Veja: Moro cometeu, sim, irregularidades

Após analisar 649 551 mensagens atribuídas do ex-juiz Sérgio Moro e procuradores da Lava Jato, a revista Veja chegou a um veredicto: “Moro cometeu, sim, irregularidades”.

A revista da Editora Abril iniciou nesta sexta-feira (5) a parceira com o site The Intercept Brasil com o objetivo de divulgar mais de 1 milhão de mensagens do aplicativo Telegram, obtidas pelo jornalista Glenn Greenwald junto a uma fonte anônima. “Um arquivo com mais de 30 000 páginas”, ressalta a Veja.

De acordo com a publicação, os diálogos do ex-juiz mostraram que, no papel de magistrado, Moro deixou de lado a imparcialidade e atuou ao lado da acusação.

“As revelações enfraqueceram a imagem de correção absoluta do atual ministro de Jair Bolsonaro e podem até anular sentenças”, diz a reportagem.

Veja destaca que fora dos autos –e dentro do Telegram–, o atual ministro pediu à acusação que:

1- incluísse provas nos processos que chegariam depois às suas mãos;

Economia

2- mandou acelerar ou retardar operações; e

3- fez pressão para que determinadas delações não andassem.

“Além disso, revelam os diálogos, comportou-se como chefe do Ministério Público Federal, posição incompatível com a neutralidade exigida de um magistrado”, aponta o texto.
A reportagem-bomba da Veja em parceria com o Intercept mostra ainda que Moro tinha o feíssimo costume de ajudar um dos lados do processo a fortalecer sua posição, no caso a acusação. Ele atuava como chefe do Ministério Público Federal e, com isso, tornava impossível a defesa do réu.

A promiscuidade, o conluio, entre Moro e Deltan Dallagnol, coordenador da Lava Jato era tanta, que eles se comunicavam pelo Telegram ao invés de usarem a transparência pelos autos.

“Como se não bastasse, o chefe da força-¬tarefa ainda envia a Moro uma versão inacabada do trabalho para que o juiz possa adiantar a sentença”, registra a Veja, que também anota as dicas de Deltan para o ex-juiz “prender alguém”.

“À luz do direito, é tão constrangedor quanto se Cristiano Zanin Martins fosse flagrado passando a Moro argumentos para embasar um habeas¬-corpus a favor de Lula”, argumenta a publicação da Abril.

As patetices do julgador e do acusador chamam a atenção. Além de dicas, tem também puxão de orelhas dado por Moro em Deltan em plena luz do dia.

A reportagem Veja-Intercept chegou a bater na porta das famigeradas delações premiadas. Ela deu uma beliscadinha no caso de Eduardo Cunha (MDB), ex-presidente da Câmara, preso desde 2016 pela Lava Jato.

De acordo com mensagens de Moro a Deltan, o então magistrado se dizia contra a delação de Cunha mesmo antes de conhecer o conteúdo delas. A informação preliminar que se tinha era que o ex-presidente da Câmara estaria disposto a entregar um terço do Ministério Público estadual, 95% dos juízes do Tribunal da Justiça, 99% do Tribunal de Contas e 100% da Assembleia Legislativa.

As ilegalidades não ensejariam somente a anulação de todas as sentenças proferidas por ele no âmbito da Lava Jato, força-tarefa que ele comandou dando ordens a procuradores da força-tarefa sediada em Curitiba. Os crimes cometidos pelo ex-juiz também justificariam uma cana, mas garantindo o devido processo legal que ele não garantiu a suas vítimas.