França x Marrocos: tudo sobre o duelo que vale a final na Copa do Mundo; onde assistir ao vivo

Regragui: ‘O duelo na semifinal não diminui o meu amor pela França’

O comandante de Marrocos nasceu no país europeu e tem ligação próxima com o futebol local. Mas deixará tudo isso de lado nesta quarta-feira

Seleção de Mbappé vai em busca da segunda final consecutiva da Copa do Mundo. Já Marrocos, depois de superar Espanha e Portugal, quer seguir fazendo história e alcançar a decisão

  • O técnico de Marrocos nasceu na França e jogou por cinco clubes diferentes no país
  • Ele diz que será um jogo “especial para as pessoas mais próximas e sua família”
  • Também fala ainda sobre a sua admiração pelo ex-colega de Grenoble, Olivier Giroud

A inédita presença do Marrocos na semifinal da Copa do Mundo resultou em uma enxurrada de emoções. Walid Regragui, o homem que conduziu os representantes africanos ao confronto desta quarta-feira, diante da França, sabe isso melhor do que ninguém.

Para começar, ninguém sentiu isso tanto quanto ele na própria pele. É o que ilustra uma resposta do treinador após a vitória das quartas de final sobre Portugal.

“Acho que foi a primeira vez que chorei por um jogo de futebol”, apontou. “Não durou muito, mas a emoção foi tão forte que não consegui me controlar.”

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Outra noite de fortes emoções aguarda o técnico de 47 anos no Estádio Al Bayt, nesta quarta-feira. Afinal de contas, a França é seu “segundo país”, como ele mesmo declarou. Ele é nascido em Corbeil-Essones, bairro da região sul de Paris, iniciou a carreira no Racing Paris e passou a maior parte de sua trajetória esportiva em solo francês, passando por Toulouse, Ajaccio, Dijon e Grenoble, onde cruzou com o ainda jovem Olivier Giroud.

Nesta entrevista, o técnico de 47 anos conversa sobre o sentimento de enfrentar a França, sua admiração por Giroud e o papel que as mães de seus jogadores têm tido na campanha marroquina na Copa do Mundo.

Pergunta: Qual a sensação de enfrentar os atuais campeões mundiais?

Walid Regragui: É um grande desafio para nós. Já enfrentamos o atual vice-campeão (a Croácia) e os terceiros colocados (a Bélgica), então praticamente todas as melhores seleções do mundo. Este agora talvez seja o nosso maior desafio. Nós os respeitamos e vamos dar o nosso melhor, assim como temos feito desde o início da competição, para criar uma surpresa porque, obviamente, se conseguirmos este feito, será uma surpresa.

Você cresceu na França e jogou por muito tempo no futebol francês. Quão especial é esta partida para você?

É mais especial por causa das pessoas que amo, minha família e meus parentes. Tem sabor especial para mim também, já que sou francês também e cresci na França. Contudo, tenho tentado escapar deste debate e pensar só no futebol. Sou o técnico do meu país para enfrentar o meu segundo país, digamos assim, e o objetivo é vencer a França. É um jogo de futebol e não passa disso, e isso de nenhuma forma tira meu amor pela França.

Você fez história com o Marrocos como jogador ao chegar à final da Copa Africana de Nações em 2004. Agora você está a um passo da final da Copa do Mundo. Qual a sensação?

É incrível, porque quando você joga futebol enquanto criança você ama este esporte. E todos nós somos ambiciosos em algum grau, você tem o desejo de entrar para a história e escrever um capítulo da história do futebol do seu país. Mas admito que é indescritível ter feito parte da última final (do Marrocos) na Copa Africana de Nações como jogador – isso foi quase 20 anos atrás – e levar meu país às semifinais da Copa do Mundo, vivenciando essas emoções com este povo e com estes torcedores.

Pode falar do seu ex-companheiro no Grenoble, o Olivier Giroud?

O Olivier é um jogador resiliente. Foi complicado para ele já desde o começo, mesmo no Grenoble, mas ele nunca desistiu. Eu tenho acompanhado ele de longe e, nesse meio tempo, talvez tenha falado com ele uma vez pelo telefone para dar parabéns. O que ele realizou é incrível e ele merece. Considerando o curto período que jogamos juntos, posso dizer que ele é um cara ótimo, de valores. Quando você tem valores, além de um ótimo coração, como o Giroud, e quando você trabalha duro… estou muito feliz com o que ele tem realizado.

Você pode falar sobre a importância que a presença das famílias dos jogadores tem tido para vocês?

Eu acho que animou os jogadores. Veja, como somos no norte da África, somos muito próximos das nossas famílias, principalmente nossas mães. Isso é uma coisa que só nós entendemos. Ficar longe das nossas mães é sempre difícil. A relação amorosa que temos com elas é forte, então achei que seria muito importante em uma competição como a Copa do Mundo, que acontece a cada quatro anos, que elas também vivenciassem isso com os filhos.

