Ratinho só pensa nos mais ricos, diz deputado do PT

Deputado Enio Verri e no detalhe, “Beto Rato” — segundo o PT.
O deputado Enio Verri (PT-PR) afirma que o governador do Paraná, Ratinho Junior (PSL), só pensa e só governa para os mais ricos no estado.

Segundo o articulista, o filho do apresentador Ratinho do SBT faz o jogo dos latifundiários ao despejar milhares de famílias pobres dos acampamentos paranaenses.

O parlamentar petista denuncia ainda que 16 mil famílias produtivas e pobres se encontram acampadas no interior do estado e estão ameaçadas de despejo.

Verri arremata escrevendo que “é impossível a alguém alegar que não percebe para quem Ratinho governa, senão para uma minoria para quem a maioria deve ser, eternamente, mão de obra cada vez mais barata e sem direitos, para aumentar ainda mais a concentração de renda.”

Leia a íntegra do artigo:

Enio Verri*

Economia

O sr. governador, Carlos Massa Ratinho Júnior, desde janeiro, não deixa dúvidas de que governa para uma minoria, uma pequena elite improdutiva, que vive do rentismo e da especulação. Resta saber da grande maioria dos paranaenses onde ela se encontra na frase recém-cunhada pelo ministro da economia, Paulo Guedes, segundo a qual os ricos capitalizam seus recursos e os pobres consomem tudo. Se, a maioria dos paranaenses tem condições de investir parte de seu rendimento em aplicações financeiras, ou aquisição de bens, de fato, Massa Jr. governa para a maioria. Porém, a realidade é que, para a maior parte da sociedade, a renda quase não chega ao fim de cada mês, consumida quase toda ela em alimentação, moradia e transporte coletivo. Apesar de ter consciência, o governador não se importa com o tamanho dos erros político e econômico que comete com os pouco inteligentes despejos contra acampamentos de trabalhadores rurais sem terra. Não basta dizer que se trata de uma decisão judicial. O governador tem poderes de interferir para mediar o conflito, em nome da dignidade humana, da justiça e da economia do estado, contra a qual o governador está deliberadamente atentando para defender latifúndio improdutivo.

Desde janeiro, já são oito o número de despejos de acampamentos que existem há décadas sobre terras declaradas improdutivas e destinadas à reforma agrária. São dezenas de milhares de famílias que veem destroçados profundos laços com a sociedade dos municípios onde existem. Crianças, jovens e adultos frequentam as escolas disponíveis. A produção de leite, arroz, feijão, milho, carnes, aves entre os mais de 75% dos tipos de produtos que a agricultura familiar serve à mesa de todos os munícipes, é parte significativa da receita corrente municipal. A política implantada por Ratinho vai ao encontro do apoio que recebeu dos ruralistas, nas eleições. Entre os latifundiários beneficiados com os despejos há quem deva mais de R$ 600 milhões aos brasileiros e já foi flagrado produzindo com mão de obra análoga à escravidão. O governador entende que, tirando de quem gera riqueza e empregos, para entregar a quem manterá a terra improdutiva é política de um estadista.

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O resultado dessa política desastrosa será a acomodação nas periferias das cidades do Paraná de aproximadamente 16 mil famílias produtivas e pobres, que se encontram acampadas no interior do estado e estão ameaçadas de despejo. A conjuntura só não revela mais nitidamente o governo plutocrata de Ratinho porque existe uma imprensa venal que não se peja de se prontificar a serviço de alguém, independentemente da realidade dos fatos. Durante o ano, houve reuniões entre o governador e os trabalhadores rurais, junto com entidades como a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), no sentido de encontrar um caminho para evitar os despejos. Sem ação efetiva que refreasse as ações, centenas de crianças de vários acampamentos foram à Praça Pública, numa sessão na Assembleia Legislativa do Paraná, mostrar à sociedade que elas têm direito à dignidade de um lar, de manterem seus estudos onde estão os acampamentos e que suas famílias são grandes produtoras dos alimentos.

Os movimentos sociais sabem que Ratinho não cumpre a palavra e ninguém espera que ele se sensibilizasse com as crianças explicando o obvio. Porém, aparentemente, a sociedade paranaense também ignora. Os despejos não vão parar nas 50 famílias recém-despejadas do acampamento Ester Fernandes, em Alvorada do Sul. O uso deliberado da força para destituir as famílias de seu meio de produção, apenas aprofunda e intensifica o conflito contra a injustiça fundiária. É aterrador perceber que passa ao largo dos interesses dos paranaenses uma política de um governo passageiro que vai gerar mais pobreza e violência. É difícil e até temeroso imaginar o que ainda falta o governador fazer para mexer com a indignação da sociedade paranaense. Porém, é impossível a alguém alegar que não percebe para quem Ratinho governa, senão para uma minoria para quem a maioria deve ser, eternamente, mão de obra cada vez mais barata e sem direitos, para aumentar ainda mais a concentração de renda.

*Enio Verri é economista e professor licenciado do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e está deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores do estado do Paraná