O Senado Federal impôs sigilo de 100 anos aos registros de entrada do lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, na Casa. A medida foi revelada após solicitação via Lei de Acesso à Informação (LAI), protocolada por jornalistas em 2 de julho.
A resposta oficial do Senado classificou os dados como de “caráter pessoal”, amparando-se em dispositivo da LAI que, na prática, vem sendo usado para blindar personagens envolvidos em escândalos. O caso, contudo, envolve o acesso de um lobista investigado por fraudes previdenciárias às entranhas do Poder Legislativo.
Quem é o Careca do INSS?
Antonio Carlos Camilo Antunes ganhou o apelido de “Careca do INSS” por sua atuação nos bastidores do sistema previdenciário, como lobista de contratos, emendas e articulações com servidores e políticos. Seu nome surgiu em apurações da CPI do INSS e em reportagens sobre fraudes na concessão de benefícios, falsificação de documentos e uso de offshores em paraísos fiscais.
Mais recentemente, revelou-se que ele mantém empresa registrada nas Ilhas Virgens Britânicas, o que acendeu o alerta da Receita Federal e da Polícia Federal para lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
Por que o sigilo de 100 anos choca?
A blindagem de informações relacionadas ao Careca do INSS ocorre no momento em que o país exige mais transparência na gestão previdenciária. O escândalo das fraudes no INSS levou o Congresso a criar uma CPI, e o Ministério da Previdência, a revisar contratos e concessões suspeitas.
Ao esconder dados sobre as entradas de Antunes no Senado, a Casa se distancia da agenda de controle social e transparência pública. A decisão contrasta com o discurso institucional de combate à corrupção e pode comprometer o avanço de investigações.
Qual é a reação política?
Deputados da oposição e da base já se manifestaram. O deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), líder do PT na Câmara, disse que o sigilo “é um tapa na cara do povo brasileiro” e que vai exigir explicações formais da Mesa Diretora do Senado. Parlamentares da CPI do INSS também avaliam convocar o lobista novamente.
A expectativa é que a sociedade pressione para a revogação do sigilo, como ocorreu em casos similares no passado. O Ministério Público Federal, por sua vez, já requisitou informações ao Senado sobre a fundamentação jurídica da medida.
Sigilo é político
A imposição de sigilo de 100 anos sobre um lobista suspeito de fraudes no INSS não é técnica, é política. O Senado, ao invés de colaborar com a apuração, optou por obscurecer.
O episódio revela como a opacidade ainda é um mecanismo de autoproteção institucional em Brasília. E deixa claro: a “faxina” na Previdência precisa ser realizada à luz do dia.
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Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.
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