Juros altos irritam petistas e governo: Copom do Banco Central manteve taxa Selic em 13,75% ao ano

Nas vésperas da quarta reunião do Banco Central que manteve a taxa de juros inalterada, a presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), havia criticado os juros no cartão de crédito de 409% ao ano, que, segundo ela, são prejudiciais para as famílias e a economia em geral.

“Juros no cartão chegam a 409%! Inacreditável país conviver com isso”, protestou Gleisi, ao denunciar que mais de 50% das famílias estão endividadas.

Para Gleisi Hoffmann, não há economia que resista a uma taxa de juros de 13,5%. “O Brasil precisa urgente de crescimento, para gerar empregos e oportunidades. O país não pode ficar esperando que o Banco Central caia na real”, disse a dirigente petista após o Copom manter a taxa de juxos.

Outro petista importante no cenário nacional, o ex-governador do Paraná Roberto Requião, preferiu filosofar com a situação: “Se você tira o diabo para dançar, saiba que o diabo não muda, quem muda é você!”, escreveu no Twitter, cujo adágio também pode se encaixar no cenário das reeleições de Arthur Lira (PP-AL) e de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), na Câmara e no Senado, respectivamente.

O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, também tinha criticado os juros altos nas vésperas da reunião do Copom, que manteve os juros no céu. “Precisamos verificar por que o Brasil tem juros tão altos. O que justificaria? É imposto? É cunha fiscal? Para reduzir custo de capital. É falta de concorrência? Nos Estados Unidos tem 2.000 bancos. É insegurança econômica? Questão fiscal? Insegurança política? Dificuldade de reaver o crédito? Spread alto? O bom pagador paga pelo mau pagador?”, questionou.

Dito isso, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu manter a taxa Selic, juros básicos da economia, em 13,75% ao ano. A decisão foi unânime e não surpreendeu os analistas financeiros.

Economia

O Copom informou em comunicado que os juros podem permanecer altos por mais tempo do que o previsto e que não descartou a possibilidade de novas elevações, caso a inflação não se estabilize conforme o esperado. O objetivo é a convergência da inflação para o centro da meta para meados de 2024.

A taxa Selic está no maior nível desde janeiro de 2017, ou seja, há 4 reuniões seguidas em que o BC não mexeu na taxa. De março a junho de 2021, o Copom elevou a taxa em 0,75 ponto percentual a cada reunião, e no início de agosto do mesmo ano, elevou a Selic em 1 ponto a cada reunião. Com a alta da inflação e tensões no mercado financeiro, a Selic foi elevada em 1,5 ponto de outubro de 2021 a fevereiro de 2022. Em 2022, o Copom promoveu dois aumentos de 1 ponto em março e maio, e dois aumentos de 0,5 ponto em junho e agosto.

Antes do início do ciclo de alta, a Selic tinha sido reduzida para 2% ao ano, o nível mais baixo da série histórica iniciada em 1986, devido à contração econômica gerada pela pandemia de covid-19. A Selic é o principal instrumento do BC para manter a inflação sob controle. Em 2022, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou em 5,79%, acima do teto da meta de inflação. Para 2022, a meta de inflação é de 3,5%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual.

O Banco Central tornou-se independente no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), no entanto, a gestão Lula planeja retomar o controle dessa instituição financeira que define as taxas de juros. No entanto, mudar somente o titular pode não bastar, se continuar a mesma política econômica que privilegia o capital improdutivo, o desemprego e a ausência do Estado.

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