Lula, Ciro e a unidade no primeiro turno

Ricardo Cappelli*

O encontro entre Lula e Ciro foi a melhor notícia do ano para o campo progressista. As torcidas correram para tentar justificar a reunião como uma suposta “rendição” de um deles. Surgiram exigências estapafúrdias. Bobagem maior não há.

A união entre as duas principais lideranças do campo popular e democrático teria um efeito avassalador. O polo formado seria capaz de reacender o ativo mais importante na política: a expectativa de poder.

Selada a unidade, a possibilidade de voltar a dialogar e atrair setores de centro seria real. A construção de uma Frente Ampla nucleada pela esquerda voltaria a ser factível.

Bolsonaro faz um governo criminoso, genocida, cercado por aves de rapina. Já está claro para o mercado a falência deste projeto. O dólar explodiu, a Bolsa despencou e os juros futuros sinalizam grande desconfiança.

A economia deve se arrastar de forma sofrível até 2022. Já são mais de 20 milhões de desempregados e desalentados. As ruas das grandes cidades viraram o dormitório de milhares de pessoas.

Economia

O capitão irá enfrentar após as eleições um dilema: neoliberalismo tardio ou popularidade? Teto de gastos ou Renda Brasil? Guedes ou Marinho?

Vivemos uma crise sanitária gravíssima. Bolsonaro colocou no orçamento de 2021 recursos para a compra de vacinas para menos da metade da população. Um crime humanitário.

Neste cenário sombrio, por que o presidente continua “surfando”? Simples, não existe oposição. O “telecatch” nas eleições municipais entre candidatos da esquerda, numa disputa inacreditável pela hegemonia da derrota, é autoexplicativo.

Ainda é possível impor uma derrota à direita no dia 15 de novembro. Nunca é tarde para fazer história. A esquerda pode ir ao segundo turno nas capitais, polarizando o debate político no país.

Como? Faça as contas. Uma soma simples, aritmética. Está claro que se houver unidade, os candidatos do campo vão segundo turno em São Paulo e no Rio, por exemplo.

Até o dia 8 de novembro todos os candidatos deveriam retirar suas candidaturas e declarar apoio ao candidato progressista mais bem colocado nas pesquisas. Este movimento geraria um fato nacional, simbólico, criando uma onda política descomunal.

Os candidatos mais bem colocados chegariam ao segundo turno crescendo, na ofensiva, polarizando com Bolsonaro. O Brasil seria sacudido, de norte a sul. Derrotar o fascismo impõe medidas excepcionais, corajosas, ousadas.

Lula e Ciro possuem autoridade política e liderança para mudar completamente o cenário destas eleições. Carlos Lupi (PDT), Gleisi Hoffmann(PT), Luciana Santos (PCdoB), Carlos Siqueira (PSB) e Juliano Medeiros (PSOL) devem isso aos brasileiros.

Sonho? De que vale a política se não for para realizar o possível e o impossível?

Lula e Ciro. É possível reacender a esperança no coração dos brasileiros.

P.S.: escrevo este artigo no meu 27° dia de Covid. Não transmito mais, mas continuo com sintomas fortes, febre, enjoo e dor de cabeça. Uma doença violenta promove nosso encontro com a finitude da existência. A vida é curta, e não permite mesquinharias. Só os grandes serão lembrados por toda a eternidade.

*Ricardo Cappelli é jornalista e secretário de estado do Maranhão, cujo governo representa em Brasília. Foi presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) na gestão 1997-1999.