Ao vivo: Senado vota privatização da Eletrobras com forte oposição; acompanhe agora

O Plenário do Senado irá votar nesta quinta-feira (17/6) o relatório do senador Marcos Rogério (DEM-RO) sobre a medida provisória que trata da privatização da Eletrobras (MP 1.031/2021). O texto, que está a menos de uma semana de perder a validade, enfrenta resistências da maioria das bancadas. O Blog do Esmael transmite a sessão ao vivo para o Brasil e o mundo.

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Como o relatório só chegou às mãos dos senadores no fim da tarde, a votação foi adiada para esta quinta-feira (17/6), a partir das 10h. Os parlamentares ainda poderão apresentar emendas e destaques até as 9h. Se o Plenário aprovar a MP com mudanças, ela vai precisar voltar para a Câmara dos Deputados.

Principal alvo da desconfiança dos senadores, acréscimos feitos na Câmara ao texto original da MP foram mantidos por Marcos Rogério. Esses trechos são considerados por muitos senadores como “jabutis” (sem relação direta com o assunto). Sua inclusão é uma das principais críticas do Plenário ao projeto.

Um deles é o dispositivo que obriga o governo federal a contratar, por 15 anos, energia gerada por usinas termelétricas para as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. O relator adicionou à lista a região do Triângulo Mineiro. Marcos Rogério também manteve pontos que regulam leilões de energia e dispõem sobre obrigações das empresas estatais que precisarão ser criadas para a administração da usina de Itaipu e do setor de energia nuclear — que, por determinação constitucional, devem ficar sob controle da União.

Os parlamentares também apontam o risco de um aumento no valor das conta de luz nos próximos anos e ameaças à soberania energética do país. O formato escolhido para a proposta de desestatização — a medida provisória, que tem validade imediata e é reservada para assuntos urgentes — também desagrada.

Economia

Presidente da Comissão de Infraestrutura, o senador Dário Berger (MDB-SC) disse considerar que a MP não é oportuna no momento e não contém benefícios para o país. Ele destacou que a Eletrobras fechou o ano de 2020 com lucro líquido e tem “papel estratégico” no desenvolvimento econômico e social do país.

“Os últimos anos foram marcados por crises políticas e recessões econômicas no Brasil e no mundo inteiro. Será que é o momento adequado de privatizar uma empresa que responde por 33% da geração de energia elétrica [no Brasil] e por 43% de sua transmissão? Isso pode acarretar, inclusive, a criação de um oligopólio”, disse.

Outro problema destacado pelo senador seria o efeito da privatização sobre o controle dos reservatórios das usinas hidrelétricas. Como essas usinas são a maior parte da matriz energética do Brasil, a Eletrobras é responsável por um grande volume de recursos hídricos.

“Segundo o Código Brasileiro de Águas, antes de virar energia nas usinas hidrelétricas, a água tem outras três importantes funções: o abastecimento aos cidadãos, o abastecimento à agropecuária e o lazer. Ao conceder à iniciativa privada o controle sobre grandes usinas e reservatórios, poderemos ficar à mercê de uma alteração dessa hierarquia no uso da nossa água, especialmente em períodos de estiagem”, alertou Dário.

O líder da minoria, senador Jean Paul Prates (PT-RN), reclamou da falta de dados embasando a matéria, e elencou vários pontos sobre os quais ele acredita que não há informação suficiente para os senadores.

“O valor do controle acionário da Eletrobras não é definido, o estudo está sendo feito pelo BNDES e termina em dezembro. Temos total incerteza quanto ao impacto tarifário, o estudo que o Ministério de Minas e Energia apresentou não é sério. Os aspectos de oligopolização do setor também [são] indefinidos, o Cade não se pronunciou. [Não temos] nenhuma segurança em relação aos aspectos regulatórios e trabalhistas. As garantias da União também estão incertas”, destacou o líder.

Jean Paul alegou, ainda, que os “jabutis” provocariam uma “inflação estrutural” sobre a tarifa de energia. O assunto também foi abordado pela senadora Simone Tebet (MDB-MS), que explicou o raciocínio. Para ela, o grande risco está na contratação das termelétricas, um dos pontos criados pela Câmara dos Deputados.

