Deltan Dallagnol sai da Câmara atirando em Gilmar Mendes e políticos de vários partidos

O ex-deputado Deltan Dallagnol (Podemos-PR), em pronunciamento de despedida da Câmara, nesta quarta (17/5), atacou o ministro do STF Gilmar Mendes e políticos de diversos partidos. Ele chamou essas personalidades de corruptas e disse que as combatia no Congresso e na finada Lava Jato.

“Gilmar Mendes está em festa, Aécio Neves está em festa, Eduardo Cunha está em festa, Beto Richa está em festa”, atacou Dallagnol, que, aparentemente, estava descontrolado emocionalmente. “Hoje é um dia de festa para os corruptos e para Lula”, emendou.

Assista o vídeo da despedida de Deltan Dallagnol da Câmara:

Leia a íntegra do discurso de Deltan Dallagnol:

Hoje, o sistema de corrupção, os corruptos e seus amigos estão em festa. Gilmar Mendes está em festa, Aécio Neves está em festa, Eduardo Cunha está em festa, Beto Richa está em festa. A verdade é uma só: perdi meu mandato porque combati a corrupção. Hoje é um dia de festa para os corruptos e para Lula. A Lava Jato despertou uma Nova Esperança em todos nós, a esperança de que tudo podia ser diferente. Essa esperança uniu esses parlamentares que estão aqui, unidos pela causa da justiça e da liberdade.

Entretanto, ao longo do tempo, vimos um sistema se reerguendo, se reconstruindo e se vingando. Primeiro, se vingando através da anulação das condenações, criando uma nova figura, os chamados condenados como Lula. Depois, vimos o sistema retaliando aqueles que cumpriram a lei, aqueles que ousaram combater a corrupção no Brasil. Fui cassado por vingança, por ter ousado enfrentar um sistema corrupto.

Enfrentar um sistema de corrupção e os corruptos mais poderosos no país é o maior desafio no Brasil. Eu me uni a tantos brasileiros que também queriam lutar contra esse sistema exaustivo e virar essa página. O presidente da República e seu partido dos trabalhadores pediram minha cassação e conseguiram. Servidores e ministros superaram todos os pareceres e decisões anteriores, liderados por um ministro que já disse, na cerimônia de diplomação de Lula, “missão dada, missão cumprida”. Eles criaram uma inelegibilidade imaginária, indo contra a Constituição e a Lei da Ficha Limpa, que é clara e objetiva. Não há nenhum processo administrativo disciplinar contra mim, nenhuma acusação, mas eles construíram suposições.

Essa decisão esdrúxula vai contra o direito e demonstra que eles aplicam o direito da força, não a força do direito. Estão me punindo não por um crime futuro, mas por uma acusação inexistente, por uma condenação que ainda não existe. Inverteram a presunção de inocência que beneficia tantos corruptos com recursos infinitos. Para quem combate a corrupção, vale a presunção de culpa. Essa inversão vai contra a lei. O Tribunal Superior Eleitoral afirmou que eu fraudei a lei, mas na verdade foi o próprio TSE que fraudou a lei e a Constituição ao criar uma nova inelegibilidade.

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Eu perdi meu mandato para evitar um suposto processo disciplinar que nunca existiu. Hoje, o sistema está se vingando e muitos poderosos estão unidos nesse esforço. Grandes políticos, inclusive parlamentares, o presidente da República, condenado por corrupção, e certos ministros do STF e do TSE que sempre se opuseram à Lava Jato, especialmente quando atingiu seus políticos corruptos de estimação.

Até quando os maus continuarão alegres? Até quando se mostrarão orgulhosos e seguirão impunes de seus crimes? Até quando os maus continuarão alegres? Até quando os maus, tão orgulhosos, formarão bandos para cometer seus crimes em nosso país?

Hoje, Aécio Neves está no poder. Hoje, Beto Richa também está no poder. Lula também está no poder.

Agora, aqueles que combateram a corrupção estão sendo destituídos de seus mandatos.

Vivemos em um país onde os valores estão invertidos, onde o policial é punido por punir corretamente o ladrão, onde o policial é perseguido pelo ladrão.

Hoje lutamos pela liberdade. A liberdade de buscar uma transformação em nosso país, e é isso que as eleições proporcionam.

Cancelar um mandato, anular milhares de votos, é mexer com o que há de mais sagrado no sistema democrático, no sistema eleitoral, que é o poder do voto, a soberania popular.
Eles estão anulando o poder do voto mais uma vez, com base em uma inelegibilidade imaginária, fraudando a Constituição e a lei.

O sistema permite que o povo esqueça muitas vezes da verdade básica: todo o poder emana do povo. Existem aqueles que se consideram donos do poder e que muitas vezes se sobrepõem à lei, se sobrepõem ao povo, se sobrepõem à Constituição, se colocando no lugar do povo. Jamais podemos admitir isso, pois é isso que corrompe a democracia em nosso país.

Estamos vendo vozes sendo cassadas por questionar as urnas.

Hoje, o Tribunal Superior Eleitoral anula todas as urnas do estado do Paraná. Isso mina a nossa democracia.

