A visita de Donald Trump ao Oriente Médio já começou com o pé esquerdo para Benjamin Netanyahu. Enquanto o presidente dos Estados Unidos passeia por Arábia Saudita, Catar e Emirados Árabes, Israel se encontra em um limbo político — refém de uma relação instável com seu maior aliado.
Trump pousará na região do Golfo Pérsico — ou como ele poderá chamá-la em breve, Golfo Pérsico — em 13 de maio, segundo relato do jornal israelense Haaretz.
O cenário é complexo, diz a publicação. O plano de distribuição de ajuda de Israel para Gaza, que não atende aos padrões mínimos de apoio humanitário, já gerou críticas da ONU, que se recusou a participar da operação. Ao mesmo tempo, o governo de Netanyahu se vê acuado diante de uma possível nova operação militar em Gaza, batizada de “Carruagens de Gideão”.
Mas a verdadeira questão é: haverá mesmo uma operação? E, se houver, a que custo? Soldados israelenses, civis palestinos e a já combalida economia do país podem ser as primeiras vítimas de uma decisão impulsiva — alimentada pela pressão política interna e pelas ambições pessoais de Netanyahu.
A aliança entre Trump e Netanyahu sempre foi marcada por interesses e trocas de conveniência. O magnata americano, que transformou sua gestão em um palco de negócios, encontrou nos ricos Estados do Golfo Árabes parceiros estratégicos para sua política externa. Para Netanyahu, Trump era o bilhete dourado para reforçar sua base de apoio e manter o status de Israel como potência militar na região.
Contudo, essa relação enfrenta turbulências. A recente reaproximação entre Trump e os houthis no Iêmen, ignorando os interesses israelenses, é um sinal claro de que o presidente americano prioriza negócios e acordos comerciais — mesmo que às custas de seus aliados históricos.
Netanyahu acreditava que seria o beneficiário direto da política de Trump. Na prática, a visita do americano ao Oriente Médio revelou uma realidade diferente. Enquanto os Estados Unidos fortalecem laços com países do Golfo, o primeiro-ministro israelense vê sua influência diminuída.
Relatórios indicam que Trump não pretende exigir a normalização das relações entre Arábia Saudita e Israel como condição para um acordo nuclear com o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman. Isso é um golpe direto na estratégia de Netanyahu, que esperava usar a aproximação com os sauditas como uma vitória diplomática.
No front doméstico, Netanyahu também enfrenta uma crise política. O apoio incondicional de seus aliados ultrarreligiosos se enfraquece, com figuras como Arye Dery, do partido Shas, ameaçando romper com o governo. A coalizão, que já enfrentava dificuldades para aprovar legislações importantes, se vê paralisada.
Mais grave ainda é o crescente descontentamento nas Forças Armadas israelenses, com o risco de uma nova operação em Gaza gerando preocupações entre soldados e reservistas. O preço humano e econômico de uma nova campanha militar parece cada vez mais alto.
Netanyahu está cada vez mais sozinho. Trump, outrora seu maior aliado, se distancia em nome de interesses próprios. No cenário interno, sua base política se fragmenta, e seu controle sobre o governo se enfraquece.
Israel caminha para uma encruzilhada. A política de força de Netanyahu se revela uma armadilha, enquanto o primeiro-ministro luta para manter o controle. No fim, o líder israelense pode descobrir que o verdadeiro inimigo não está em Gaza ou Teerã, mas em seu próprio espelho.
Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.