A condenação de Carla Zambelli (PL-SP) caiu como uma bomba no bolsonarismo e incendiou os bastidores da Câmara dos Deputados. A Primeira Turma do STF, por unanimidade, aplicou pena de 10 anos de prisão à deputada de extrema direita, além da perda automática do mandato, por sua participação na invasão ao sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e por falsidade ideológica.
A sentença, relatada por Alexandre de Moraes, recebeu apoio de Flávio Dino, Cristiano Zanin, Cármen Lúcia e Luiz Fux — consolidando um 5 a 0 simbólico diante da tentativa de sabotagem institucional.
O voto de Moraes foi cirúrgico. Segundo o ministro, Zambelli “demonstrou pleno conhecimento da ilicitude” e agiu de forma “premeditada e organizada” para atacar instituições fundamentais da democracia. A perda de mandato, segundo o relator, é consequência natural do regime fechado superior a 120 dias, conforme previsto na Constituição.
O hacker Walter Delgatti Neto, conhecido desde a Vaza Jato, também foi condenado: 8 anos e 3 meses de prisão. Ambos foram responsabilizados civilmente e deverão pagar R$ 2 milhões por danos morais e materiais.
Zambelli, no centro do furacão, reagiu com a cartilha de sempre: negou as acusações, alegou perseguição política e acusou o STF de tentar silenciar a “direita conservadora”. Sua defesa já anunciou recurso, mas os efeitos só serão revertidos se o Supremo reformar sua própria decisão.
De acordo com a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), Zambelli articulou com Delgatti a invasão ao sistema do CNJ com objetivo de gerar instabilidade. O hacker, usando credenciais de terceiros, chegou a emitir falsos alvarás de soltura e até um mandado de prisão contra… o próprio Alexandre de Moraes.
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Em depoimento à Polícia Federal, Delgatti confessou os crimes e revelou a interlocução direta com Zambelli. Um depósito de R$ 13,5 mil realizado por aliados da parlamentar reforça, segundo a PGR, a tese de pagamento pelos serviços prestados.
A ação se deu no contexto das eleições de 2022, quando o bolsonarismo buscava deslegitimar o sistema eleitoral e ampliar a desinformação. Os desdobramentos envolvem ainda Jair Bolsonaro, que teria orientado Delgatti em ações contra as urnas eletrônicas.
A decisão do STF chegou em momento delicado, com o Congresso discutindo como conter o avanço do Judiciário sobre seus membros. Na semana passada, a Câmara barrou uma ação penal contra o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) — aliado de Bolsonaro — em outro caso de tentativa de golpe.
Agora, aliados do bolsonarismo articulam usar o “caso Zambelli” como resposta institucional ao STF. O deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) sugeriu, em vídeo nas redes, a suspensão do processo como “recado” ao Supremo.
A proposta reaqueceu os ânimos e acendeu o sinal de alerta no STF, que vê na articulação uma tentativa de blindagem parlamentar em casos de sabotagem institucional.
A condenação de Zambelli representa mais do que o desfecho de um processo judicial. É um marco institucional diante das tentativas recorrentes de deslegitimar as instituições democráticas por dentro. O STF, ao punir uma parlamentar em exercício com pena de prisão e perda de mandato, reafirma o princípio de que ninguém está acima da lei — nem mesmo quem se esconde atrás de mandato popular.
O Brasil de 2025 ainda respira os escombros de 8 de janeiro de 2023. O que se decide agora é se esse país terá memória suficiente para não repetir os erros da democracia que foi atacada por dentro. Além disso, esta condenação de Zambelli é uma amostra do que vem aí no julgamento de Bolsonaro, que é réu pela tentativa de golpe de Estado no Supremo.
Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.