Chile: 50 anos do golpe ressalta luta contra um passado mal resolvido

Há momentos na história que deixam uma cicatriz profunda na memória coletiva de uma nação.

Um desses momentos é o golpe de Estado que ocorreu no Chile em 11 de setembro de 1973.

Nesse dia, as Forças Armadas, lideradas pelo general Augusto Pinochet, encerraram abruptamente o governo socialista e democrático de Salvador Allende, lançando o Chile em um período sombrio de 17 anos de ditadura militar.

O Blog do Esmael mostra os eventos que levaram ao golpe, os anos de ditadura sob Pinochet e os impactos duradouros dessa era sombria na sociedade chilena.

Salvador Allende, um médico que construiu uma carreira política ativa, foi eleito presidente do Chile em 1970.

Sua vitória marcou um momento histórico, já que ele se tornou o primeiro político socialista e marxista a chegar ao poder por meio de votação popular em um país latino-americano.

Economia

O projeto político de Allende, conhecido como a “experiência chilena”, buscava uma via democrática para o socialismo, sem recorrer à revolução armada.

No entanto, o governo de Allende enfrentou desafios significativos, incluindo uma economia polarizada, tensões internacionais da Guerra Fria e disputas dentro da própria esquerda.

Parte da Unidad Popular, a coalizão de partidos de esquerda que apoiava Allende, estava inclinada a seguir o modelo cubano e buscar uma revolução armada.

As crescentes divisões internas e o apoio dos Estados Unidos à oposição culminaram no golpe de 1973.

Em 11 de setembro daquele ano, as Forças Armadas bombardearam o Palácio de La Moneda, onde Allende se encontrava, resultando em sua morte e no início de uma ditadura militar que durou 17 anos.

Augusto Pinochet, Comandante do Exército na época do golpe, assumiu o poder e impôs um regime caracterizado pela repressão política, dissolução de partidos políticos, restrições aos direitos civis e violações dos direitos humanos.

A ditadura chilena também se destacou por sua participação na Operação Condor, uma aliança de ditaduras sul-americanas que reprimia opositores políticos, e por sua aliança com os Estados Unidos durante a Guerra Fria.

Durante a ditadura de Pinochet, mais de 40 mil pessoas foram vítimas da repressão militar, incluindo torturados, mortos e desaparecidos.

Os alvos principais eram políticos de esquerda, líderes sindicais, militantes e simpatizantes de partidos socialistas.

Centros de tortura e campos de concentração foram estabelecidos, onde atrocidades ocorreram de forma sistemática.

O fotojornalista brasileiro Evandro Teixeira testemunhou o tratamento violento contra presos políticos e foi o primeiro a fotografar Pablo Neruda morto, alegadamente vítima de envenenamento.

Os militares chilenos também implementaram políticas econômicas neoliberais, influenciadas pelos chamados “Chicago Boys”, economistas chilenos que estudaram na Universidade de Chicago.

Essas políticas incluíram a privatização de setores da economia, redução do gasto público e abertura ao mercado externo.

Embora os indicadores macroeconômicos tenham melhorado, a desigualdade social aumentou, afetando negativamente as classes mais baixas da sociedade.

Apesar da repressão, os movimentos de oposição gradualmente se reorganizaram durante a ditadura. A partir de 1983, protestos e manifestações tornaram-se comuns no Chile, culminando na redemocratização do país.

Em 1990, Pinochet deixou o poder, e uma nova Constituição foi aprovada.

O golpe de 1973 e os anos subsequentes de ditadura deixaram marcas profundas na história e na memória do Chile.

A busca por justiça, a recuperação da verdade e a superação das feridas desse período ainda são desafios presentes na sociedade chilena.

Relembrar esse passado sombrio é fundamental para a preservação da memória histórica e a garantia de que tais eventos não se repitam.

O Chile, assim como outras nações, continua a lutar contra as sombras de seu passado mal resolvido, buscando um futuro de justiça, reconciliação e democracia.

Flávio Dino representou o governo do Brasil

O ministro da Justiça, Flávio Dino, representou o Brasil nas solenidades relativas a data que marcou a história do Chile e da América Latina: os 50 anos do terrível golpe militar e da morte do presidente Salvador Allende.

Dino participou de três eventos com brasileiros e chilenos em Santiago, a capital chilena.

O ministro abordou as manifestações da extrema direita chilena e disse que o presidente Lula, no Brasil e no mundo, navega por águas turvas.

Segundo ele, o presidente brasileiro tem uma dimensão global e quando ele [Lula] vai quando vai ao G20, quando consolida e amplia os BRICs, revigora o Mercosul, as instituições multilaterais da América Latina, pratica uma diplomacia de interesses.

“Defesa do interesse nacional, abertura de mercados, mas é também uma diplomacia de valores”, explicou o ministro.

Para Flávio Dino, o presidente Lula faz uma catequese democrática no mundo em condições muito áridas, em condições muito difíceis.

“Para a gente, de repente, não se vê tentado a sair gritando por aí de que o reformismo mata socialismo”, disse ele, arrancado risos dos ouvintes, para então emendar em tom grave: “Porque perdemos nós todos.”

Os advogados curitibanos Andreia e Daniel Godoy Júnior testemunharam esses evento alusivos aos 50 anos de golpe no Chile, durante debate na Embaixada do Brasil no país andino.

“Há 50 anos, só uma coisa importava no Chile: sobreviver a um golpe feroz. Testemunhas oculares da derrubada de Salvador Allende contam detalhes do que viveram naquele 11 de setembro de 1973”, registrou Andreia Godoy.

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