Os vendilhões do templo: em defesa do mandato do vereador Renato Freitas

“Oportunistas como Sergio Moro, Bolsonaro, o prefeito Greca, o governador Ratinho Jr defendem a cassação do vereador negro, petista e da periferia”

Por Lafaiete Neves*

Os acontecimentos por ocasião do ato de protesto contra o brutal assassinato de dois negros no RJ, Moïse e Durval, realizado pelos movimentos sociais, que culminou com a entrada dos manifestantes na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, construída por pessoas escravizadas no século XVIII, no largo da Ordem, em Curitiba, ensejou uma série de críticas ao vereador Renato Freitas do PT, por estar presente no ato.

O tom exageradamente raivoso, dos ataques e os discursos feitos demonstraram muito além de uma condenação da entrada na Igreja, posições racistas com um caráter nitidamente de oportunismo político para condenar o vereador Renato Freitas. E no rol desses oportunistas políticos entram Sergio Moro, Bolsonaro, o prefeito Greca, o governador Ratinho Jr. e o líder do prefeito na Câmara Municipal de Curitiba, todos exigindo a cassação do vereador Renato Freitas.

Esse fato e suas repercussões possibilitam reflexões, sendo uma delas a questão da fé e da religiosidade das pessoas. A rigor, o mandamento máximo da fé cristã manda amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Jesus Cristo deu uma vasta demonstração desse amor aos irmãos, por ficar ao lado e na defesa dos pobres, dos oprimidos e discriminados, tendo por isso sido torturado e crucificado pelos poderosos de plantão a serviço do Império Romano.

Compare esses atos de Jesus com a prática dos vereadores, que sendo até pastores evangélicos, ameaçam o vereador Renato com a cassação do seu mandato, por ter entrado no templo católico, após a missa como provam as imagens divulgadas no jornal da Globo local, junto com o depoimento feito pelo padre da Igreja ocupada, dizendo que o ato foi pacífico, após a missa, não houve qualquer depredação e logo saíram tranquilamente da igreja.

Economia

Diante disso, ouso dizer que nos “Templos da Política”, onde manipulam recursos públicos (sagrados), parlamentares falsos moralistas, fariseus, com seus atos em benefício de interesses privados, profanam o legislativo municipal. E o que fez Jesus diante de fato semelhante? Expulsou os vendilhões do templo a chibatadas.

Nesse mesmo prédio, “templo da política” que é a Câmara Municipal de Curitiba, os vereadores, que formam a maioria do prefeito, aprovam projetos de milhões de reais para beneficiar poucos ricos da cidade, retirando recursos de serviços básicos de saúde, educação, habitação popular e reajustes salariais dos servidores municipais. Foram eleitos para defender quem os elegeu, a maioria do povo de Curitiba, não para usar os seus mandatos para beneficiar alguns ricos proprietários, que dominam os serviços públicos municipais.

Foi o que aconteceu recentemente quando 26 vereadores moralistas, alguns que condenaram o ato em defesa dos excluídos da nossa sociedade, aprovaram com 10 votos contrários da bancada de oposição, o desvio de R$320 milhões para meia dúzia de famílias de empresários de ônibus, que usam esse dinheiro público não para melhorar o transporte coletivo com uma tarifa justa, mas para investirem em outras atividades econômicas, às custas dos pobres trabalhadores da nossa cidade e da região metropolitana de Curitiba.

Então, cabe a pergunta: ‘quem deve ser expulso do templo da política?’

O vereador Renato Freitas, eleito com uma expressiva votação dos seus representados, negros, pobres, discriminados e excluídos da nossa sociedade, que na defesa desses segmentos participou de um ato justo de protesto contra o assassinato brutal de dois negros no RJ ou os vereadores que usam seus mandatos em benefício de uma minoria rica e privilegiada da nossa cidade?

*Lafaiete Neves, professor aposentado da UFPR, Doutor em Desenvolvimento Econômico pela UFPR e Membro Titular do Conselho da Cidade de Curitiba pela APUFPR. Email: l.lafa@terra.com.br