“A Eletrobras e seus sócios vão ter que levar a termelétrica, poluente, para os estados distantes do gás, tendo que construir gasodutos para [a usina] chegar lá. Vão ter que devolver esse custo, de mais de R$ 20 bilhões por ano, na conta [de luz] de quem produz, do agronegócio, da indústria. A indústria não vai suportar absorver esse custo, vai jogar no preço dos produtos e, de novo, a corda vai arrebentar pelo lado mais fraco: o consumidor e todos nós vamos pagar duas vezes. Vamos pagar no preço da energia elétrica mais cara e vamos pagar nos produtos que vamos adquirir, porque estará embutido ali o preço da energia”, afirmou o senador do PT.

A bancada do Podemos apresentou requerimento para que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), considerasse impugnados os dispositivos impertinentes do projeto enviado pela Câmara. Líder do partido, o senador Alvaro Dias (Podemos-PR) adiantou que a orientação dada aos colegas é de rejeitarem a MP e disse que “não dormiria em paz” se ela passar como está.

“Nós estamos abrindo mão de comandar uma empresa extremamente lucrativa. Não podemos admitir também a substituição da energia do futuro, moderna, limpa, pela energia do passado, suja, valorizando expedientes que produzem energia mais cara, fazendo com que o consumidor pague pelo passeio da energia por longas distâncias”, disse Alvaro.

Em resposta ao requerimento, o presidente Rodrigo Pacheco decidiu não proceder à impugnação, rejeitando a possibilidade de decidir sozinho sobre o destino dos “jabutis”.

“Concordando ou não com o texto original e com as modificações que foram feitas pela Câmara, o instrumento próprio e democrático para a decisão é o Plenário do Senado”, considerou o senador do Podemos.

Ao adiar a votação para quinta-feira, Pacheco afastou a tese de que a MP estaria sendo votada sob “açodamento”, lembrando aos senadores que ela veio da Câmara no fim de maio, com mais de um mês antes do seu prazo final, e que o Senado promoveu sessão de debates sobre o tema.

Outro líder que mostrou reservas contra a MP foi o senador Nelsinho Trad (PSD-MS). Ele afirmou querer discutir o assunto, mas pontuou o fato de o relatório não ter sido disponibilizado para os senadores com antecedência antes da sessão desta quarta-feira.

“Eu nunca vi uma matéria complexa chegar sem a gente ter um relatório. Nem a nossa assessoria conseguiu ler. Como eu vou encaminhar uma votação dessas, perante os meus liderados, com a tranquilidade que a minha consciência requer? [Temos que] ter um mínimo de conhecimento de causa. Para [ajudar] nós temos que ter a colaboração daquele que quer ser ajudado.”

No seu relatório, Marcos Rogério procura abordar os pontos em que os senadores manifestaram preocupações ou discordâncias. Durante a leitura do documento, ele contou que manteve diálogos com todos os segmentos do setor elétrico e garantiu que o produto final já está alinhado com o relator da MP na Câmara, deputado Elmar Nascimento (DEM-BA).

Marcos Rogério defende o encaminhamento da privatização por medida provisória apontando que o governo federal já havia tentado fazê-la por projeto de lei, em 2019, mas a proposta não andou. Segundo o senador, o tema é urgente porque a Eletrobras vem perdendo participação de mercado nos últimos anos.

“Apesar de ser a maior empresa do setor elétrico, a atual situação da Eletrobras a impede de realizar investimentos na escala necessária para prover a expansão do setor elétrico de forma compatível com as necessidades do desenvolvimento.”

O relator disse que o argumento de que o processo atentaria contra a soberania nacional “reflete desconhecimento”, pois o setor elétrico é fortemente regulado, e explicou que o modelo escolhido para a privatização — que garante à União a golden share — vai impedir a concentração da empresa nas mãos de um único acionista privado.

Sobre a contratação das termelétricas, mantida no relatório, Marcos Rogério disse acreditar que ela se justifica por questões estruturais da distribuição energética brasileira.

“Julgamos corretas as medidas que garantem a diversificação da matriz elétrica brasileira. A atual crise hídrica vem nos alertar dos riscos causados por um parque gerador excessivamente dependente de hidrelétricas. Cabe aqui ressaltar o papel fundamental que as termelétricas cumprirão. [Ele] inclui fomentar a interiorização do gás natural. O Brasil foi aquinhoado com gigantescas reservas desse combustível, porém elas são concentradas numa pequena porção de nosso litoral.”

O líder do governo, senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), defendeu a proposta lembrando da privatização das telecomunicações, nos anos 1990, processos que “foi uma verdadeira revolução” ao expandir e baratear os serviços, segundo recordou. Para ele, o mesmo precisa ser feito para o setor elétrico, e ele classificou a iniciativa como “pensada e corajosa”.

