Globo pega na propina

A Globo pagou propina para adquirir direitos de transmissão de campeonatos de futebol, segundo a delação do empresário argentino Alejandro Burzaco afirmou, durante depoimento em Nova York nesta terça (14). Se empregarmos a mesma “convicção” que a emissora empresta às delações da lava jato no Brasil, presume-se, também, que as delações ocorridas hoje em Nova York igualmente sejam verdadeiras. Ou seja, não há presunção de inocência para a Vênus Platinada.

Os repórteres Ken Bensinger e Alexandre Aragão, do portal de notícias BuzzFeed News, lembram que é a primeira vez que a maior empresa de mídia brasileira é citada no caso da Fifa. A emissora nega, por meio de nota, envolvimento no pagamento de propina por direitos de transmissão.

As investigações estão a cargo da Justiça norte-americana, por meio da juíza Pamela K. Chen.

Como foi dito aqui antes, esses dias não têm sido nada fáceis para a Globo. Primeiro, o racismo de Willian Waack, depois a ofensa aos poloneses. Agora o propinoduto dos Marinho para fazer a bola rolar e encher os cofres com anunciantes. Resta sabermos “quanto” e “por onde” foram pagos os valores.

Abaixo, leia a íntegra da reportagem do BuzzFeed:

Globo pagou propina por direitos da Libertadores e da Sulamericana, diz delator do caso Fifa

Economia

É a primeira vez que a maior empresa de mídia brasileira é citada no caso. A emissora nega.

por Ken Bensinger, BuzzFeed News Reporter w

Alexandre Aragão, Repórter do BuzzFeed News, Brasil

Delator no caso de corrupção da Fifa, o empresário argentino Alejandro Burzaco afirmou, durante depoimento em Nova York nesta terça (14), que a Globo pagou propina para adquirir direitos de transmissão de campeonatos de futebol.

O delator disse que, em junho de 2012, participou de um jantar no restaurante Tomo Uno, em Buenos Aires, com a presença do então presidente da CBF, José Maria Marin; do atual ocupante do cargo, Marco Polo Del Nero; e do então diretor de Esportes da Globo, Marcelo Campos.

Na ocasião, segundo Burzaco, o grupo acertou que os pagamentos de propina feitos em decorrência dos direitos de transmissão das copas Libertadores e Sulamericana — que antes eram destinados a Ricardo Teixeira — seriam divididos, dali em diante, entre Marin e Del Nero.

É a primeira vez que o maior conglomerado de mídia do Brasil é envolvido diretamente no escândalo, que se desenrola desde 2015. Burzaco ainda não detalhou as acusações — o depoimento ainda está acontecendo. A emissora nega as acusações e diz que “não pratica nem tolera qualquer pagamento de propina” (leia a íntegra ao final do post).

O ex-executivo da Globo Marcelo Campos e o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira tinham uma relação próxima. Eles eram, inclusive, vizinhos em um sítio na cidade de Barra do Piraí, no interior fluminense.

Ex-presidente da produtora Torneos, também conhecida como TyC, Burzaco negociava com os canais de televisão os direitos de transmissão, tanto na Argentina como em outros países da América Latina.

O empresário está colaborando com a investigação, que é liderada pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos, e pagou US$ 112 milhões de multa. Ele afirmou em seu depoimento à juíza Pamela K. Chen que a Torneos, junto com emissoras de TV, pagou propinas para assegurar direitos de transmissão.

Além da Globo, o argentino citou a Fox Sports — atual detentora dos direitos de transmissão da Copa Libertadores no Brasil, por exemplo — e a mexicana Televisa dentre as emissoras de televisão que teriam feito parte do esquema.

Segundo Burzaco, a Fox Sports pagou US$ 3,7 milhões pelos direitos de transmissão da Libertadores e da Sulamericana. No Brasil, o canal é dono dos direitos para transmitir a competição, que sublicencia para a Globosat, desde 2012, quando estreou por aqui.

O BuzzFeed News não conseguiu contato com a Fox Sports, mas, em outras ocasiões, a emissora negou irregularidades.

Até agora, a principal empresa brasileira envolvida no escândalo da Fifa era a Traffic, empresa de mídia cujo dono, José Hawilla, também fechou acordo com as autoridades dos Estados Unidos. Ele concordou em pagar US$ 151 milhões a título de indenização.

Em sua delação, Hawilla acusou a cúpula da CBF — incluindo o atual presidente, Marco Polo Del Nero — de receber propina em troca dos direitos de transmissão de campeonatos nacionais. O empresário, que é dono da TV Tem, afiliada da Globo no interior de São Paulo, não citou outras empresas de mídia em sua delação.

Ricardo Teixeira e José Maria Marin

Em seu depoimento, Burzaco disse que o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira recebeu US$ 600 mil por ano, desde 2006, a título de propina dos contratos de transmissão da Copa Libertadores e da Copa Sulamericana, torneios organizados pela Conmebol.

Segundo o empresário, Teixeira recebia os pagamentos em contas no Oriente Médio, na Ásia e em Andorra. Os pagamentos chegaram a ser viabilizados, segundo o argentino, pelo próprio Teixeira. “Nós tinhamos problemas constantes com bancos que não queriam enviar dinheiro a esses destinos exóticos”, disse Burzaco.

O BuzzFeed News não conseguiu contato com a defesa de Teixeira. Em entrevista concedida ao jornal Folha de S.Paulo, em junho, o ex-cartola negou ter recebido dinheiro ilegal.

Outro ex-presidente da CBF, José Maria Marin, também foi acusado pelo argentino de receber propina. Ele está em prisão domiciliar em seu apartamento na Trump Tower, em Nova York, e é réu na mesma ação em que o argentino testemunhou — mas, ao contrário de Burzaco, o brasileiro nega ter recebido dinheiro ilegal.

Leia a íntegra do posicionamento da Globo.

Sobre depoimento ocorrido em Nova York, no julgamento do caso Fifa pela Justiça dos Estados Unidos, o Grupo Globo afirma veementemente que não pratica nem tolera qualquer pagamento de propina. Esclarece que após mais de dois anos de investigação não é parte nos processos que correm na Justiça americana. Em suas amplas investigações internas, apurou que jamais realizou pagamentos que não os previstos nos contratos. Por outro lado, o Grupo Globo se colocará plenamente à disposição das autoridades americanas para que tudo seja esclarecido. Para a Globo, isso é uma questão de honra. Não seria diferente, mas é fundamental garantir aos leitores, ouvintes e espectadores do Grupo Globo que o noticiário a respeito será divulgado com a transparência que o jornalismo exige.

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