Se eles podem anular a voz de tantos, o que vai impedi-los de anular a sua voz, de anular a voz dos brasileiros, de anular o voto dos parlamentares que estão aqui? Porque tive o privilégio de lutar ao longo desses meses de mandato com honra e orgulho, fiscalizando o poder executivo e os seus abusos.

As eleições são a porta da transformação em uma democracia. Se fechamos essas portas, não existe democracia. É assim que as ditaduras começam, como começaram na Venezuela, como começaram na Nicarágua, quando tribunais de justiça cassaram o mandato de opositores políticos. Esse é o risco que enfrentamos hoje no Brasil.

Precisamos respeitar as instituições. No entanto, as instituições são compostas por pessoas. E o nosso problema no Brasil é que as instituições são boas, mas existem muitas pessoas ruins. Censurar e criticar as pessoas para não manchar as instituições é contraditório. É uma incoerência, porque deixar de criticar as pessoas que corroem as instituições enfraquece-as. Precisamos ter coragem.

Nós precisamos ter a liberdade de criticar os desmandos e as arbitrariedades dos poderosos. E se hoje eles cometem arbitrariedades comigo, com mandato eletivo, quanto mais podem fazer com toda a sociedade brasileira, quanto mais no dia seguinte vão fazer com cada um dos adversários políticos do governo de ocasião.

Desde que eu entrei no Congresso muitas pessoas me perguntaram se eu estava gostando disso aqui. E a minha resposta sempre foi a mesma. Eu não me pergunto se estou gostando, eu me pergunto se estou mais próximo do meu propósito. O soldado no campo de batalha não pergunta se o seu travesseiro está macio. Eu não estou aqui por um cargo, estou aqui por um propósito, estou aqui por uma transformação. Todo tombo dói, mas eu não vou desistir. Como muitos cristãos ao longo da história, quando parecia que eles tinham tomado um tombo e que era o fim, na verdade, aquilo era um novo começo e hoje é um novo começo para a minha voz.

Com esse tombo, eu convido todos que lutam contra a quebra da liberdade, contra a quebra da democracia, contra os abusos dos poderosos. Venham conosco, unam suas vozes, una-se à oposição que hoje tem partido. Hoje eu vi que atingi o meu objetivo quando um assessor do meu gabinete chegou perto de mim e disse: “Eu, Tam, eu posso perder o cargo de assessor, posso perder a remuneração, mas não vou deixar de trabalhar com você, ainda que seja de graça.” Porque o que eu vi aqui ao longo desse tempo todo é que você luta por um propósito, luta genuinamente por uma transformação. E é por isso que convido todos a lutarem por uma transformação que vai além de nós para um trampo, um propósito que nos transcende.

Eu jamais vou me arrepender de ter combatido a corrupção no Brasil. Jamais aqui no Congresso eu combati o bom combate com orgulho, com honra ao lado desses parlamentares que vocês veem aqui na frente, e nós vamos seguir lutando. O cargo é apenas um instrumento para usar na transformação. Agora, o principal é a voz dos brasileiros que estão conosco. Precisamos que os brasileiros reconheçam o seu poder, que está em suas mãos, que é a chave para a transformação. E nós não vamos permitir que as portas dos votos, que as portas das eleições sejam fechadas. Não vamos permitir que minem a nossa democracia, não vamos permitir que ataquem nossas liberdades. Não vamos permitir que esse governo siga praticando desmandos e corrupção.

O poder que os tribunais têm para me atingir, o poder que os tribunais têm para me derrubar, é o mesmo poder que os irmãos de José tinham quando venderam o escravo para o Egito. É o mesmo poder que o rei da Babilônia tinha quando colocou Daniel na cova dos leões. O poder que eles têm de me caçar é o mesmo poder que Pilatos tinha ao condenar Jesus à morte.

Essa história não acabou, esse capítulo não é o final. Com o tombo, vem o reerguimento e o engajamento, com vocês, com a sociedade e com esse conjunto de parlamentares que lutam unidos. Senadores que honram seus cargos, deputados que lutam unidos por justiça e liberdade. Martin Luther King disse que o que mais o preocupava não era o grito dos maus, não era a crueldade dos cruéis, mas sim o silêncio dos bons. Hoje vejo aqui parlamentares que não vão ficar em silêncio. Não vejo silêncio aqui, onde vamos lutar por justiça e liberdade. Agradeço a todos pela presença. Encerraremos a coletiva hoje e ficaremos à disposição para questionamentos. Obrigado, senhor da comunicação.

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2 Respostas para “Deltan Dallagnol sai da Câmara atirando em Gilmar Mendes e políticos de vários partidos”

  1. O Deltan, o choro é livre, mas, você sabe que fez uso de seu conhecimento para escapar dos processos que estavam para serem julgados. E tem mais, já que não comenta. Você foi condenado no TCU por improbidade administrativa no uso dos recursos da Lava Jato. Gastou e não comprovou os gastos. Os recursos sumiram na sua mão como fumaça. Agora vem dar uma de “santo”, como a “santinha” que vive ao lado do Bolsonaro. Que bom que temos o Alexandre Morais e outros JUIZ neste judiciário. E só lembrando à você, três juizes que votaram a favor do relator, são amigos do Bolsonaro. E pelo que li a família Bolsonaro não o apoio. Portanto a VITÓRIA foi da DEMOCRACIA em cima de sua safadeza.

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