“Nesses últimos dez anos, quantas crises de energia nós não enfrentamos? A nossa maior empresa sofreu diversas ações políticas de interferência. Apesar de toda essa presença estatal excessiva, nós não conseguimos reservar água nas nossas barragens, não investimos na energia de base para promover o desenvolvimento das termelétricas. O gás não chega para promover o desenvolvimento dos estados que vivem no interior”, argumentou o líder governista.

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O povo brasileiro vai sentir na pele, de maneira imediata, o resultado da transferência do controle da Eletrobrás para a iniciativa privada, caso prevaleça o desejo do governo Bolsonaro. O aumento das tarifas é inevitável e o consumidor vai arcar com o aumento das tarifas. O alerta é de especialistas, que estiveram reunidos na Comissão de Meio Ambiente do Senado nesta terça-feira, para tratar dos impactos da medida provisória 1031, que está na pauta de votação do Senado.

A audiência foi conduzida pelo senador Jean Paul Prates (PT-RN), líder da Minoria no Senado, que alertou sobre os riscos da privatização da Eletrobrás. É no bolso do consumidor que vai pesar a venda da empresa. Ele lembrou que hoje a estatal vende energia a R$ 65 por 1 mil Megawatts-hora (preço de custo), o que deixará de ocorrer após a privatização.

“A MP afeta toda a sociedade brasileira”, alerta o senador. “A modelagem proposta descomissiona as principais usinas da base, permitindo que cobrem R$ 140 em vez de R$ 65. Então é evidente que o custo extra será repassado ao consumidor final. E isso é agravado pela criação de reservas de mercado em algumas fontes. Se segurarem as tarifas no primeiro ano, não conseguirão no segundo”.

Ele advertiu que é temerário que o Senado aprove a medida provisória sem promover um debate de alto nível, no momento em que o Brasil volta a correr riscos de apagões e racionamento, o que não ocorria há 20 anos. Para o parlamentar, o país já sofre devido à ausência de planejamento estatal no setor elétrico desde 2016, quando o governo Dilma foi deposto por um golpe parlamentar. Ele diz que a MP 1031, como está, reforça mecanismos de ausência de coordenação nacional sobre o sistema energético.

Ex-ministro das Minas e Energia no governo Lula, Nelson Hubner lembrou que nos Estados Unidos e no Canadá o setor elétrico está na mão do Estado, que atua para evitar “tarifaços”. Ele alertou que o controle dos recursos hídricos brasileiros vai passar ao capital privado, caso a medida provisória seja aprovada pelo Senado, o que é temerário. “No Canadá, a região de Quebec, onde o controle dos recursos hídricos é estatal, o preço da energia chega a ser um terço de outras regiões do país”, lembrou. “Nos EUA, 73% da energia hídrica é estatal. Só o Exército controla 20%. Os estados americanos com a energia mais cara são os da fronteira norte com o Canadá e a Califórnia, que são controlados por companhias privadas”, comparou.

“O tarifaço vai ser grande e abusivo, até a Aneel admite. Em 2016, uma nota da Aneel calculou um aumento de 20% já de cara”, alertou o dirigente Fernando Fernandes, do Movimento por Atingidos por Barragens (MAB). “Abriremos mão do controle da maior empresa energética da América Latina. Estimativas calculam que o valor de mercado da Eletrobrás é de pelo menos R$ 400 bilhões, podendo chegar a R$ 1 trilhão. E o governo quer entregar por R$ 60 bilhões”, denunciou.

Clarice Ferraz, do Instituto Ilumina, rebateu a versão de que a Eletrobrás não tem condições de realizar novos investimentos. “A Eletrobrás tem R$ 15 bilhões em caixa e, graças a seus bons indicadores financeiros, pode tranquilamente alavancar mais R$ 40 bilhões”, lembrou. “Tem total condições de realizar novos investimentos. Desde 2019, já distribuiu R$ 7,6 bilhões só em dividendos”.

O ex-ministro das Minas e Energia denunciou que a Eletrobrás deixou de fazer investimentos depois do Golpe de 2016, quando a presidenta Dilma Rousseff foi afastada do governo pelo impeachment sem crime de responsabilidade. Dois anos depois, a Eletrobrás foi incluída no Plano Nacional de Desestatização (PND). Segundo Hubner, só em 2020, o lucro da empresa chegou a quase R$ 6,5 bilhões.