Blog do Esmael, direto de Brasília – A entrevista do deputado Alexandre Curi (PSD), presidente da Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP), à Veja, foi o estopim de uma nova ofensiva política. Ao reafirmar que o governador Ratinho Júnior (PSD) é pré-candidato à Presidência da República em 2026 e declarar que trabalha para disputar o governo do Paraná, Curi consolidou o desenho da chamada “chapa da continuidade”, que já vinha sendo costurada discretamente nos bastidores.
Na conversa com a revista, o aliado mais próximo de Ratinho Júnior não apenas reforçou o projeto presidencial, como também ensaiou os contornos da sucessão no Palácio Iguaçu. “Tenho trabalhado muito para disputar o governo do Paraná”, disse Curi, ao destacar que o PSD é o maior partido do estado e que “sua maior liderança é o governador Ratinho Júnior, pré-candidato à Presidência da República”.
Nos bastidores, a entrevista foi interpretada como uma resposta ao impasse interno do PSD, sob a batuta de Gilberto Kassab, que flerta com dois caminhos antagônicos, apoiar Lula (PT) para a reeleição, mesmo que indiretamente, ou embarcar no projeto de Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP). Em ambos os cenários, a candidatura própria de Ratinho Júnior ficaria inviabilizada, razão pela qual o grupo paranaense começou a trabalhar um plano alternativo, um “seguro político”, nas palavras de interlocutores próximos a Curi.
Caso Kassab opte por apoiar outro presidenciável, Ratinho Júnior pode migrar para o Republicanos ou para o PL, conforme o realinhamento nacional da direita. O Republicanos, partido de perfil conservador e forte presença no Sul, já abriu conversas para receber o governador do Paraná. Se Tarcísio de Freitas desistir da corrida presidencial, o PL pode oferecer a Ratinho o posto de cabeça de chapa. Mas, se Tarcísio mantiver a pré-candidatura, o Republicanos se coloca como porto seguro para o projeto Ratinho-Curi.
Vamos desenhar esse quadro, uma verdadeira bruxaria partidária.
O Republicanos seria o caminho mais provável para Ratinho, caso Tarcísio permaneça na disputa e migre para o PL, como admite Curi nos bastidores.
O PL, por sua vez, vira alternativa se o governador paulista recuar da corrida presidencial e buscar a reeleição ao Bandeirantes.
De todo modo, o mandatário paranaense parece disposto ao tudo ou nada pelo Planalto.
Essa movimentação não é isolada, pois ao menos três deputados federais paranaenses — Pedro Lupion, Toninho Wandscheer e Tião Medeiros — já se preparam para trocar o PP pelo Republicanos, movimento que reforça a base do governador fora do PSD. A depender do quociente eleitoral, a legenda pode ainda atrair outros dois parlamentares do estado, ampliando o espaço de influência da dupla Ratinho-Curi.
Com Ratinho mirando Brasília, Curi se move para consolidar sua candidatura ao governo estadual. A dupla trabalha em sintonia, o governador nacionaliza seu nome enquanto o presidente da ALEP pavimenta o caminho para manter o grupo no comando do Paraná.
Nos últimos meses, Curi intensificou sua presença em eventos e entrevistas nacionais, assumindo o papel de articulador político e defensor do legado de Ratinho Júnior. O discurso da continuidade, centrado em “crescimento econômico e estabilidade”, é a base da narrativa construída pela dupla para 2026.
O plano Ratinho-Curi recoloca o Paraná no tabuleiro político nacional. Desde 2019, o estado tem se projetado como vitrine de uma gestão de direita moderada, com forte apelo empresarial e discurso técnico. A eventual migração de Ratinho para o Republicanos ou o PL pode alterar o equilíbrio das forças regionais e abrir espaço para uma reconfiguração do bloco conservador no Sul do país.
A entrevista à Veja foi mais que um gesto de lealdade, foi um ensaio de sucessão e sobrevivência. Curi revelou o roteiro, Ratinho testa o PSD, prepara a fuga para o Republicanos e calibra o discurso de presidenciável. A engrenagem política do Paraná voltou a girar em ritmo nacional, e o jogo, como costuma ocorrer na política local, será decidido entre poucos.
Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.