Voto impresso é o novo devaneio bolsonarista, por Arilson Chiorato

Arilson Chiorato*

Vivenciar a política brasileira é ter a cada dia uma diferente surpresa, as agendas políticas tem alta rotatividade por parte da base fiel ao governo federal. Penso que essa dinamicidade nas reivindicações que tomam as redes sociais e buscam pautar a política tem a ver com a necessidade do governo em ofuscar outras pautas de grande importância e de crises que o afetam.

Estas agendas, sempre polêmicas, buscam funcionar como cortina de fumaça para encobrir e ofuscar o que realmente importa, de forma que confunda seus apoiadores e também milhões de brasileiros e brasileiras. Esta pauta do voto impresso é mais uma tentativa de desviar o foco dos problemas enfrentados pelo Governo e da má gerência da pandemia.

Enquanto a vacinação está caminhando a passos lentos, a economia permanece em frangalhos. Não há política efetiva de geração de emprego e renda, pelo contrário, o auxílio emergencial reduziu em alcance e em valor. O apoio às empresas também é uma ilusão, a verdade é que o presidente que dizia não dar pra salvar as vidas e a economia simultaneamente, não salvou nem uma e nem outra.

Mas, por que considero o voto impresso uma opção ruim para a democracia? Porque, primeiramente não há indício de fraude eleitoral para que questionemos a utilização das urnas eletrônicas. É curioso falarem em precisarmos de voto auditável, como se apenas o voto impresso fosse auditável, a urna eletrônica também permite auditoria. Inclusive, a pedido da oposição derrotada em 2014, a eleição foi auditada e, o resultado é de que não houve fraude.

Se em uma eleição apertada como a de 2014, em um momento de acirramento político, não houve indício de fraude. Não entendo porque o presidente eleito via urnas eletrônicas e com considerável folga na margem de votos, agora passa a questionar o uso das urnas eletrônicas. Aliás, na realidade entendo sim, é uma clara tentativa de criar confusão na cabeça dos cidadãos, em criar um ambiente questionável e que transpasse insegurança perante o sistema vigente.

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Porém, minha argumentação não fica apenas sobre o fato em si, podemos recorrer também a questões históricas e sociológicas. Qualquer pessoa que conheça minimamente a história do Brasil, que resida no interior e principalmente nas pequenas cidades, conhece a realidade do que o voto impresso representa.

O conhecido voto de cabresto da República Velha é uma das características do coronelismo. Fenômeno que remonta até hoje em diferentes cidades e comunidades Brasil afora. Um dos elementos que infelizmente perduram até hoje é a compra de votos, há aqueles que tentam fazer os eleitores acreditarem, especialmente os eleitores mais humildes, que podem saber em quem votaram, mesmo que isso seja impossível, pois a urna eletrônica não é conectada à internet. Pensem só, com o voto em papel, o terrorismo psicológico, o transtorno que podem causar para ludibriar os eleitores.

Além da compra de voto, outro problema que já enfrentamos em outro momento, e quem não tem memória curta há de se lembrar, é que nas mesas de apuração, nos locais mais remotos ou de mando político, os votos eram manipulados. Um verdadeiro escárnio que inviabiliza o processo democrático.

São diversos os problemas que enfrentaríamos com voto impresso, a demora na apuração é outro. No Brasil, são mais de 100 milhões de votos válidos, a grande quantidade de partidos possibilita um grande número de candidatos. No Paraná, por exemplo, cada partido pode lançar até 81 candidatos a deputados estaduais e 54 federais, já pensou como seria a cédula, sendo que existem mais de 30 partidos? Vou além, é preciso pensarmos nas pessoas analfabetas ou que possuem analfabetismo funcional. Uma eleição, para ser democrática, precisa ser inclusiva.

Por fim, também é fundamental não perdermos o ponto central de que a urna eletrônica emite antes do início da votação, as zerésima. O que é isso? Um comprovante de que não há qualquer voto computado naquela máquina e este procedimento é realizado com a presença de fiscais das chapas. Ao fim da eleição, o procedimento é repetido e, desta vez, conta com os votos destinados a cada candidato, os votos brancos e nulos que devem coincidir com a quantidade de pessoas que assinaram a lista de presença.

Portanto, falar em fraude nas urnas eletrônicas é de uma grande irresponsabilidade. Compreendo aqueles que são a favor do voto impresso, por outros motivos, mesmo que seja apenas nostalgia, mas apontar que as urnas eletrônicas são passíveis de fraude é falta de conhecimento ou de noção, pois as mesmas pessoas que vemos criticando o uso das urnas eletrônicas, são aquelas que elegeram este Governo. Teria sido então, a eleição de Bolsonaro uma fraude? Eu não acredito nisso, mas aparentemente, os seus eleitores e o próprio presidente estão levantando esta possibilidade.

*Arilson Chiorato, Deputado Estadual, Presidente do PT – Paraná e Mestre em Gestão Urbana pela PUC-PR.