Bolsonaro usa dinheiro do trabalhador no coronavírus, enquanto privilegia banqueiros

Presidente da CUT, Sérgio Nobre.
O presidente nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Sérgio Nobre, criticou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de usar dinheiro dos trabalhadores na pandemia do coronavírus, enquanto o governo concede privilégios a banqueiros e especuladores de fundos de investimentos (leia abaixo).

Segundo o dirigente cutista, ao criticar a Medida Provisória 946, que libera parcela de FGTS, o Brasil precisa disponibilizar dinheiro novo para combater a crise do coronavírus.

Sérgio Nobre criticou o governo Bolsonaro-Guedes pela nova liberação de novo saque do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), por meio da Medida Provisória 946, publicada na noite de terça-feira (7). Os valores serão liberados de junho a dezembro deste ano.

“É uma medida ruim. Em vez de injetar dinheiro novo na economia para enfrentar os efeitos da pandemia de coronavírus (Covid-19) e, dessa forma, proteger a população, Bolsonaro libera recursos que já pertencem aos trabalhadores”, disse o presidente nacional da CUT, nesta quarta-feira (8).

Sérgio Nobre destaca que o FGTS é um fundo a que os trabalhadores têm direito para utilizar em um momento de desemprego. “O governo federal deveria ter feito o que a maioria dos grandes países do mundo estão fazendo, que é injetar em torno de até 30% dos seus PIB (Produto Interno Bruto) para enfrentar essa crise”, comparou o presidente da CUT

“Mas o que fez Bolsonaro até agora: Não colocou nem sequer 8% do PIB nos programas e medidas desde que começou a pandemia no Brasil”, disse Sérgio Nobre.

Economia

Para comparar: No Reino Unido e na Espanha, as medidas para enfrentar a pandemia já ultrapassaram 17% do PIB, isso até meados de março. Na Alemanha, os gastos do governo atingiram 37% do PIB), com o pacote de março no total de 800 bilhões de euros.

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No início da pandemia do coronavírus, o Banco Central (BC) –leia-se ministro Paulo Guedes e o presidente Jair Bolsonaro– anunciou a injeção de R$ 1,2 trilhão no sistema financeiro. Ou seja, injetou na veia dos banqueiros recursos públicos equivalentes a 16,7% do Produto Interno Bruto (PIB).

O dinheiro era para ser drenado na economia durante a luta contra a Covid-19, porém, avalia o governo, esses recursos foram “empoçados no sistema financeiro”. O dinheiro era para manter abertas empresas e garantir empregos.

Traduzindo em bom português: o dinheiro não chegou ao destino, ficou empossado nos bancos que especulam com recurso alheio.

De acordo com especialistas do mercado financeiro, o dinheiro disponibilizado pelo governo “morreu” nos bancos, que preferem investir em títulos públicos.

“Os bancos não querem dar dinheiro novo, nem querem alongar. Querem comprar só títulos públicos”, afirma Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do BC e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC). Ele defende uma forma de “punição” do BC aos bancos que não emprestarem e alongarem os prazos.

Na prática, os bancos estão especulando no mercado com dinheiro que não lhe pertence. Os banqueiros estão “assaltando” o erário para especular com títulos públicos.

A falta de liquidez nas empresas, o capital de giro, nesse período de quarentena poderá levá-las à quebradeira. “As empresas não vão pagar, as pessoas não vão pagar e vai ser uma quebradeira geral. Os bancos também vão quebrar na frente”, alerta o ex-diretor do BC.

Dentre o pacote de bondades para o sistema financeiro, que soma R$ 1,2 trilhão, estão as seguintes medidas:

  • redução das alíquotas dos compulsórios, de 25% para 17%
  • diminuição da parcela dos recolhimentos compulsórios considerados no Indicador de Liquidez de Curto Prazo (LCR)
  • flexibilização nas regras das Letras de Crédito do Agronegócio (LCA)
  • empréstimos aos bancos com lastro em Letras Financeiras (LF)
  • operações compromissadas com títulos soberanos brasileiros
  • captação de recursos, por parte dos bancos, por meio de Depósito a Prazo com Garantia Especial do Fundo Garantidor de Crédito (FGC)

A falta de alma dos banqueiros está levando o Ministério da Economia, de Paulo Guedes, a pensar no financiamento da folha de salários via BNDES. Uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) está sendo articulada pelo governo junto ao Congresso Nacional.

Como garantia de empréstimos direto, a PEC autorizaria o governo a comprar carteiras de crédito e títulos das empresas. O governo daria um passo rumo à estatização de setores, diante da crise do coronavírus.

A proposta do governo Bolsonaro e Guedes é a prova inequívoca de que o liberalismo econômico é um fetiche falido.

E os bancos? Ora, os bancos continuam numa boa. Óbvio.