A aprovação de Lula cresce com discurso de soberania após tarifaço de Trump

A mais recente pesquisa PoderData revela um movimento relevante no tabuleiro político: a aprovação do governo Lula subiu para 42% em meio aos ataques econômicos e diplomáticos de Donald Trump contra o Brasil. A desaprovação ainda é majoritária, com 53%, mas a distância entre os dois índices caiu para 11 pontos percentuais, o menor nível em mais de um ano.

A pesquisa foi realizada entre os dias 26 e 28 de julho, pouco depois do presidente dos Estados Unidos anunciar o tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros, justificando as penalidades como uma reação à forma como o Judiciário brasileiro trata Jair Bolsonaro. O movimento foi amplamente percebido como ingerência internacional, e o Planalto respondeu com um discurso firme de defesa da soberania nacional.

Lula ganha impulso no confronto com Trump

A retórica de Lula e seus ministros colou: ao apresentar o Brasil como vítima de um ataque externo, o governo conseguiu recuperar parte do terreno perdido no debate público. O clima lembra os momentos em que o país se une em torno de causas nacionais, como em disputas esportivas ou culturais. O paralelo com a campanha patriótica em torno do Oscar para o filme “Ainda Estou Aqui”, protagonizado por Fernanda Torres, é simbólico: o orgulho nacional voltou à cena.

O Palácio do Planalto apostou nessa narrativa e acertou. O ministro Fernando Haddad, por exemplo, afirmou que o Brasil não será submisso a Trump. Já a ministra Gleisi Hoffmann, da Secretaria de Relações Institucionais, acusou o deputado Eduardo Bolsonaro de trabalhar contra os interesses nacionais em solo americano. A comunicação unificada fortaleceu a imagem de Lula como defensor do país diante de ameaças externas.

Efeito anti-Trump pode se repetir no Brasil?

O avanço na aprovação presidencial, embora modesto, reabre o debate sobre a possibilidade de reeleição de Lula em 2026. Aliados do presidente enxergam semelhanças com o que ocorreu no Canadá e na Austrália, onde a retórica agressiva de Trump acabou ajudando seus adversários nas urnas, num efeito conhecido como anti-Trump.

Mas há ressalvas. A eleição brasileira ainda está a mais de um ano de distância, e o governo Lula enfrenta sérios problemas econômicos: déficit fiscal crescente, dívida pública em alta e a promessa de criar até seis novos programas sociais sem indicar cortes relevantes de gastos. A resiliência da melhora nos índices dependerá da capacidade do Planalto em reverter a crise fiscal sem perder apoio popular.

Recortes demográficos e religião revelam nuances

Segundo o PoderData, Lula vai melhor entre os jovens de 16 a 24 anos (52% de aprovação), nordestinos (50%) e pessoas com até o ensino fundamental (46%). Por outro lado, enfrenta forte rejeição entre os eleitores de 45 a 59 anos (58%), no Sul (62%), no Centro-Oeste (61%) e entre quem tem ensino superior (60%).

Na divisão religiosa, católicos aparecem divididos, com 48% de aprovação e 45% de desaprovação. Já entre os evangélicos, o cenário é de forte rejeição: 69% desaprovam e apenas 26% aprovam o governo.

O cruzamento com o voto de 2022 mostra que 73% dos eleitores de Lula continuam aprovando sua gestão, enquanto 88% dos eleitores de Bolsonaro rejeitam o governo petista.

A chance de virar o jogo

O tarifaço de Trump foi um ataque econômico, mas acabou funcionando como trunfo político para Lula. O governo soube transformar o revés internacional em oportunidade para fortalecer seu discurso interno. O sentimento de defesa do Brasil ainda mobiliza a população, sobretudo quando se trata de confronto com uma potência estrangeira. Mas essa onda pode ser passageira.

O Blog do Esmael avalia que o discurso da soberania deve ser reforçado com ações concretas: proteção à indústria nacional, integração regional na América do Sul e ampliação de mercados fora da órbita de Washington. Além disso, promover o consumo interno, por meio do aumento de crédito e redução dos juros. Só assim o presidente Lula poderá sustentar o crescimento da aprovação para além da espuma do embate retórico com Trump.

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