Ouvi uma grande psicanalista dizer que, ao contrário do que supomos, o homem é o mais irracional dos animais. Afinal, nunca se viu uma girafa delirante, nem um elefante capaz de alucinar. Quando se trata da desrazão, estamos no topo da cadeia evolutiva.
Como qualquer bicho, sentimos medo. Uma emoção que produz uma resposta fisiológica para a fuga ou para a luta. E, no campo da convivência humana, o medo pode produzir também a raiva, a covardia, a mentira, o desejo de vingança e outras atitudes antissociais.
O medo da prisão fez 314 deputados votarem a favor de uma Proposta de Emenda Constitucional apelidada de PEC da Blindagem — e rebatizada pela sabedoria popular de PEC da Bandidagem. Os deputados resolveram alterar a Constituição Brasileira para protegerem a si próprios, em total desconexão com o povo que deveriam defender. Para fugirem das garras da Justiça, por terem cometido infrações no uso de verbas públicas e outros delitos, querem se abrigar na caverna de uma imunidade pétrea.
O mesmo medo da prisão fez 311 deputados votarem pela urgência na tramitação da proposta de anistia aos golpistas que, entre 2022 e 2023, tentaram derrubar a democracia no Brasil. Os deputados agiram por medo, porque a pauta da anistia foi moeda de troca para o avanço da PEC da Bandidagem, na selva de chantagens que rege a fauna de parlamentares.
Uma amnestía que significa esquecimento: a negação da memória (a-mnémon) de uma tentativa de golpe atestada pelo Supremo Tribunal Federal. Um crime que os deputados preferem fingir que não ocorreu, porque o medo produz a covardia e a mentira.
O medo de passar 27 anos enjaulado, condenado por golpe de Estado e outros crimes, causou em Jair Bolsonaro uma resposta fisiológica de soluços, vômito e pressão baixa. Muitos brasileiros — que não se esqueceram da atuação irresponsável de Bolsonaro durante a pandemia, fazendo chacota das vítimas de COVID-19 e imitando o modo como elas sufocavam por falta de oxigênio — se sentiram um pouco vingados, ao ver o ex-presidente fragilizado como seus parentes e amigos que adoeceram. Porque o medo da morte também pode produzir o desejo de vingança.
O medo da ruína de sua família causou no deputado Eduardo Bolsonaro a dupla resposta de fuga e de luta. Patriota engajado no crime de lesa-pátria, ele fugiu para os Estados Unidos, onde luta para que o governo americano imponha sanções (e outros ataques) ao Brasil, em retaliação pela condenação de seu pai.
Ausente do trabalho há meses, o deputado-fantasma conta com a fauna parlamentar para não perder o cargo: numa manobra canina, sua matilha o indicou para o papel de líder da Minoria na Câmara, o que evitaria sua punição por ter faltado a mais sessões do que é permitido pelo regimento.
O medo faz cair as máscaras, mesmo dos homens mais poderosos. Por trás do terno e da gravata, o bicho está nu. Mas o povo brasileiro, por óbvio, também sente medo. E muitas vezes, raiva. Só precisa decidir, agora, se sua resposta vai ser de fuga ou de luta.
(Transcrito do PÚBLICO-Brasil)
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