Elas não estão o tempo todo com a gente no hotel, obviamente, mas sabemos que elas não estão longe. Mantemos contato e nos encontramos nos dias de jogo. Conforme acordamos, cada vez que eles ganham podem passar três ou quatro horas com as mães para poder comemorar com elas. Acho que isso dá energia para eles.

Falando das comemorações, qual a sensação de ser jogado no ar pelos seus comandados ao final da partida?

Nós ficamos simplesmente felizes. Você entra em transe nessas horas. Compartilhamos coisas e estávamos felizes de estar juntos. O fato de eles terem me levantado não foi importante para mim. A coisa mais importante para mim foi ver que eles estavam felizes, que puderam ficar perto das famílias na arquibancada e que comemoramos juntos. Isso mostrou o espírito de equipe.

Por fim, você tem uma mensagem para os torcedores do Marrocos?

Sabemos que eles vão nos apoiar amanhã. Seja aqueles que vieram a Doha, seja aqueles que assistirão no Marrocos. Vamos dar o nosso melhor, como sempre. Vamos ter fé em obter um bom resultado, e eles também terão. Pelo que eles têm feito desde o início da competição, apoiando a equipe toda, agradeço demais. Ainda não acabou, se Deus quiser. O próximo passo será amanhã.

Confiança e eficiência são os segredos de Deschamps para uma possível segunda final

Atual campeão mundial, técnico da França está a uma vitória de disputar mais uma decisão do torneio

FIFA
  • Os comandados de Didier Deschamps disputarão a segunda final consecutiva se derrotarem o Marrocos
  • O italiano Vittorio Pozzo é o único treinador bicampeão mundial, feito conquistado em 1934 e 1938
  • O técnico francês ressalta a importância da confiança no seu elenco

Vittorio Pozzo conquistou duas Copas do Mundo seguidas à frente da Itália na década de 1930. Didier Deschamps está a dois jogos de repetir o feito com a França. Só não espere ouvi-lo insistir nessa possibilidade.

Quando o assunto surgiu durante uma entrevista antes da semifinal contra o Marrocos, nesta quarta-feira, a resposta do treinador francês foi relativamente breve. “É um grande homem que realizou algo grande. Bom para ele”, disse Deschamps. “Se você quiser fazer uma comparação, eu só [cheguei] às semifinais por enquanto. Precisamos pensar sobre a semifinal com o Marrocos.”

A réplica é compreensível, mas o técnico de 54 anos evidentemente conta com mais acertos do que erros: campeão mundial como jogador em 1998; campeão mundial como treinador em 2018; e agora novamente na briga por um lugar na final no Catar. Aliás, a França é o primeiro campeão mundial a chegar às semifinais desde o Brasil em 1998.

Perguntado se está fazendo a coisa certa, Deschamps apontou para a criação de uma boa dinâmica fora de campo. “Passo bastante tempo com a minha comissão, então eu converso com os meus jogadores coletivamente e individualmente”, explicou ele. “Para mim, o mais importante é manter todo mundo dentro dessa dinâmica e passar bastante tempo com os jogadores que não atuam. Às vezes conversamos, outras vezes fazemos reuniões. Também temos conversas durante o dia. Eu não tenho um escritório onde possa recebê-los um a um, então temos uma relação alicerçada na confiança, que é importante existir entre os jogadores e eu.” Os jogadores de Deschamps concordariam. “Falando de maneira geral, eu acho que ele é um treinador que faz de tudo para que os jogadores se sintam à vontade”, afirmou o defensor Jules Koundé. “Quanto à sua abordagem, ele é claro quanto ao que espera de cada jogador. Isso permite que os jogadores se sintam integrados, seja jogando muito ou pouco. Temos especialmente uma ideia clara do que o treinador espera de nós, então eu acho que esse é um dos seus pontos fortes.” O zagueiro Raphael Varane também elogiou o treinador francês. “Para mim, a maior qualidade do Didier como técnico é a capacidade de formar um grupo, de usar as qualidades de todos em prol de uma meta coletiva, além de colocar o time acima de tudo e usar as suas qualidades rumo à meta coletiva”, analisou Varane.

O que Deschamps busca acima de tudo, ao que parece, é eficiência. Esta certamente é uma maneira de resumir a suada vitória nas quartas de final contra uma Inglaterra que esteve melhor durante boa parte do segundo tempo, antes do gol da vitória marcado por Olivier Giroud a 12 minutos do fim do tempo regulamentar.

“Sempre há momentos importantes e decisivos”, disse ele. “Obviamente quando o time marca gol, mas há outros momentos quando o time enfrenta dificuldades, e você deve ser eficiente. O futebol é uma questão de eficiência. Quando chegamos à zona ofensiva e também à zona defensiva, uma grande equipe deve ser capaz de atacar corretamente e de defender corretamente.”

O adversário da França na semifinal é o Marrocos, que ostenta a melhor defesa do torneio com apenas um gol sofrido – e ainda assim, um gol contra.

