trabalho. Uma relação do século 21, civilizada, mas atendendo inclusive à fala do presidente Biden.

Todas as pessoas que acreditam que sindicato fraco vai fazer com que o empresário ganhe mais, que o país fique melhor, está enganado. Não há democracia sem sindicato forte porque o sindicato é efetivamente quem fala pelo trabalhador para tentar defender os seus direitos.

Eu já disse aos sindicalistas americanos que a minha admiração pela visão que o presidente Biden tem dos sindicatos vem do primeiro discurso que ele fez na posse dele. Quando ele disse, textualmente, que a riqueza dos Estados Unidos não foi feita pelos empresários, foi feita pelos trabalhadores. Essa é a mais pura verdade.

Nós vamos fazer da transição energética uma oportunidade extraordinária para reindustrializar e, quem sabe, fazer com que os empregos virem empregos de qualidade. Nós estamos trabalhando diretamente com algumas coisas urgentes, presidente, que é o nosso compromisso: proteção dos direitos trabalhistas; promoção do trabalho digno e dos investimentos públicos e privados; combate à discriminação no local de trabalho; abordagem centrada dos trabalhadores na transição energética para energias limpas; e o último: uso de tecnologia e das transições digitais em prol do trabalho decente.

Essa iniciativa, presidente Biden, será levada avante pelo presidente dos Estados Unidos e por mim, em todos os fóruns internacionais que eu participar.

O Brasil preside, no ano que vem, o G20. Em 2025, nós vamos presidir os BRICS. Em 2025, nós vamos ter a COP 30 lá no coração da Amazônia. Em todos esses fóruns, pode estar certo, que nós estaremos trabalhando e tentando criar condições para que todos os governantes do mundo aceitem o protocolo como esse que estamos assinando aqui, porque todo ser humano, homem ou mulher, preto ou branco, tem direito ao trabalho decente.

Muito obrigado.

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