Moraes reage a sanções de Trump com acusação de traição

Alexandre de Moraes acusa aliados de Bolsonaro de traição e promete julgamento da trama golpista ainda em 2025

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), rompeu o silêncio nesta sexta-feira (1º) e reagiu com dureza às sanções impostas pelo governo de Donald Trump. Em discurso de reabertura do semestre judiciário, classificou a articulação bolsonarista que levou ao seu enquadramento na Lei Magnitsky como “covarde, mentirosa e miliciana”, e apontou que há provas materiais de crimes cometidos contra o Estado brasileiro.

A fala teve como principal alvo o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), apontado como articulador da pressão nos EUA contra Moraes. O magistrado não o citou nominalmente, mas referiu-se aos “foragidos que não tiveram coragem de continuar no território nacional” e que agora atuam para “induzir, instigar e auxiliar práticas nefastas” contra ministros, suas famílias e a democracia brasileira.

“Traição à pátria” e organização criminosa

Moraes foi direto ao classificar a ofensiva internacional como “atos executórios de traição ao Brasil”. Segundo ele, trata-se de uma “organização criminosa miliciana” que repete no exterior o mesmo modus operandi de acampamentos golpistas e ataques às instituições ocorridos entre 2022 e 2023. “Acham que estão lidando com gente da laia deles, mas estão lidando com ministros da Suprema Corte brasileira”, disparou.

O ministro ainda acusou essa rede de tentar gerar artificialmente uma crise econômica e social no país, por meio de lobby por sanções comerciais, como a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros anunciada por Trump, com o objetivo final de criar instabilidade e abrir caminho para novo golpe de Estado.

Julgamento da trama golpista ainda em 2025

Moraes confirmou que pretende julgar ainda neste ano todos os quatro núcleos da denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre a tentativa de golpe de 2023, incluindo o núcleo central liderado por Jair Bolsonaro (PL). A previsão é que o caso envolvendo diretamente o ex-presidente seja pautado já em setembro.

Ao longo do discurso de 30 minutos, o relator fez questão de dizer que “não haverá rendição institucional” e que o STF “seguirá ignorando as sanções políticas ou econômicas impostas por governos estrangeiros”.

Barroso e Gilmar também reagem

O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, endossou a posição de Moraes com um desagravo público e afirmou que “o papel da Justiça é impedir a volta ao passado”. Barroso destacou que todos os réus do processo da trama golpista estão sendo julgados com base em provas, incluindo vídeos, textos e confissões, e que o Judiciário brasileiro age com independência e imparcialidade.

Gilmar Mendes, por sua vez, associou as sanções de Trump à pressão de big techs americanas sobre o STF. Ele afirmou que empresas de tecnologia fazem “lobbies poderosos” contra decisões que limitam conteúdos ilegais ou nocivos. “Este Supremo não se dobra a intimidações”, reforçou.

O que é a Lei Magnitsky?

A sanção contra Alexandre de Moraes foi imposta pelos Estados Unidos com base na chamada Lei Magnitsky, um dispositivo legal que permite à Casa Branca aplicar restrições a estrangeiros acusados de corrupção ou violações de direitos humanos. Na prática, pode incluir o bloqueio de bens e a proibição de entrada no território americano.

Embora as punições tenham efeito jurídico limitado no Brasil, o impacto político é profundo, e reacende o embate entre bolsonaristas foragidos no exterior e os ministros do STF.

O que pensamos

A reação de Moraes escancara a escalada institucional do conflito entre o Judiciário brasileiro e aliados de Bolsonaro no exterior, em plena campanha pela desestabilização do sistema democrático. A retórica de “traição à pátria” e “milícia digital” não é apenas simbólica: marca um novo patamar de enfrentamento político com consequências jurídicas.

O recado do ministro é claro: não haverá anistia para os golpistas, estejam eles em Brasília ou na Flórida. O julgamento das ações penais deve se tornar um divisor de águas para a democracia brasileira, e um alerta para quem aposta na repetição da história.

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