Lula subiu o tom no telefonema de 40 minutos com Donald Trump, ao propor uma cooperação inédita para sufocar os braços financeiros do crime organizado internacional e acelerar a retirada de tarifas americanas. Faria Lima, tremei-vos.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) telefonou às 12h de Brasília para o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, nesta terça-feira 2/12. Ambos classificaram a conversa como produtiva e acertaram novas rodadas de diálogo.
O Planalto celebrou a remoção da sobretaxa de 40% que atingia carne, café e frutas brasileiras, mas Lula avisou que a conta não fecha enquanto outros itens continuarem bloqueados. O presidente insistiu que o Brasil quer “avançar rápido” num acordo comercial mais amplo, com queda adicional de tarifas.
A virada política do telefonema, porém, veio com o alerta sobre finanças criminais.
Lula detalhou a Trump que operações recentes da Polícia Federal e da Receita Federal rastrearam remessas, offshores e triangulações usadas por facções e sonegadores contumazes. Ramificações saem do Brasil, passam por empresas de fachada e desembocam em paraísos fiscais nos Estados Unidos.
Horas antes do telefonema, Lula recebeu no Planalto a apresentação que o secretário da Receita Federal, Robinson Barreirinhas, fez sobre as fraudes bilionárias do Grupo Refit. Foram identificados R$ 72 bilhões movimentados em um ano por meio de offshores em Delaware, estado americano usado para ocultação de lucros e simulação de investimentos estrangeiros.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já havia defendido uma mesa permanente com Washington. Ele e o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, classificam o esquema como “triangulação internacional gravíssima”, com indícios de que empréstimos fictícios abastecem fundos que retornam ao Brasil como aportes simulados.
Enquanto os oligarcas seguem apontando o dedo para as facções nas favelas do Rio, onde ocorreu a matança que chocou o país, Lula sustenta que o verdadeiro crime organizado opera nos escritórios refrigerados da Faria Lima, movendo fortunas por offshores, fundos suspeitos e esquemas de sonegação que drenam bilhões do Estado brasileiro. É esse fluxo clandestino, e não o varejo do tráfico, que o presidente quer desmontar com a cooperação dos Estados Unidos.
Trump, segundo relatou em sua rede social, gostou da conversa. Disse que teve um “diálogo muito bom”, que “gosta de Lula” e que vê “muitas coisas boas” na parceria recém-formada. Reforçou a “total disposição” dos EUA para atuar ao lado do Brasil no enfrentamento às organizações criminosas, às tarifas e às sanções aplicadas a autoridades brasileiras.
O republicano também lembrou que ambos estabeleceram uma relação desde o encontro na ONU e afirmou esperar um novo contato em breve.
Fontes do Itamaraty enxergam um movimento diplomático relevante: Lula atrela comércio e cooperação criminal num mesmo pacote. E pressiona Washington a agir sobre Delaware num momento em que os EUA buscam reforçar credenciais de combate a crimes transnacionais.
No entorno de Lula, a avaliação é que o presidente tenta virar a chave das tensões dos últimos meses, alinhando economia e segurança para mostrar protagonismo regional diante de Trump.
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Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.




