Igreja Católica: Campanha da Fratenidade 2023 discute a fome no Brasil

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lançou oficialmente a Campanha da Fraternidade 2023 sobre o tema da fome no Brasil. A campanha foi lançada na quarta-feira de cinzas com missa na capela Nossa Senhora Aparecida da sede da CNBB. O secretário-geral da CNBB, dom Joel Portella Amado, dedicou a celebração às pessoas que vivenciam a realidade da fome, vítimas de enchentes, guerras, catástrofes e violência.

A Campanha da Fraternidade é um momento de conversão e solidariedade para os católicos brasileiros durante a Quaresma. Este ano, Dom Joel enfatizou que a Igreja se concentraria na questão da fome no Brasil, onde milhões de pessoas são afetadas. Ele explicou que a CNBB escolheu o tema da fome pela terceira vez porque o Brasil voltou a entrar no Mapa da Fome da ONU.

O Papa Francisco também enviou uma mensagem ao povo brasileiro, expressando seu desejo de que a reflexão sobre a questão da fome gere um compromisso constante com Cristo presente em todos aqueles que sofrem com a fome. Ele também lembrou a necessidade de compartilhar os dons que o Senhor nos deu e de fazer um verdadeiro e sincero caminho de conversão.

Papa Francisco fala sobre Fraternidade 2023

O Papa Francisco enviou uma mensagem ao Brasil em relação à Campanha da Fraternidade 2023, com o tema “Fraternidade e Fome”. Ele deseja que a reflexão sobre o tema da fome gere em todos uma atitude constante de partilha dos dons que o Senhor nos concede. Ele lembra que milhões de pessoas ainda sofrem e morrem de fome, enquanto toneladas de alimentos são descartados, constituindo um verdadeiro escândalo.

O Papa acredita que devemos nos concentrar nos necessitados e que ir ao encontro das necessidades de quem tem fome satisfará o próprio Senhor Jesus, que se identifica com os mais pobres e famintos. Ele espera que a consciência pessoal ressoe em nossas estruturas paroquiais e diocesanas, bem como nos órgãos governamentais, para que todos possam trabalhar juntos para finalmente erradicar a fome das terras brasileiras.

Leia a íntegra da mensagem do Papa Francisco acerca da Campanha da Fraternidade 2023:

Queridos irmãos e irmãs do Brasil!

Economia

Todos os anos, no tempo da Quaresma, somos chamados por Deus a trilhar um caminho de verdadeira e sincera conversão, redirecionando toda a nossa vida para Ele, que “amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16). Ao preparar-nos para a celebração dessa entrega amorosa na Páscoa, encontramos na oração, na esmola e no jejum, vividos de modo mais intenso durante este tempo, práticas penitenciais que nos ajudam a colaborar com a ação do Espirito Santo, autor da nossa  santificação.

Com o intuito de animar o povo fiel nesse itinerário ao encontro do Senhor, a Campanha da Fraternidade deste ano propõe que voltemos o nosso olhar para os nossos irmãos mais necessitados, afetados pelo flagelo da fome. Por outro lado, descartam-se toneladas de alimentos. Isto constitui um verdadeiro escândalo. A fome é criminosa, a alimentação é um direito inalienável” (Discurso no encontro com os Movimentos Populares, 28/X/2014)

 A indicação dada por Jesus aos seus apóstolos “Dai-lhes vos mesmos de comer” (Mt 14, 16) é dirigida hoje a todos nós, seus discípulos, para que partilhemos – do muito ou do pouco que temos – com os nossos irmãos que nem sequer tem com que saciar a própria fome. Sabemos que indo ao encontro das necessidades daqueles que passam fome, estaremos saciando o próprio Senhor Jesus, que se identifica com os mais pobres e famintos: eu estava com fome, e me destes de comer… todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes” (Mt 25, 35.40). 

É meu grande desejo que a reflexão sobre o tema da fome, proposta aos católicos brasileiros durante o tempo quaresmal que se aproxima, leve não somente a ações concretas – sem dúvida, necessárias – que venham de modo emergencial em auxilio dos irmãos mais necessitados, mas também gere em todos a consciência de que a partilha dos dons que o Senhor nos concede em sua bondade não pode restringir-se a um momento, a uma campanha, a algumas ações pontuais, mas deve ser uma atitude constante de todos nós, que nos compromete com Cristo presente em todo aquele que passa fome. 

Desejo igualmente que esta conscientização pessoal ressoe em nossas estruturas paroquiais e diocesanas, mas também encontre eco nos órgãos de governo a nível federal, estadual e municipal, bem como nas demais entidades da sociedade civil, a fim de que, trabalhando todos em conjunto, possam definitivamente extirpar das terras brasileiras o flagelo da fome. Lembremo-nos de que “aqueles que sofrem a miséria não são diferentes de nós. Têm a mesma carne e sangue que nós. Por isso, merecem que uma mão amiga os socorra e ajude, de modo que ninguém seja deixado para trás e, no nosso mundo, a fraternidade tenha direito de cidadania” (Mensagem para o Dia Mundial da Alimentação, 16/X/2018, n. 7)

Confiando estes votos aos cuidados de Nossa Senhora Aparecida e como penhor de abundantes graças celestes que auxiliem as iniciativas nascidas a partir da Campanha da Fraternidade, concedo de bom grado a todos os filhos e filhas da querida nação brasileira, de modo especial aqueles que se empenham incansavelmente para que ninguém passe fome, a Benção Apostólica, pedindo que continuem a rezar por mim.

Roma, São João de Latrão, 21 de dezembro de 2022.

Franciscus

LEIA TAMBÉM