“Os marroquinos têm um time que defende muito bem, mas eles não são só defensivos, do contrário não teriam chegado às semifinais”, disse Deschamps.

“Eles também têm algumas armas ofensivas, mas com uma base defensiva, que é bem organizada e bastante racional. Com isso eles têm habilidade, porque os jogadores de ataque como [Youssef] En-Nesyri, [Hakim] Ziyech ou [Sofiane] Boufal podem criar problemas para os adversários. Eles dominam a sua arte, assim como qualquer outra grande equipe que está nas semifinais. Eles têm a habilidade de defender muito bem, com certeza. Eles defendem corretamente.”

“O Marrocos certamente é a melhor equipe em termos de defesa, embora, conforme eu disse, os marroquinos estão aqui porque também conseguem fazer gols.”

Em suma, um grande obstáculo aguarda os franceses no Estádio Al Bayt – e as comparações com Vittorio Pozzo também podem esperar mais um pouco.

Sabiri e o sonho de Marrocos: “Espero que possamos conquistar algo ainda maior”

Meio-campista marroquino Abdelhamid Sabiri antes da semifinal histórica contra a França, nesta quarta-feira.

  • Abdelhamid Sabiri tem sido um dos destaques de Marrocos na Copa
  • Marrocos se tornou a primeira seleção africana a chegar às semifinais
  • Sabiri revelou as razões para o sucesso da surpresa do Catar 2022

Para grande parte dos marroquinos, um simples beliscão no braço não funcionará mais. Se antes muitos torcedores ainda acreditavam estar sonhando, após a série de feitos incríveis da seleção no Catar tudo se tornou permitido.

Um dos que sonham alto – até mais do que a maioria – é o meia Abdelhamid Sabiri. “Existe sempre um sonho que você guarda para si mesmo”, contou o meia. “E, como você não pode decidir o que sonha, de repente se vê sonhando em ganhar a Copa do Mundo.”

Por outro lado, Sabiri reconhece que é preciso valorizar a realidade. “Ao acordar, você pensa: ‘Ok, vamos passo a passo'”, acrescentou. “Mas chegar às semifinais é algo enorme para o Marrocos. Nunca antes uma seleção africana havia chegado às semifinais. Claro, também era o nosso objetivo – queríamos fazer algo histórico nesta Copa do Mundo. E, sim, espero que possamos conquistar algo ainda maior.”

No entanto, para que os sonhos de Sabiri se realizem no Catar, será preciso superar um desafio dos mais complicados. Isso porque na semifinal, a atual campeã França – liderada por um espetacular Kylian Mbappé, pelo polivalente Antoine Griezmann e pelo recordista Olivier Giroud – chega como ampla favorita. Nada que assuste Sabiri e uma seleção marroquina que já se acostumou a superar gigantes do futebol.

Pergunta: Abdelhamid, o que significa para você chegar a uma semifinal de Copa do Mundo?

Abdelhamid Sabiri: Para mim, é uma sensação incrível. Saber de onde venho, de um pequeno vilarejo chamado Goulmima – pequeno até para os padrões do Marrocos – e agora chegar a uma semifinal de Copa do Mundo, é simplesmente incrível. Tenho orgulho de fazer parte disso e agradeço a todos que me apoiaram ao longo do caminho.

Marrocos fez história ao se tornar a primeira seleção africana a chegar a uma semifinal de Copa. Você já conseguiu assimilar o que isso representa para a África e também para o mundo árabe?

Sim, como jogadores, conversamos sobre isso, sobre o que estamos fazendo agora. Porque a maioria dos jogadores – como eu – não consegue realmente compreender (o tamanho da conquista). Fazer isso por todos os povos árabes e pelo continente africano é uma coisa incrível. Como disse antes, estou feliz e muito animado por fazer parte disso.

Muito do sucesso desta campanha se deve ao seu treinador e a como ele prepara a equipe para cada jogo. Você pode descrever a maneira como ele cuida dos detalhes e como elabora o plano de jogo para enfrentar cada adversário?

Não acho que tenhamos um plano (diferente) para cada adversário. Temos o nosso plano de jogo, e o mais importante é se manter fiel ao nosso sistema. Sempre jogamos bem defensivamente, como todos estão vendo. Sofremos apenas um gol – um gol contra -, então o trabalho que temos feito na defesa é perfeito. No ataque, sempre teremos nossas chances e tentaremos aproveitá-las. O treinador nos dá confiança para praticar um bom futebol.

Como vencer os atuais campeões mundiais?

Claro que a França é uma ótima seleção, mas Portugal, Espanha, Bélgica e todos as outras que enfrentamos nesta Copa do Mundo também eram. Como sempre, iremos para o jogo sabendo que eles são os favoritos por terem mais história do que nós no futebol. Mas, para nós, isso não importa – entramos em campo para vencer, para vencer por nosso país e por todas as pessoas que torcem por nós.

Onde assistir ao vivo França x Marrocos

TV Globo e TV Fifa (gratuitamente)

Horário: 16h

Estádio Al Bayt

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