“Sistema S”: um antro de golpistas falidos e de sonegadores de impostos

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Bruno Meirinho (PSol), tal qual o cientista, disseca na coluna de hoje (10) a principal entidade do “Sistema S” — a famigerada FIESP — onde localizou um antro de indignados que exibem sua própria decadência e sua má-fé. Segundo o colunista, que nomina alguns diretores, a entidade bancada com dinheiro público não tem donos de indústria entre a cúpula — a começar pelo presidente Pato Skaf, “sem indústria” desde o início dos anos 2.000. Meirinho prossegue afirmando que outros ou são falidos e conhecidos sonegadores de impostos ou banqueiros que estão em organização errada. Mas eles têm unidade quando o assunto é golpe de Estado. Leia, comente, compartilhe a íntegra do texto abaixo:

FIESP, uma federação de industriais sem indústria

Bruno Meirinho*

Recentemente, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), tornou-se a principal representante do “ativismo” golpista no cenário da crise política brasileira. Ao financiar manifestações pró-impeachment e proferir discursos acirrados contra o governo, mobilizando uma campanha de gosto duvidoso com a insígnia “não vou pagar o pato” que tem um inflável pato de borracha como símbolo, a FIESP foi convertida em símbolo de uma sociedade indignada.

Mas a sociedade indignada aí representada não passa de uma parcela dos bem-nascidos, que movem indignações ao sabor de preconceitos. A revolta dessa parte da sociedade é contra questões triviais das políticas sociais, por exemplo, e suas posições políticas não eram novidade: já estavam insatisfeitos antes mesmo do começo deste segundo governo.

Economia

No meio dessas vozes, destaca-se a de Paulo Skaf, presidente da FIESP, que deve se julgar um dos mais perfeitos representantes da parte da sociedade que cria a riqueza usufruída pela outra parte da sociedade.

Mas já há mais de uma década, Paulo Skaf é famoso por ser um “sem-indústria”, muito embora seja presidente da maior federação de empresários industriais do Brasil. Sim, é verdade, Skaf faliu a indústria têxtil de sua família já no ano 2.000, como apontou uma coluna do Josias de Souza na Folha de S. Paulo em 2004 (Novo presidente da Fiesp é um “sem-indústria”).

Na época, o jornalão queria provar que Skaf, um industrial favorável ao então governo Lula, não passava de um empresário mequetrefe. Mas hoje, depois de mudar de lado, as verdades sobre Skaf tornam-se um inconveniente a ser esquecido.

O presidente da FIESP pode ostentar a posição de empresário industrial graças aos favores de amigos, que lhe cedem espaço nos conselhos de suas empresas, apenas para que não fique tão evidente que Skaf não passa de um despossuído com dívidas com a previdência social.

Resolvi ainda fazer um exercício: considerando que provavelmente Skaf não era o único falido sem-indústria na FIESP, resolvi examinar os demais membros de sua diretoria. Consultando diversos diretores da FIESP, é surpreendente que uma entidade desse porte esteja tomada por empresários falidos ou alheios às atividades industriais. Vou mencionar aqui alguns nomes.

A FIESP tem, entre seus vice-presidentes, Josué Christiano Gomes da Silva, filho do ex-Vice-presidente da República, José de Alencar. A empresa da família é a Coteminas, que já há algum tempo agoniza em crise. Estaria seguindo o exemplo de Skaf?

Outro vice-presidente da FIESP é Dagmar Oswaldo Cupaiolo, proprietário da “indústria” Café Lourenço. Ocorre que já há 20 anos, a empresa mudou de ramo e se especializou no comércio e locação de máquinas de café que são fabricadas por outras indústrias. Seria, portanto, um empresário do comércio ou dos serviços, e não da indústria.

Claro, de outro lado há na diretoria da FIESP figuras como Benjamin Steinbruch, que possui um papel relevante na siderurgia. Steinbruch, no entanto, também é um banqueiro. Seria mais legítimo na Febraban? No mais, Benjamin não tem muitas condições de reclamar da ética dos outros, já que os negócios de sua família encontraram muita atenção no episódio do HSBC Leaks, que vazou dados de contas secretas do HSBC na Suíça. Nas informações divulgadas, apurou-se que a família Steinbruch era dona da maior fortuna de nacionalidade brasileira naquele banco. Até hoje, o clã se recusa a dar explicações a respeito do dinheiro escondido por lá.

De certa forma, os indignados da FIESP exibem sua própria decadência e sua má-fé. Não são, certamente, os praticantes das condutas mais ilibadas, tampouco exemplos de personalidades dinâmicas e produtivas. Na sua maioria, são empresários que se encastelaram na burocracia da federação patronal e têm consumido os recursos públicos da entidade. A falta de legitimidade da FIESP está para além da questão de classe. Poderíamos dizer ser que nem mesmo os industriais têm sido representados na FIESP.

*Bruno Meirinho é advogado, foi candidato a prefeito de Curitiba. É o coordenador local da Fundação Lauro Campos, instituição de formação política do PSOL. Ele escreve no Blog do Esmael às sextas-feiras sobre “Luta e Esperança”.

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