Surpreendente guinada do Brasil a favor da Ucrânia na ONU choca apoiadores do presidente Lula

A inesperada mudança de posição do Brasil na ONU, que aprovou na quinta (23/2) resolução contrária a Rússia e a favor da Ucrânia chocou apoiadores do presidente Lula e setores da esquerda brasileira. Nas redes sociais, o debate fervilha sobre a guinada da diplomacia verde-amarela, que se aliou à dos Estados Unidos, que têm interesse na continuidade da guerra Rússia-Ucrânia.

Primeiro é fundamental esclarecermos que a Rússia elogiou a “neutralidade” do Brasil e as iniciativas do presidente Lula para mediar a guerra na Ucrânia, no entanto, isso ocorreu anteriormente à votação da resolução na ONU, que é exatamente o mesmo texto colocado em votação há um ano, porém, com um enxerto do Itamaraty.

O jornalista Breno Altman, do site Opera Mundi, por exemplo, disse que a decisão do Brasil de votar favoravelmente à resolução capitaneada pela União Europeia e endossada pelos Estados Unidos é muito grave e tem uma relevância que deve ser acompanhada.

“Se um ladrão entrar na casa de um de nós com uma faca nas mãos ameaçando matar nossos filhos; você está armado, em condições de se defender, e você dá um tiro nesse ladrão em autodefesa. Mas você matou o ladrão. A resolução, que tradicionalmente é aprovada desde 24 de fevereiro do ano passado, é como se você desse a essa situação imaginária que eu citei a seguinte sentença: a culpa é de quem exerceu a autodefesa e matou o ladrão. Todos os antecedentes que levaram àquela situação foram ignorados. A resolução que a ONU tem aprovado desde o início da guerra é com este teor: a responsabilidade é exclusiva da Rússia”, comparaou em uma entrevista na TV 247.

Para Altman, o Brasil não ganha absolutamente nada votando com os Estados Unidos, ou com a Europa, como alegam alguns diplomatas brasileiros.

Um pouco antes, na manhã de hoje, o também jornalista José Reinaldo Carvalho igualmente criticou a guinada do Brasil na ONU e disse que isso pode eliminar a posição de neutralidade do Brasil. Segundo ele, foi um erro a nova posição do País em relação ao conflito.

Economia

O presidente fez uma declaração acerca do aniversário de uma ano da guerra na Ucrânia.

“No momento em que a humanidade, com tantos desafios, precisa de paz, completa-se um ano da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. É urgente que um grupo de países, não envolvidos no conflito, assuma a responsabilidade de encaminhar uma negociação para restabelecer a paz”, registrou ele nas redes sociais.

Embora apoiadores do presidente Lula tenha sido surpreendidos com o voto a favor da Ucrânia, o Itamaraty considera a  aprovação da resolução na ONU, pedindo a retirada das tropas russas, um “gol da diplomacia” brasileira.

O texto em questão foi aprovado por 141 votos. Outros 32 países votaram contra a resolução e sete se abstiveram. O Brasil foi o único país dos Brics (bloco econômico composto também por Rússia, China, Índia e África do Sul) a votar favorável.

No entanto, para alguns setores de esquerda, que apoiam Lula, apesar de desgarrado dos Brics, a aprovação da resolução pela ampla maioria seria uma incontestável prova de que o Brasil não se isolou politicamente na arena internacional [e isso seria o “gol” da diplomacia].

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Países que se abstiveram 

Argélia, Angola, Armênia, Bangladesh, Bolívia, Burundi, República Centro-Africana, China, Congo, Cuba, El Salvador, Etiópia, Gabão, Guiné, Índia, Irã, Cazaquistão, Quirguistão, Laos, Mongólia, Moçambique, Namíbia , Paquistão, África do Sul, Sri Lanka, Sudão, Tadjiquistão, Togo, Uganda, Uzbequistão, Vietnã, Zimbábue.

