Nunca poucos roubaram tanto

Veio à minha cabeça um instigante artigo do empresário tucano Ricardo Semler, articulista da Folha, que no auge da finada Lava Jato, em 2014, teve a coragem de escrever que “Nunca se roubou tão pouco” no Brasil. Ele anotara que os percentuais de propinas tinham caído em relação ao tempo do regime militar, que governou o país entre 1964 e 1985.

No auge do fetiche anticorrupção –contra Lula e o PT–, a velha mídia corporativa torcia o nariz para a evasão de R$ 1 trilhão promovida pelos mais ricos. Hoje, esse valor atualizado seria de R$ 2 trilhões.

Semler dizia por experiência da própria empresa da família, em 40 anos, que vender para Petrobras dependia de pagamento de propina. Ele registrou que o percentual era “até em Paris sabia-se dos ‘cochons des dix pour cent’, os porquinhos que cobravam 10% por fora sobre a totalidade de importação de barris de petróleo em décadas passadas.”

Os milicos pediam propina de 10% na época da ditadura e no período da Lava Jato falava-se em um por cento (1%), uma diminuição e tanto no pixuleco.

Leia também

Agora peço licença a Ricardo Semler para fazer um trocadilho, quase sete anos depois: Nunca poucos roubaram tanto.

A suspeita de que a vacina indiana Covaxin foi superfaturada em até 1.000% indicam que os velhos tempos, dos militares, estão de volta. A trama de personagens cavernosas revelam várias patentes buscando sua parte no butim. Essa questão é objeto de investigação na CPI da Covid no Senado.

Economia

O Estadão foi preciso em seu registro neste domingo (4/47) ao afirmar que Centrão e militares estão no foco das suspeitas de corrupção no governo Bolsonaro.

“As suspeitas de corrupção na compra de vacinas contra a covid-19 envolveram, até agora, militares do Exército e apadrinhados do Centrão, duas sólidas bases de sustentação do governo de Jair Bolsonaro.” Bingo.

Bolsonaro prometera voltar aos velhos tempos, da ditadura, quando a corrupção corria solta mas não se podia noticiar. O regime militar escondia os podres do poder dos generais.

Resumo da ópera: Nunca poucos roubaram tanto.