Márcia Huçulak, deputada da base de Ratinho Junior, faz discurso que até o PSOL faria [vídeo]

Deputada Márcia Huçulak (PSD) defende coerência na política

A deputada estadual Márcia Huçulak (PSD) protagonizou um discurso impactante durante a última sessão plenária do ano na Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP), na terça-feira (12/12).

Abaixo, assista a íntegra do discurso no ALEP.

Ao abordar a urgência na tramitação de projetos relevantes e a falta de debate necessário, a parlamentar se destacou pela firmeza de suas palavras e pela defesa incisiva da coerência na política.

Márcia Huçulak surpreendeu ao votar contra um projeto do governador Ratinho Junior (PSD) que propunha aumento do ICMS.

Antes de dar seu voto, a deputada fez um discurso alinhado à esquerda, abordando temas como autoritarismo, falta de debate e o toma-lá-dá-cá presente na Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP).

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A deputada não poupou críticas ao Palácio Iguaçu, demonstrando independência em relação ao governo.

Seu pronunciamento destaca-se pela coragem ao confrontar o status quo, algo que reverberou na bancada de oposição e surpreendeu até mesmo Ratinho Junior.

É crucial compreender a trajetória política de Márcia Huçulak para contextualizar seu discurso.

Sempre alinhada às teses progressistas, a deputada foi cogitada para disputar o Senado em 2022 pela chapa do presidente Lula.

Entretanto, vetos do prefeito Rafael Greca (PSD) e do governador Ratinho a levaram a concorrer à ALEP.

No centro de seu discurso, Márcia destacou a importância da coerência na política.

Para ela, a Casa Legislativa enfrentou situações vexatórias enquanto projetos impactantes eram discutidos sem o devido debate.

Huçulak ressaltou que tais projetos alteram a vida dos paranaenses, afetando impostos e ignorando apelos contrários de setores produtivos.

Como representantes do povo, os deputados devem, segundo a deputada, ouvir os anseios da população e reduzir a distância entre discurso e ação.

A coerência, segundo Huçulak, não é um favor aos outros, mas uma forma ética de comportamento, uma atitude que visa manter a confiança depositada pelo povo paranaense.

A deputada ressaltou que suas decisões não são neutras e têm impacto na vida dos paranaenses.

Em um chamado à autenticidade, Huçulak defendeu a necessidade de os agentes políticos tomarem posições autênticas, mesmo que isso gere tensões.

Para ela, na prática democrática, a vontade só se legitima nas ações.

Encerrando seu discurso com versos da poeta Cora Coralina, Márcia Huçulak deixou uma mensagem inspiradora.

Mesmo diante das adversidades, a deputada reforçou a importância de decidir, resistir e lutar.

Suas palavras ressoaram não apenas como um posicionamento político, mas também como possível rompimento com a base do governador Ratinho Junior na ALEP a partir de fevereiro do ano que vem.

Ratinho Junior levou um susto na última votação deste ano, na ALEP, quando 15 parlamentares votaram contra o aumento do ICMS, repudiando a orientação do Palácio Iguaçu.

Enfim, o discurso de Márcia Huçulak poderia ter sido feito até por um deputado do PSOL – se a legenda tivesse cadeira na ALEP.

Assista a íntegra do discurso de Márcia Huçulak:

O que disse a deputada Márcia Huçulak, que causou urticária no Palácio do Planalto:

Hoje subo à tribuna para compartilhar a minha agonia.

Sim, não tenho outra palavra para definir esse momento que passamos aqui na assembleia.

Nas últimas semanas, estamos vivendo situações vexatórias ao mesmo tempo em que debatemos projetos em regime de urgência, sem a possibilidade do devido debate e que alteram a vida dos paranaenses, alteram impostos, apesar dos apelos contrários das instituições que representam o setor produtivo, daqueles que geram emprego e renda, daqueles que mantêm as políticas públicas e mantêm essa casa.

Hoje faremos escolhas.

E não há posição ou decisão neutra nesta Casa.

Toda decisão aqui tem impacto na vida de todos os paranaenses, e a minha decisão não é neutra.

Não cheguei a esta casa para simplesmente me adaptar, mas para dar uma contribuição para que a política não seja rejeitada pelo senso comum, tão ridicularizada como somos, porque acredito que é pela política que se muda a vida das pessoas para melhor.

Sei que isso pode ser uma utopia.

É preciso deixar claro em práticas democráticas que a vontade só se legitima nas ações dos sujeitos que assumem suas posições.

A vontade ilimitada é a vontade despótica.

Negadora das outras vontades, é a vontade ilícita dos donos do mundo, que, egoístas e arbitrários, só enxergam a si mesmos, algo que me convencia ao longo da minha vida e que é necessário tomar posições autênticas para superar crises, mesmo que isso leve tensões nas relações, e hoje esta casa vive esse momento de decisão e tensão.

Acreditei nas aulas da organização social e política que pregavam a independência dos poderes executivo, legislativo e judiciário.

Mas na vida real, na teoria derrotada pelo pragmatismo da política do toma lá da cá.

Dos ganhos imediatos, os acordos da memória curta das pessoas, mas isso não tira de nós a responsabilidade e a capacidade de nos manifestarmos contra o estabelecido.

É nesse sentido que mulheres e homens interferem no mundo, enquanto os outros animais apenas se mexem nele.

E por isso que não apenas temos história, mas fazemos a história que igualmente nos faz.

Recuso o discurso de que sempre foi assim.

Somos sujeitos do processo, somos o resultado das nossas escolhas e decisões.

O discurso da impossibilidade de mudar é o discurso de quem, por diferentes razões, aceitou a acomodação, inclusive por ter alguma vantagem com ela.

Somos os representantes do povo do Paraná.

Precisamos estar abertos ao ouvir os anseios e demandas.

Devemos nos esforçar para diminuir ao máximo a distância entre o que dizemos e o que fazemos.

É preciso ser coerente, mais ainda que ser coerente, é o final da inteireza do nosso ser.

Afinal, a coerência não é um favor que fazemos aos outros, mas uma forma ética de nos comportar.

Por isso, não sou coerente para ser compensada, elogiada, aplaudida.

Sou coerente para a minha satisfação.

Posso até perder coisas por ter sido coerente e por ser coerente.

Pouco me importa.

Mas o que eu não posso perder é a confiança em mim depositada pelos paranaenses e meu compromisso com as pessoas.

E aqui eu termino com versos da Cora Coralina:

‘Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar, ir ou ficar. Desistiram, lutar porque descobri no caminho incerto da vida que o mais importante é decidir e eu já decidi.’

Obrigada.

Uma resposta para “Márcia Huçulak, deputada da base de Ratinho Junior, faz discurso que até o PSOL faria [vídeo]”

  1. Parabéns DEPUTADA Márcia Huçulak, faz tempo que não se via um(a) político(a) da sua magnitude nas casas legislativas das três esferas públicas. Não votei na senhora, mas, hoje eu me comprometo em votar na senhora, pois, vi que o política neste nosso Estado e Brasil tem futuro, com pessoas com o caráter que a senhora tem. Fiquei muito emocionado com as suas palavras e feliz em saber que na ALEP tem uma pessoa política que está pensando na população paranaense e não no bolso como uns e outros que foram denunciados estes dias, e que tivessem vergonha na cara, depois do seu discurso, pegavam o chapéu e iam embora. Parabéns em todos os aspectos, desde do tempo em que foi Secretária da Saúde de Curitiba e hoje uma representação legítima dos paranaense na ALEP. Se for escolhida para ser Senadora pelo seu partido ou outro, TEM O MEU VOTO.

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