Países que votaram a favor da resolução

Afeganistão, Albânia, Andorra, Antígua-Barbuda, Argentina, Austrália, Áustria, Bahamas, Bahrein, Barbados, Bélgica, Belize, Benin, Butão, Bósnia-Herzegovina, Botsuana, Brasil, Brunei, Bulgária, Cabo Verde, Camboja, Canadá, Chade , Chile, Colômbia, Comores, Costa Rica, Côte d’Ivoire, Croácia, Chipre, República Tcheca, República Democrática do Congo, Dinamarca, Djibouti, República Dominicana, Timor Leste, Equador, Egito, Estônia, Fiji, Finlândia, França, Gâmbia , Geórgia, Alemanha, Gana, Grécia, Guatemala, Guiana, Haiti, Honduras, Hungria, Islândia, Indonésia, Iraque, Irlanda, Israel, Itália, Jamaica, Japão, Jordânia, Quênia, Kiribati, Kuwait, Letônia, Lesoto, Libéria, Líbia , Liechtenstein, Lituânia, Luxemburgo, Madagascar, Malawi, Malásia, Maldivas, Malta, Ilhas Marshall, Mauritânia, Maurício, México, Micronésia, Mônaco, Montenegro, Marrocos, Mianmar, Nauru,Nepal, Holanda, Nova Zelândia, Níger, Nigéria, Macedônia do Norte, Noruega, Omã, Palau, Panamá, Papua Nova Guiné, Paraguai, Peru, Filipinas, Polônia, Portugal, Catar, República da Coreia, República da Moldávia, Romênia, Ruanda, São Cristóvão e Nevis, Santa Lúcia, São Vicente e Granadinas, Samoa, San Marino, São Tomé, Arábia Saudita, Sérvia, Seychelles, Serra Leoa, Singapura, Eslováquia, Eslovênia, Ilhas Salomão, Somália, Sudão do Sul, Espanha, Suriname, Suécia, Suíça, Tailândia, Tonga, Trinidad Tobago, Tunísia, Tuvalu, Turquia, Ucrânia, Emirados Árabes Unidos, Reino Unido, Estados Unidos,São Vicente e Granadinas, Samoa, San Marino, São Tomé, Arábia Saudita, Sérvia, Seychelles, Serra Leoa, Singapura, Eslováquia, Eslovênia, Ilhas Salomão, Somália, Sudão do Sul, Espanha, Suriname, Suécia, Suíça, Tailândia, Tonga, Trinidad Tobago, Tunísia, Tuvalu, Turquia, Ucrânia, Emirados Árabes Unidos, Reino Unido, Estados Unidos,São Vicente e Granadinas, Samoa, San Marino, São Tomé, Arábia Saudita, Sérvia, Seychelles, Serra Leoa, Singapura, Eslováquia, Eslovênia, Ilhas Salomão, Somália, Sudão do Sul, Espanha, Suriname, Suécia, Suíça, Tailândia, Tonga, Trinidad Tobago, Tunísia, Tuvalu, Turquia, Ucrânia, Emirados Árabes Unidos, Reino Unido, Estados Unidos,Uruguai, Vanuatu, Iêmen, Zâmbia.

Países que votaram contra a resolução 

Belarus, Coreia do Norte, Eritreia, Mali, Nicarágua, Rússia, Síria.

Abaixo, leia a íntegra da Resolução do ONU:

Princípios da Carta das Nações Unidas sobre os quais se baseia uma paz abrangente, justa e duradoura na Ucrânia

À assembleia geral,

Recordando os propósitos e princípios consagrados na Carta das Nações Unidas,

Recordando também a obrigação de todos os Estados, de acordo com o Artigo 2 da Carta das Nações Unidas, de se absterem em suas relações internacionais da ameaça ou uso da força contra a integridade territorial ou independência política de qualquer Estado, ou de qualquer outra forma incompatíveis com os propósitos das Nações Unidas e resolver suas controvérsias internacionais por meios pacíficos,

Reafirmando que nenhuma aquisição territorial resultante da ameaça ou uso da força será reconhecida como legal,

Recordando suas resoluções pertinentes aprovadas na décima primeira sessão extraordinária de emergência e sua resolução 68/262, de 27 de março de 2014,

Salientando que, um ano após a invasão em grande escala da Ucrânia, a obtenção de uma paz abrangente, justa e duradoura daria uma contribuição significativa para fortalecer a paz e a segurança internacionais,

Recordando a Ordem da Corte Internacional de Justiça de 16 de março de 2022,

Lamentando as terríveis consequências humanitárias e de direitos humanos da agressão da Federação Russa contra a Ucrânia, incluindo os ataques contínuos a infraestrutura crítica em toda a Ucrânia com consequências devastadoras para a população civil, e expressando grande preocupação com o alto número de vítimas civis, incluindo mulheres e crianças, o número de deslocamentos humanos dentro do país, de refugiados que necessitam de assistência humanitária e as violações e abusos cometidos contra crianças,

Observando com profunda preocupação os efeitos adversos da guerra na segurança alimentar global, energia, segurança nuclear e meio ambiente.

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