Ex-prefeito de Londrina mantém versão sobre propina e deixa prisão

por Edson Ferreira e Loriane Comeli, via Folha de Londrina

Ontem, Ribeiro permaneceu na sede do Gaeco por quase cinco horas. Foto: Folha.
O ex-prefeito de Londrina José Joaquim Ribeiro (sem partido) conseguiu a liberdade provisória ontem depois de passar quase cinco horas na sede do Ministério Público (MP) e afirmar, pela segunda vez aos promotores de Defesa do Patrimônio Público, que ficou sim com R$ 50 mil da propina de R$ 150 mil que pegou de empresários que forneceram uniformes para o município. O ex-prefeito também voltou a incriminar Lindomar Mota do Santos, que foi secretário de Fazenda do ex-prefeito Barbosa Neto (PDT) e ocupou o mesmo cargo em seu curto governo de 50 dias, que terminou com sua renúncia. O restante do dinheiro ficou com Barbosa.

No depoimento, Ribeiro também pede os benefícios da delação premiada e acrescenta pelo menos um fato novo em relação à s suas declarações anteriores: a suposta liberação de verbas por deputados do Rio de Janeiro para Londrina, que já é objeto de investigação do Ministério Público Federal (MPF) e teria motivado a demissão de seu secretário de Obras, Marcello Teodoro. O ex-prefeito diz ainda que utilizou a parte da propina que lhe coube para pagar dívidas de campanha, citando uma empresa de segurança, sem nominá-la.

Na decisão, o juiz da 3 Vara Criminal, Katsujo Nakadomari, considerou o parecer favorável do MP à  liberdade e entendeu que o depoimento ”traz à  tona importantes elementos de prova quanto à  organização criminosa”. O ex-prefeito deixou a Penitenciária Estadual de Londrina (PEL 2) por volta das oito da noite.

Ribeiro foi preso na quinta-feira passada em um hotel na praia de Piçarras, em Santa Catarina, enquanto estava afastado do cargo por licença médica. Ele ficou doente após prestar o primeiro depoimento ao MP, no dia 3 de setembro, numa sala do Fórum de Londrina. Dias depois Ribeiro decidiu mudar a confissão em entrevistas à  imprensa, dizendo que não havia ficado com nada. Ele chegou a negar que Lindomar tivesse recebido propina, ao afirmar que os valores teriam sido repassados ”integralmente” a Barbosa Neto.

Ontem, porém, o ex-prefeito admitiu que sabia que o dinheiro era ilícito. ”Que ao receber o valor de R$ 100 mil tinha pleno conhecimento de que não foi realizado processo licitatório, já que as empresas tinham sido beneficiadas em ata de registro de preço”, afirmou, referindo ao procedimento ”carona”. ”Este foi um fato novo que apresentou”, disse o promotor Renato de Lima Castro.

Economia

Embora o gerente financeiro da Kriswill, José Lemes dos Santos, tenha dito, em depoimentos, que houve mais entregas de propina a Ribeiro, o ex-prefeito não reconheceu isso ontem. O advogado Ricardo Flores negou outros pagamentos. ”Ele pegou R$ 150 mil, foi repassado, supostamente, R$ 50 mil ao Lindomar, R$ 50 mil ao Barbosa, e o Ribeiro pagou dívidas de campanhas, por isso eu digo que ele não se beneficiou desses valores.” A tese da defesa é de que Ribeiro não ficou com o dinheiro, tendo quitado sobras da campanha.

De acordo com o advogado de Ribeiro, Ricardo Flores, quando Ribeiro recebeu a primeira parcela, de R$ 50 mil, dos empresários, o dinheiro estava num envelope fechado e foi entregue a ele como sendo ”uma ajuda, era doação”. Questionado se o cliente tinha conhecimento da origem ilícita do dinheiro, o advogado respondeu que ”ele tinha convicção de que existia sim uma promessa de ajuda, mas dizer que havia uma ilicitude, não posso afirmar desta forma”. Sobre a entrega de R$ 50 mil a Lindomar, ”(Ribeiro) foi um boi de piranha”, disse Flores, finalizando a entrevista.

Rio de Janeiro

No depoimento, o ex-prefeito também mencionou suposta comissão a deputados do Rio de Janeiro que apresentaram emendas no valor de R$ 18 milhões para Londrina. Esse fato não é novo. Surgiu durante a investigação da operação Antissepsia, em maio do ano passado, e o que apurou-se até agora é que um assessor dos deputados teria recebido R$ 1 milhão em duas ocasiões. Os valores teriam sido entregues pelo empresário Wilson Vieira e, juntamente com o assessor dos parlamentares, estava o ex-secretário de Planejamento de Barbosa, Fábio Góes. Tal dinheiro teria vindo de um empréstimo do empresário Sérgio Malucelli ao ex-prefeito Barbosa.

Ribeiro diz ter ouvido falar sobre o envolvimento de Fábio Góes e Vieira, mas revela que, recentemente, Marcello Teodoro, lhe comunicou que recebeu a visita de empresários da construção civil ”solicitando que assumisse o compromisso de antecipar valores destinados ao pagamento a deputados federais do Rio de Janeiro, que destinariam verbas ao município para a pavimentação de parte da Avenida Saul Elkind”. Ainda segundo Ribeiro, Marcello não concordou e pediu exoneração do cargo. Não há outros detalhes no depoimento, que tem três páginas apenas.

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