Gleisi e Hugo Motta pactuam isenção do IR até R$ 5 mil e taxação dos super-ricos

Lula e Gleisi colocam IR na linha de frente

No apagar das luzes desta segunda-feira (5), a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, publicou um vídeo comemorando a instalação da comissão especial que vai analisar a ampliação da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais — promessa de campanha de Lula (PT) e aposta do Planalto para oxigenar sua base junto à classe trabalhadora.

A comissão será oficialmente instalada nesta terça-feira (6), às 14h, na Câmara dos Deputados. O colegiado vai discutir o Projeto de Lei 1087/2025, que aumenta a faixa de isenção e ainda prevê taxação de altos salários e lucros de empresas e bancos.

Motta sinaliza acordo: “vai passar”

O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), foi enfático: “O Congresso vai aprovar sim, ela [a proposta] é boa”. Mas alertou que não pode ser “danosa para a economia”. A chave da equação está nas compensações.

Para tapar o buraco fiscal, o governo propôs cobrar mais de quem ganha acima de R$ 50 mil por mês e de grandes conglomerados. “Outras saídas podem ser encontradas, como cobrar um pouco mais de bancos e de pessoas jurídicas”, reforçou Motta.

Entre as sugestões em debate, está a criação de uma alíquota de 10% sobre lucros e dividendos superiores a R$ 50 mil mensais — incluindo remessas ao exterior, atualmente isentas de IR.

Comissão será comandada por Rubens Júnior e Lira

O deputado Rubens Pereira Júnior (PT-MA) vai presidir a comissão especial, enquanto a relatoria ficará com o ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), numa costura política que mostra o tamanho do interesse do governo na pauta.

A instalação do grupo ocorre em meio a discussões sobre a retirada da urgência constitucional do projeto, justamente para evitar o “trancamento” da pauta do Plenário e dar tempo para negociações. A expectativa é que o texto vá a votação no segundo semestre, após cerca de dois meses de debates.

Proposta inclui novo modelo para a tabela do IRPF

A reforma prevê:

  • Isenção total para quem ganha até R$ 5 mil mensais;
  • Desconto parcial e progressivo para quem recebe até R$ 7 mil;
  • Manutenção da tabela atual para rendimentos acima disso;
  • Taxação de 10% sobre lucros e dividendos acima de R$ 50 mil por mês;
  • Redutor para evitar bitributação, com tetos de alíquotas conforme o setor:
    • 45% para bancos
    • 40% para seguradoras
    • 34% para demais empresas

A estimativa da Consultoria de Orçamento da Câmara é de que estados e municípios podem perder até R$ 2,9 bilhões em arrecadação com a nova faixa de isenção — o que reacende a polêmica sobre o pacto federativo.

IR progressivo x justiça tributária

A proposta recoloca o debate sobre justiça fiscal no centro da arena política. O governo busca desonerar os que ganham menos, enquanto pressiona o topo da pirâmide a pagar mais — em linha com princípios progressivos da tributação.

Com mais de 70% de apoio popular, segundo pesquisas recentes, a medida torna-se uma vitrine política para o governo Lula. Mas, sem acordo sobre a compensação da renúncia fiscal, o sonho pode emperrar na engrenagem do Congresso.

Reforma popular do IR

A batalha pelo novo Imposto de Renda está oficialmente aberta. O governo Lula coloca o tema como símbolo de justiça social, e Gleisi Hoffmann articula com habilidade para manter a promessa de campanha viva.

Com o apoio de Hugo Motta e o Centrão na relatoria, o caminho está pavimentado — mas cheio de armadilhas fiscais e políticas.

Se passar, será uma das maiores reformas populares do IR desde a redemocratização.

Para acompanhar cada passo da tramitação, continue no Blog do Esmael: esmaelmorais.com.br

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